segunda-feira, março 15, 2010

O TGV dos Portugueses

Artigo de Opinião











Rui Filipe Cardoso Pedro








Numa semana marcada pelo PEC, discute-se novamente o adiamento do TGV por mais dois anos, para além dos dois já anteriormente previstos, devido ao lado espanhol, ou seja, se tudo “correr” como agora é previsto em 2017 teremos o TGV.

Como é sabido, são as grandes obras públicas por parte dos Governos que fazem reanimar as economias dos países, contudo o TGV, é na minha opinião uma obra que não vai deixar de ser isso mesmo, GRANDE, mas que não reanima a economia e apenas a irá afundar ainda mais, pelas razões que irei descrever.

No Século XIX, Portugal construiu a sua linha férrea, a chamada bitola, igual à de Espanha para facilitar as suas trocas comerciais com o parceiro mais directo e com quem faz fronteira, porém o resto da Europa foi construindo a sua linha férrea ao longo dos anos e transformando-a para uma linha que tem por nome de Bitola Internacional, ora a Bitola Ibérica (que tal como o nome indica, existe na Península Ibérica) é 27 cm mais larga que a Bitola Internacional. Esta diferença de bitolas deve-se principalmente às Invasões Napoleónicas. Com o passar do tempo e com a chegada da Globalização, houve cada vez mais a necessidade de transportar mercadorias desde Portugal para o resto da Europa, sendo que, nos dias que correm, devido as linhas férreas entre Espanha e França serem diferentes existe um aumento do custo de mercadorias para compensar o custo de transacção de um comboio de uma linha (bitola ibérica) para o comboio de outra linha (bitola internacional), que é feito actualmente em Irun, aumentando o tempo de transacção e o custo de vida de cada português.

O TGV, obra que é prometida pelo Governo para o transporte de passageiros e que exclui mercadorias, pode vir a ser um erro tremendo que vai custar muito caro a Portugal. A vizinha Espanha, que tem uma bitola igual à nossa, já anunciou pelo seu Ministro das Obras Públicas a transformação imediata de 12.000 Km’s de linha férrea para a bitola internacional e os restantes Km’s em processos faseados, ligando-se mais rapidamente à Europa por três canais para França e diminuindo exponencialmente os seus custos de transacção.

Assim, actualmente encontra-se o seguinte:

• Exportações de Portugal:

o Espanha: 453 Mil Toneladas

o União Europeia: 8 Toneladas

• Importações de Portugal:

o Espanha: 449 Mil Toneladas

o União Europeia: 0 Toneladas

• Circulação de Mercadorias no Território Português:

o Via Rodoviária: 290 Milhões de Toneladas

o Via-Férrea: 10 Milhões de Toneladas



Perante estes dados, como é possível Portugal estar preocupado com um TGV que exclui mercadorias, quando devia de ser reestruturada toda a linha férrea Portuguesa? Existe sempre Prós e Contras, tal como o programa televisivo, mas neste assunto parece obvio que a aposta numa linha férrea de bitola internacional reforçada, que suportasse mercadorias, ganhasse mais força quando não existem preocupações nesse sentido, em vez disso, está estruturado existir uma linha férrea nova (que não suporta mercadorias), onde irá passar o TGV, apenas para passageiros, ficando ao lado, uma outra linha para mercadorias com bitola ibérica, mas mercadorias com quem? Se o custo que temos para exportar para França, por exemplo, é o que vamos passar a ter para exportar para Espanha e outros países da Europa, sendo que vamos ter que passar a ter um carregamento de um comboio que vem de Portugal, para um comboio que depois seguirá por Espanha, ou seja, o procedimento existente na actual cidade de “Irun” passará a ter que ser na fronteira de Portugal com Espanha.

Assim, é minha convicção que em vez da compra de TGV’s, que servem apenas para o transporte de passageiros, algo que os Alfa’s já fazem e os Aviões também, deverá ser feita uma transformação à linha férrea Portuguesa, ou seja, o investimento realizado na transformação da actual linha, tendo em conta a actual conjuntura económica do País, tem um maior e mais rápido retorno na economia, proporcionando uma maior rentabilidade, desenvolvimento económico e outras actividades, como por exemplo, o turismo.

Num futuro próximo, o que iremos ter, como rede de transportes ferroviários na Península Ibérica será algo deste género, com a Espanha com a sua rede totalmente de bitola internacional e Portugal a ligar Espanha apenas por duas redes de bitola internacional. Espanha, como se pode ver na imagem ao lado, terá uma das maiores redes ferroviárias do mundo.

