domingo, março 07, 2010

Outra vez Angola.

Todos os meus alunos, os leitores dos meus textos e os seguidores das minhas intervenções públicas sabem que coloco Moçambique como o país da Lusofonia com maior potencial de crescimento quando pensamos a pelo menos uma dúzia de anos de distância. No entanto, no curto prazo e nos próximos dois, três ou quatro anos voltaremos a sentir o apelo irresistível de Angola.




A retoma da economia mundial será uma inevitabilidade, ainda que possa não recuperar rapidamente o ritmo de crescimento que existia antes da crise financeira, pois os Estados Unidos e a Europa tenderão a crescer agora de forma mais lenta enquanto a Ásia e alguns dos mais dinâmicos países emergentes aumentarão a sua fatia no bolo da riqueza global.



A retoma significa também um aumento da procura nos principais mercados, mais rápida do que o aumento da oferta com a consequente pressão inflacionista. Esta realidade significa que os portugueses, enquanto consumidores, pagarão o petróleo mais caro, mas significa simultaneamente uma excelente notícia para Angola, cuja massa monetária em circulação depende largamente das receitas do petróleo. Assim, a economia de Angola voltará a gozar de enorme liquidez financeira pelo que brevemente voltaremos a ter as empresas portuguesas que se estavam a retrair quanto a este mercado, especialmente pelos prazos médios de pagamentos deteriorados dos últimos dois anos, a voltarem em força a querer explorar este mercado. Utilizo a expressão explorar e não investir porque ainda existem demasiadas empresas que vêem Angola apenas como uma fonte de resolução dos seus problemas de curto prazo em Portugal, mas não conseguem olhar para Angola (ou Moçambique) como, verdadeiramente, o seu primeiro mercado de actuação.



Assim, podemos perspectivar o retomar da debandada para Angola e do desejo de entrada nesse mercado privilegiado, mas continuarão a ser apenas algumas, em geral as maiores e os grupos económicos, a definirem estratégias coerentes para a actuação no mercado africano baseado na criação de valor a longo prazo.

1 comentário:

rui seybert p ferreira disse...

Meu Caro Prof,

se há uma coisa que aprendi no INSEAD é que 'cash is king'. E que Angola têm, e vai têr por muito tempo, mais cash que Moçambique está claro também.

O que quem desconhece África não se apercebe, é que o sucesso e as possibilidades, em por exemplo Angola e Moçambique, não dependem tanto dos que investem lá mas dos próprios países.

Cabe aos países receptores de investimento criarem condições para receberem investimento a médio e longo prazo. Eles são soberanos no seu território.

Caso não criem essas condições, e tanto Moçambique e Angola ainda não o fizeram, não se pode esperar que capital privado assuma uma visão de médio ou longo prazo.

Se eu fosse accionista de uma empresa a investir em Angola, e o seu Administrador Delegado investisse com um horizonte de mais do que 3 anos, eu ficaria muito nervoso.

Afinal são os privados que vivem do 'cash is king'. Já se esqueceu das dezenas de empresas que deixarm de receber as suas facturas porque não há USD em Angola para os pagar? Acha que o banco português que financiou essa empresa em Portugal está interessado com a imposição repentina e imediata de controles de capitais? O que eles querem é o pagamento da letra ou da conta caucionada.

É óbvio que com inponderáveis deste género, não se pode investir a médio e longo prazo. Conheço alguns investidores alemães em Angola, e os alemães muito se prezam pela sua visão, que também não o fazem.

Se as empresas portuguesas o fariam com todas as condições dadas? Bom, essa é outra história...=)!