quinta-feira, março 18, 2010

Ben Bernanke

Artigo de Opinião



Mário Fernandes
Universidade Lusófona *

Há alguns meses atrás pudemos assistir à declaração do presidente norte-americano, Barack Obama, para dar luz verde à continuidade de Ben Bernanke como responsável máximo da Reserva Federal norte-americana, FED. Apesar de ainda faltar o apoio do senado americano, e ao que tudo indica, Ben Bernanke irá ver, assim, o seu mandato renovado para os próximos quatro anos. Se por um lado nenhum presidente de um qualquer banco central deseja que seja no seu mandato que ocorra uma das maiores crises financeiras e económicas que o mundo presenciou, então também não será menos verdade que Ben Bernanke poderá, finalmente, respirar de alívio pelo facto desta crise não ter tido o desfecho da depressão dos anos 30. As próprias estatísticas do FED, bem como do Banco Central Europeu, liderado pelo homólogo Jean Claude Trichet, mostram que a recuperação da actividade económica já está ao virar da esquina, atendendo que se registaram, pela primeira vez desde há muito, um inverter da tendência de recessão técnica, particularmente, a nível europeu, com motores da economia do velho continente como a Alemanha e a França. Deste modo, o evitar de um transformar de uma crise para uma depressão e a retoma da economia americana foram os principais trunfos de Ben Bernanke para a permanência à frente da Reserva Federal. Ainda neste campo, um dos outros argumentos do presidente Obama prendeu-se com as expectativas da renovação de Ben Bernanke perante os agentes e mercados. Porém, reúnem-se algumas vozes críticas face a Bernanke; segundo alguns analistas norte-americanos, a credibilidade do presidente da Reserva Federal norte-americana foi bastante afectada atendendo ao facto deste ter, alegadamente, demorado tempo demais a intervir nos mercados financeiros norte-americanos. É certo que as ajudas completamente astronómicas ao sector financeiro americano chocaram os cidadãos, contudo, a situação assim o exigia. Num país em que urge uma necessidade de fundo de renovar por absoluto o sistema de saúde, por exemplo, muitos não conseguiram conter a revolta face aos montantes galácticos gastos para o sector bancário não cair de novo, o que seria a derrocada final do sistema capitalista. Ben Bernanke reagiu e os resultados estão a chegar. Muitos dos que criticaram Alan Greenspan por falta de intervenção nos mercados, como Paul Krugman, laureado com o prémio Nobel da Economia em 2008, não o deverão fazer agora com Bernanke.


Noutro plano agora, resta-nos aguardar que FED vamos ter na afirmação da retoma económica, na questão de crescimento económico de médio e longo prazo e, não menos importante, a nível dos reajustes dos mecanismos de supervisão do mercado em conjunto com a CTC, entidade de regulamentação dos mercados cambiais e também monetários e financeiros.

Além do mais, Ben Bernanke poderá ser o homem ideal para o rejuvenescer da motor da economia global devido ao seu percurso académico, manifestamente vocacionado para o estudo e análise das crises monetárias que abalaram o mundo, a grande depressão da década de 30, que, mais do que nunca, esteve perto de reaparecer senão fosse a resposta do FED liderado por si mesmo, e também a crise japonesa da armadilha da liquidez, crise essa que foi apontada por diversos analistas mundiais como a próxima etapa negra da economia americana.

Verdade seja dita, Ben Bernanke, aquando a sua chega ao FED, foi confrontado com uma situação potencialmente catastrófica cedida pelo seu antecessor, Alan Greenspan, que, apesar de ter sido considerado uma lenda diante os banqueiros centrais, e segundo Paul Krugman, uma das vozes mais críticas a Alan Greenspan, terá reagido demasiado tarde nos mercados financeiros, nomeadamente ao tardar no aumento das taxas de juro de referência do FED e, com isso, compactuando no aumento significativo dos índices das bolsas norte-americanas.


* Investigador do Observatório Lusófona de Actividades Económicas (OLAE) - Centro de Investigação da Universidade Lusófona

2 comentários:

rui seybert p ferreira disse...

Não concordo nada com esta moda corrente de desfazer o pretígio e o trabalho generacional de Alan Greenspan, de o fazer o bode expiatório de tanta gente e instituições que andaram a dormir ou conscientemente a ignorar os factos à sua frente. Já se esqueceram do discurso dele contra a 'irrational exuberance' e do pedido dele ao Congresso de melhor supervisionar as FannieMae e os brokers de hipotecas?

Concordo com uma coisa: Ele não percebeu a tempo, o risco de liquidez no mercado interbancário devido à excessiva colateralisação das linhas de exposíção para derivados entre as mais diversas instituições financeiras. Foi um fenómeno que foi preciso vêr para acreditar e têm tudo a haver com os enormes avanços dos sistemas informáticos no mundo financeiro.


Prof., eu voluntario-me para uma sessão de debate à moda da Churchill Society da Universidade Católica e eu assumo a defesa do caro Alan...=)

Quero alojamento e viagem paga com uns petiscos pelo meio, claro!

Anónimo disse...

Caro,

De facto, cada um poderá, e muito bem, ter opiniões diferentes acerca do trabalho da condução da política monetária nos EUA enquanto Alan Greenspan foi presidente e dirigente máximo do FED.

Se, de facto, Alan Greenspan ocupou durante tanto tempo tal cargo, algo de positivo terá feito. E aqui ninguém irá retirar esse mesmo mérito. De facto, durante esse longo mandato, Alan conseguiu estabilizar a inflação e apenas presenciou duas (pequenas) recessões americanas.

Porém,temos, também, o reverso da medalha, nomeadamente o facto deste não ter-se apercebido de uma hipotética bolha no mercado de capitais. Aliás, até se apercebeu, pois, num congresso de economia até usou a famosa expressão "exuberância irracional" para classificar o que se passava nesse mesmo mercado. O que fez para evitar uma bolha com tal magnitude?
Nada ou quase nada! Assim, exigia-se bastante mais a quem era tão reputado como um dos banqueiros mais importantes e influentes do mundo.
Fora esta mesma bolha que, mais tarde, veio a desencadear as demais bolhas, quer no mercados imobiliário, quer nos mercados financeiros. Assim, seriam necessárias medidas de precaução, nomeadamente através das alterações nas taxas nominais de juro praticadas pelo FED, de modo a tentar "esvaziar" a dita bolha.

Será o suficiente para retirar todo o mérito ao trabalhado anterior de Alan Greenspan? Essa é sim a questão em que poderemos divergir.

Abraço,

Mário