terça-feira, dezembro 28, 2010

Mensagem de Natal 2010

Neste Solstício de Inverno em que celebramos o Natal, maior expressão iconográfica Cristã da criação da Humanidade, quero transmitir os votos de paz e harmonia com o Criador, expressos através da solidariedade para com todos os seres humanos, desenvolvidos diariamente durante a nossa presença no Mundo. Que o caminho da nossa vida reflicta no mundo material as mais elevadas preocupações espirituais, trabalhando todos os dias para a construção de um mundo melhor.




quarta-feira, dezembro 08, 2010

Macroeconomicus: 10 000 Page Views.

É com o maior prazer e satisfação pessoal que informo todos os leitores do blogue Macroeconomicus que atingimos as dez mil visualizações. Este é um número bem revelador do sucesso consistente alcançado por este blogue, alicerçado num grupo de leitores superior a uma centena que todas as semanas visitam o Macroeconomicus para acompanharem as actualizações efectuadas. Compreensivelmente, num mundo em permanente aceleração, muitas vezes falta o tempo aos leitores para comentar, intervir e aprofundar, no entanto a constância no acompanhamento do blogue permite antecipar um crescimento futuro, quer na quantidade de leitores, quer na qualidade dos debates.

Este é um espaço de reflexão e análise económica, sobre políticas e opções, sendo naturalmente um fórum de debate especializado e não um instrumento de comunicação de massas. Assim, atingir um patamar tão elevado, em menos de um ano, com leitores regulares em Portugal, Moçambique, Angola e Brasil, com uma prevalência cada vez maior de seguidores no maior país da Lusofonia, representa uma boa medida do sucesso alcançado. Um sucesso de todos os leitores e comentadores deste blogue.

Continuemos a trabalhar da mesma forma.

Sempre!

José Paulo Oliveira

segunda-feira, novembro 22, 2010

Um contrato social para Portugal

Em Portugal, as dificuldades económicas e financeiras estão enraizadas para os próximos anos. A tendência de crescimento do PIB Potencial garante-nos praticamente a estagnação económica durante a década que vai começar. Escrevi há algum tempo que acreditava que o início do campeonato mundial de futebol de 2018 num estádio da segunda circular marcaria, no nosso imaginário colectivo, o final da actual crise económica. Na altura, alguns leitores interrogaram-se se seria necessário aguentar até 2018? Hoje, um líder político a quem a esmagadora maioria dos politólogos vê como futuro Primeiro-Ministro de Portugal referiu a necessidade de uma década para relançar a economia. Obviamente, sobre as políticas a desenvolver para conseguir este desiderato não se deu ao trabalho de nos elucidar. Pela minha parte desconfio que, no fundo ele sabe que a reestruturação da economia Portuguesa que está em marcha estará concluída, mais ano menos ano, nessa altura. Também são os meus cálculos e foi a ideia que presidiu ao meu anúncio de 2018. Claro que, se investirmos em obras públicas para acolher o mundial de futebol, teremos um efeito multiplicador que abafará definitivamente a crise. Não se esqueçam que estamos a falar de mais de sete anos de distância, durante os quais teremos necessariamente de equilibrar as contas públicas, o Estado terá de emagrecer e o nosso modelo económico vai terminar a sua mudança estrutural. Assim, está claro quando é que podemos esperar o final da crise económica Portuguesa.


E entretanto?

O próximo ano anuncia-se como um ano duríssimo de viver em Portugal. No entanto, não nos podemos iludir, pois nem todos viverão este choque de igual modo. Os mais fortes serão incomodados, os mais fracos estão em risco de ser varridos para a miséria. A desestruturação social é um dos mais profundos riscos dos dias que correm. Portugal tem vivido em paz social durante a maior parte da sua história, em particular nos últimos cem anos. Nunca durante esse período tantas famílias viveram no desespero que atravessam actualmente. Podemos ter a certeza que 2011 nos trará um reforço das fontes desse desespero: o aumento do desemprego; o corte dos apoios sociais e a mais completa ausência de perspectivas.

Sabemos que a economia vai entrar em recessão e que o empobrecimento colectivo está ao virar da esquina. O que poderemos fazer?