Se é verdade que o TGV irá diminuir o tempo de transporte entre cidades, também é verdade que irá diminuir o número de camionistas das estradas se fosse aplicado para mercadorias. Melhor do que uma auto-estrada rodoviária, uma “auto-estrada” ferroviária, diminui o tempo de transporte e o custo que se tem actualmente no preço dos combustíveis. Empresas do sector automóvel, como a Autoeuropa e outras, estariam mais perto da Europa e a probabilidade de saída de Portugal diminuiria com os seus custos de transporte a serem reduzidos. Para além das empresas que se mantêm, Portugal poderia novamente voltar a ser competitivo com as Empresas Europeias, levando um custo inferior se fosse feita esta modernização. O caso dos portos de Sines e Setúbal, principalmente o de Sines, poderia ser a porta da Europa, retirando muitas mercadorias que são transportadas por barcos até ao norte da Europa, ou seja, as mercadorias se fossem deixadas em Portugal levariam um custo menor e poderiam ser mais rapidamente distribuídas pela Europa, bem como a recepção de mercadorias a serem exportadas.

No que toca ao Turismo, que tinha sido anteriormente referido, a possibilidade de turismo via-férrea era uma realidade que se vê praticada em Espanha e não existe em Portugal. Em Espanha é muito comum a substituição de um Cruzeiro por um passeio de comboio. O reaproveitamento de algumas linhas antigas e a sua restauração, algo que em Portugal se foi passando a usar cada vez menos, tem criado alguma riqueza e dinamismo à economia do país vizinho.

Assim, é minha crença que em vez de um Portugal Global, voltará a ser um Portugal Orgulhosamente sós!

10 comentários:

Alhandraias disse...

Concordo com o texto. Se bem que, no meu ponto de vista, bem mais preocupante que isso será o TGV pós construção. Segundo relatos de especialistas que tenho lido e ouvido, o TGV apenas irá autosustentar-se ao nível do seu funcionamento. E quem pagará tão avultado investimento na construção num país que se individa a larga escala dia após dia? acho que aqui sim reside o grande problema.

Cumprimentos

Ricardo Porém

Cumprimentos

Anónimo disse...

Num momento actual em que o investimento público voltou a ser um conceito utilizado em qualquer parlamento, por um qualquer governo, este tem que ser abordado com o devido cuidado.

Os efeitos do investimento público são, geralmente, bastante positivos como estimulante dos agentes económicos e, por conseguinte, da própria economia, em especial quando se utiliza a óptica mais favorável para o ciclo política, isto é, a óptica de período curto.

Para além do interesse político partidário (pelo menos por parte daqueles que têm representação governativa), existe também um aproveitamento de gerações, no sentido em que as gerações vindouras são, usualmente, as mais sacrificadas.

Deste modo, a condução e formulação da política orçamental terá de ser, no mínimo, bastante cuidadosa. No fundo, para os mais minimalistas, esta é a questão da dicotomia período curto vs período longo. Porém, é muito mais que isso.

Curiosamente, só temos a possibilidade de olharmos para o investimento público como um instrumento orçamental porque, em momentos passados, houve um cuidado relativo ao “tamanho” da dívida pública. Será isso que estamos a fazer actualmente? Claro que não! E quando me refiro a esta questão, não me refiro somente ao TGV e à sua construção; refiro-me, também, ás demais obras públicas, como esta em causa, desta dimensão e magnitude perante o recurso ao financiamento que irá conduzir Portugal a endividamento marginal ou adicional.

Aliás, foram os responsáveis à data, do horizonte temporal compreendido do Portugal “orgulhosamente só”, que, com toda a certeza do mundo, nada contribuíram para o cenário de endividamento trágico com que a economia Portuguesa se encontra.

Ainda relativamente ao Portugal orgulhosamente só, e por uma questão de defesa dos valores, nobres e universais, como a verdade e a honra, o(s) governantes desse período do Portugal “orgulhosamente só”, e parafraseando o Prof. Doutor Jaime Nogueira Pinto, foram aqueles que permitiram que Portugal registasse “o maior crescimento económico de sempre e os maiores índices de desenvolvimento económico” de todo o século.

Abraço,

Mário

rui seybert p ferreira disse...

Admiro a paciência, o tacto e a racionalidade analítica deste contributo.

Embora formado e até razoalvelmente bem formado, eu gosto sempre de contrastar trabalho intelectual analítico com evidência anedóctica (anecdotal evidence) no terreno.

Assim aqui vai uma história.

Tinha eu à largos anos um montesito na serra de Grândola e parava muitas vezes no restaurante/taverna de Azinheira de Barros para uma linguiça assada no carvão. Metia conversa com a população desse ermo junto à EN para o Algarve.

Quando se começou a construir a autoestrada para o Algarve a partir de Marateca, eu comentei que em breve ela chegaria ali bem perto com uma saída e comentei, que agora o desenvolvimento ia chegar a sério.

Resposta dos aldeões. Ó Dr, bem sabe que as autoestradas nunca trazem gente, fazem mas é a gente sair daqui...

E agora bem vemos a desertificação humana do nosso interior e para o provar, outro dia fui lá para ver como estava o meu monte, depois de vendido à muitos anos, e como estava Azinheira de Barros. O restaurante fechou, o seu enorme parque de estacionamento vazio, o sucateiro a quem vendi sucata recolhida no meu terreno também abandonou actividade e só um punhado de idosos na vila falavam com a GNR.

Teoria dos aldeões: autoestradas por si facilitam saír porque é mais fácil visitar, mas ninguém se instala cá, para ir visitar a cidade rapidinho.

E esta, hem? como dizia o Eça...

O mesmo se aplica ao TGV. Já não é um investimento que aumente a produtividade da economia e as grandes obras só são válidas se assim o fizerem. Aí o meu herói Vitór Bento está coberto de razão. As outras só servem para enriquecer os fornecedores dos bens de equipamento e os financiadores da parte que não é subsidiada.

E quem são esses?

Pois, as indústrias tecnológicamente avançadas do centro da Europa que via Euro têm um mercado cativo sem fluctuações de câmbio e com subsídios da UE, controlada pelo mesmo centro, para se montarem os seus equipamentos aonde, sem UE, não haveria dinheiro para o fazer.

É aqui que o período do 'orgulhosamente só' nos bate agora. Na altura fazia-se bem as contas e gastavase naquilo que aumentava a produtividade do país e não naquilo para que há subsídios.

No fundo, não existe assim tanta diferença entre um Portugal que investe naquilo que é altamente subsidiado pela UE e um Moçambique que investe naquilo que os seus doadores G18 determinam, como prioritário via contribuições directas para o seu orçamento anual.

Muitas vezes o que é subsidiado ou coinvestido faz todo o sentido (por exemplo os metros), outras vezes é preciso saber dizer que não, e dizer que são outras as prioridades nacionais. Só que isso políticos de carreira à espera para rodarem para as administrações privadas já não sabem fazer.

Agora que o contributo de um investimento maciço em ferrovia de carga, e uma orientação do porto de Sines para o alargado canal do Panamá, a economia angolana e entreposto de gás natural para diminuir a dependência da EU dos gasodutos da Rússia; ai sim, que seria enorme, isso era.

E de quem foi a ideia de Sines numa variante deste raciocínio? Vergonha! Foram os governantes do período 'orgulhosamente sós'.

Ah, se a nossa democracia pudesse aprender do bom que esse período tinha e deixar para trás o mau...templários rescussitai...!=)

Rui Cardoso Pedro disse...

Por uma questão de esclarecimento que considero necessário, venho responder ao seguinte comentário:

“Ainda relativamente ao Portugal orgulhosamente só, e por uma questão de defesa dos valores, nobres e universais, como a verdade e a honra, o(s) governantes desse período do Portugal “orgulhosamente só”, e parafraseando o Prof. Doutor Jaime Nogueira Pinto, foram aqueles que permitiram que Portugal registasse “o maior crescimento económico de sempre e os maiores índices de desenvolvimento económico” de todo o século.” - Mário

O Orgulhosamente sós, embora tenha sido marcado pelo maior crescimento económico de sempre e os maiores índices de desenvolvimento económico, marca também um período que nada de nobre tem, ou seja, o tempo da ditadura fascista, que marca algumas guerras, como por exemplo a guerra colonial e as opressões vividas na sociedade. O “Orgulhosamente sós” referido, expõe um Portugal cada vez mais periférico e isolado, caso que considero que as alterações de linhas férreas do lado de Espanha irão fazer às nossas mercadorias.

Agradeço a atenção dos restantes comentários.

Cumprimentos,
Rui Cardoso Pedro

Anónimo disse...

Rui,

De facto é este o perigo, mais que evidente, em tentar separar a economia da política e vice-versa.

Porém, uma coisa será certa neste domínio, se bem que haja uma tremenda confusão nesta área: é a economia que está ao serviço da política e não o contrário. Independentemente de muitos acharem o contrário, este é, infelizmente, o cenário actual com que nos confrontamos.

Ora, posto isto, muito se poderá escrever (verdade ou mentira) sobre as questões periféricas acerca da economia durante o estado novo. Pessoalmente, acredito vivamente que os regimes políticos em nada desculpabilizam o crescimento económico ou, neste caso, a falta dele. Um exemplo bastante claro: no pós 25 de Abril, nomeadamente nos loucos tempos do PREC, imensas atrocidades foram cometidas, gerando-se, assim, um clima em tudo menos propício para a actividade económica nacional.
Posteriormente a isso, e de uma maneira bastante democrática, foi-nos imposta a imposição do sistema federalista de Bruxelas, nomeadamente através da entrada na antiga CEE - comunidade económica europeia. Posto em prática o ambiente claramente democrático,temos agora o pagar da factura, isto é, arrecadar com as consequências de Bruxelas, ou seja, abdicar da condução da política monetária (bastante eficaz numa óptica de período curto) e da utilização da política cambial, através da inserção na UEM e, por conseguinte, à adesão da moeda única, o Euro.

Assim, e apesar de termos actualmente esses ditos valores que tanta gente lutou - como a "liberdade de expressão" - temos, também, uma limitação face à nossa soberania que, ao longo de quase 1000 anos, nunca se fez sentir.

Será este regime preferível ao anterior? A resposta politicamente correcta diz-nos que a democracia é o pior regime, exceptuando todos os outros...

Relativamente à guerra, é, sem duvida, uma questão bem levantada.
Paul Krugman, por exemplo, aborda essa questão como "um pau de dois bicos: se, por um lado, a guerra é, conjuntamente com as recessões, o pior inimigo da condução das políticas económicas (por uma questão de estabilidade económica e empresarial), por outro lado temos a guerra como um factor de "limpeza" em termos populacionais e, igualmente importante, por uma questão de elevadas taxas de crescimento económico em situações de pós guerra.

Mas claro que as guerras, do ponto de vista moral, são condenáveis! ;)

Aliás, a questão das guerras integradas nos ciclos económicos poderá ser um excelente tema para um futuro texto do Prof. José Paulo Oliveira aqui no blogue.

Abraço,

Mário

rui seybert p ferreira disse...

Caros Leitores,

devo confessar que este último comentário do Mário (que não conheço) me deixou com os queixos caídos. Tanta lucidez de análise e autoconfiança e coragem de receitar a Portugal um pouco de 'Realpolitik', muitos parabéns.

De facto todas as potências europeias tiveram as suas guerras, umas mais horrendas e injustas, que outras. Também Portugal teve as suas guerras numa altura em que no limite era assim que 'nation states', no limite, defendiam os seus interesses nacionais. Para rematar: não considero a guerra colonial poertuguesa de todo das mais horrendas, nem das mais injustas.

Se Portugal se tornou periférico ou não, é uma questão do posicionamento do observador. Tendo em conta que havia uma política egoísticamente nacionalista (e uma Sra Thatcher seria uma grande apoiante desta causa), foi consistente e consequente tornar a periferia vista por uns, na centralidade vista por outros. E por conseguinte, a CUF estava na lista das Fortune 100, e que Portugal tinha mais influência e poder na mesa das potências mundiais, lá isso tinha.

Infelizmente, Portugal perdeu o rumo político quando não soube reinventar a sua acção colonial, e como bem diz o Mário, a economia foi por água abaixo. Com o potencial económico por água abaixo, o sistema político deu no que deu e agora não existe motivação para a mudar; exactamente porque o potencial económico já não é relevante.

Aqui acho que discordo um pouco do Mário. Para chegar a um sistema político forte e autosustentável, é preciso uma economia forte. Caso a economia se recuse a actuar políticamente, o sistema económico enfraquece e o sistema político vai por arrastão. Veja-se o que aconteceu na Alemanha no período da República de Weimar e em contrapartida na Espanha no tempo do Franco.

Se o que estivesse em jogo em Portugal fossem interesses económicos de vulto, a elite portuguesa já teria actuado e a nossa política e sociedade civil nunca teria chegado ao que chegou. Mas já não há esses interesses e os que há são controlados pelo esrangeiro, que já não precisam do governo português, exactamente pelo processo de integração europeia de que fala o Mário.

Todos os países têm a sua vantagem comparativa e Portugal cedeu a sua ao assinar os tratados da CEE, sem meter em prática um plano para a recuperar de outra forma, sem guerra e possessões ultramarinass mas com influências e neurónios...

Jose Paulo Oliveira disse...

Realmente é notável a qualidade da discussão que por aqui vai. Claro que a mim não me espanta nada porque conheço bem os intervenientes que têm participado. Afinal de contas, prova-se que existe capacidade intelectual e estudo aprofundado da economia nesta geração de jovens economistas e futuros economistas.

Jose Paulo Oliveira disse...

Sobre este assunto gostaria apenas de chamar a atenção para a diferença de multiplicador dos Gastos do Estado caso o investimento público seja direccionado para sectores em que Portugal tem competências e capacidade produtiva ou para sectores em que o nosso país terá de recorrer massivamente a importações. Isto faz toda a diferença e a única forma do investimento público puxar pela economia, como Keynes defenderia para a situação actual, é investir selectivamente em projectos de grande valor acrescentado de produção nacional.

Anónimo disse...

Boas professor,

Num aspecto a economia e a gestão apresentam um ponto em comum bastante forte e importante: o processo de tomada de decisão irá trazer consequências, sejam elas boas ou menos boas.

No investimento público, tal também se verifica! Se a memória não me falha (e se me falhar o professor cá estará para me corrigir!) John Maynard Keynes afirmara, em pleno século XX, que um qualquer pedreiro, ao serviço do estado, e a ser pago pelo mesmo, estaria a ser um gasto do estado e, assim, estaríamos a estimular a economia.

Paul Krugman, já em pleno século XXI - embora ninguém duvide das tendências políticas e económicas do mesmo - acabaria por discordar um pouco e, com isso, trouxe-nos a ideia clara de que, em presença de recessões, a importância do investimento público é verdadeiramente importante, contudo, este deveria ser devidamente seleccionado.

O prof. Blanchard, também ele com formação no MIT, acabaria por dar o seguinte exemplo: se uma economia tivesse em recessão, aplicar-se-ia um bom e velho estímulo Keynesiano. Tome-se o exemplo da construção de duas pontes: uma que acabaria por não ruir e outra que, futuramente, irá ruir devido a um processo de má construção. Ambas as pontes custariam o mesmo e, assim, ambas contribuiriam da mesma maneira (igualmente)para a retoma da actividade económica, através de uma expansão orçamental (ceteris paribus). Qual a diferença entre ambas as pontes então? A resposta irá residir na utilidade social.

A questão levantada pelo professor é, na minha opinião, até mais importante e mais profunda relativamente à utilidade social; e passo a explicar: Portugal, com todos os seus problemas estruturais, necessita, sim, de um apoio aos seus sectores estratégicos. Não temos sectores estratégicos? Teremos de passar a ter, então!

Nos estados unidos, por exemplo, as industrias nacionais são bastante mais eficientes do ponto de vista micro económico, comparativamente ás demais industrias europeias, pelo que, o investimento público, actualmente, está a ser canalizado para um sistema nacional de saúde. (sim, os EUA nunca o tiveram!)

Rui Seybert Pinto Ferreira,

Obrigado pelas suas palavras de apoio! Sem dúvida que Portugal necessita de uma nova geração de pessoas (e por conseguinte de economistas) que tenham lucidez suficiente para uma capacidade crítica para com a sua respectiva economia-mãe.


Abraços

Jose Paulo Oliveira disse...

Caros,
Não posso deixar de sublinhar as palavras do Dr. Rui Seybert “Portugal, com todos os seus problemas estruturais, necessita, sim, de um apoio aos seus sectores estratégicos. Não temos sectores estratégicos? Teremos de passar a ter, então!”. Esta é uma questão essencial. A visão estratégica para o país deve incluir a definição de sectores estratégicos capazes de criar valor, suportados em mão-de-obra qualificada e estarem baseados em alto valor acrescentado, pois apenas sectores com estas características serão capazes de criar riqueza e serem a guarda avançada que tornará Portugal num país avançado. Infelizmente, durante anos a fio (especialmente os anos de “vacas gordas”) parecia que era com centros comerciais, super e hipermercados que o país enriqueceria, viu-se…
Actualmente, existem sinais positivos de mudança, por exemplo a aposta nas energias renováveis. Talvez precisemos de tempos difíceis para que sejam tomadas decisões correctas de longo prazo para as quais a coragem e interesse não existiram em tempos mais fáceis!
Obrigado pela excelência que proporcionaram a este blogue com as vossas reflexões e comentários.
Abraços,
José Paulo Oliveira