Acredito que, se queremos manter viva a ideia de país, com uma sociedade que se reveja numa Nação à qual corresponde um Estado antiquíssimo, teremos de rejeitar o fatalismo da situação e tomar a iniciativa. Este é o momento das políticas sociais se tornarem verdadeiramente activas, ajudando todos os deserdados do nosso sistema económico, evitando que caiam nos problemas gerados pela miséria económica e prevenindo a miséria social e moral. A desmoralização total, em que os Portugueses se encontram, representa um risco enorme, mas simultaneamente a oportunidade de sabermos fazer nos tempos mais difíceis aquilo que não soubemos criar em abundância. A solidariedade social alicerçada no apoio dos que mais têm, defendendo os mais pobres, pode gerar a dinâmica de país que nós há muito perdemos. Claro que não será com rendimentos mínimos, nem Chico-espertismos, à boa maneira do passado. Provavelmente, teremos de voltar a subir os impostos, mas o Estado não poderá continuar a manter o nível de despesa consigo próprio enquanto diminui o rendimento disponível das famílias. Esta política terá de ser assegurada com transferências sociais selectivas, com uma actuação próxima dos cidadãos e desanexando a atribuição destes subsídios de quem tem interesses de caciquismos eleitorais. Para virarmos o nosso destino, temos em primeiro lugar de garantir que este espírito patriótico não será mais uma vez enganado. Os Portugueses estão escaldados demais com mentirosos profissionais que pululam na nossa classe política e que tanto fizeram pela destruição do país.

Estou convencido que este caminho é justo. Há uma diferença fundamental entre uma família ser obrigada a cancelar as férias ou cortar a Tv Cabo e uma família não conseguir alimentar os filhos. Este é o momento de garantir o essencial a quem precisa. A ideia de país, Estado e Nação a tal obriga!

Ora no presente momento, a única hipótese de colocar em marcha este processo será o próprio governo tomar a iniciativa e lançar este tipo de medidas. Estamos à beira de uma greve geral, mas estamos muito mais preocupantemente à beira de uma catástrofe social. Apenas o governo do país pode conduzir este processo. Claro que um governo de salvação nacional, que tivesse estas preocupações, poderia lançar Portugal neste caminho, mas o governo legitimamente eleito tem a obrigação de conduzir os destinos do país, neste momento extremamente difícil. Não refiro a Presidência da República porque qualquer iniciativa agora tomada correria o risco de ser confundida com mais propaganda eleitoral, mas obviamente deverá participar também neste processo.

Finalmente, existe uma condição imprescindível para que Portugal possa trilhar este caminho, além da afirmação clara do nosso desejo colectivo, que é a resistência ao FMI. É sabido que o FMI endireitará o país, mas também sabemos como. As preocupações sociais estão totalmente fora das cogitações desta estrutura e o preço a pagar será elevadíssimo. É tempo de tudo fazer, como sociedade, para evitar entregar a governação económica real do país ao FMI. A última política que nos resta verdadeiramente, por muito condicionados que estejamos, tem de ser utilizada. Aceitar a entrada do FMI é condenar vastas classes da nossa sociedade. Por uma vez, sejamos capazes de nos governar. Este não é o momento de jogos políticos. Agora é tempo de estadistas a sério. Veremos quem se assume.

José Paulo Oliveira

segunda-feira, novembro 01, 2010

Nota do Editor: Blogue Macroeconomicus passará a ser actualizado ao final do dia de Domingo

Devido ao excesso de trabalho e de compromissos que, impedem o editor deste blogue de actualizar com maior frequência o Macroeconomicus, sabendo cumulativamente que este é um espaço de reflexão muito mais que de notícia, as actualizações do Macroeconomicus passarão a ser feitas de forma regular ao final do dia de domingo, permitindo aos nossos leitores regulares lerem as últimas reflexões e comentários, bem como participarem activamente, na noite de domingo ou no início de cada semana de trabalho. Assim, evita-se defraudar expectativas de quem visita o blogue frequentemente e não encontra novidades.
A partir do próximo domingo, garantindo a regularidade de actualizações realizadas todos os domingos, apresentaremos novas mensagens, comentários e reflexões.

domingo, outubro 31, 2010

Roubini: Portugal em risco de recorrer ao fundo de resgate

(Notícia do Diário Económico)
Nouriel Roubini, economista que previu a última crise financeira, vê Portugal e a Irlanda com o mesmo destino da Grécia.


"Apesar do plano de resgate anunciado, apesar das ajudas à Grécia e apesar dos testes de resistência à banca, as dívidas dos países periféricos continuam a apresentar problemas. E o crescimento económico da Europa, especialmente nos PIGS, vai ser muito baixo e inclusivamente negativo. O panorama assusta", afirmou Nouriel Roubini, em entrevista ao ‘El País'.

Na mesma linha, o reputado economista - apelidado de Dr. catástrofe - afirma que "com dívidas tão altas e com os planos de austeridade, a deflação é um risco sério", prevendo que "países como a Grécia vão ter que reestruturar a sua dívida e isso provocará uma nova crise orçamental". Para Roubini, "já não é uma questão se vai acontecer, mas apenas quando".

E Roubini aponta os culpados da difícil situação dos países periféricos: o Banco Central Europeu (BCE) e a Alemanha. "A teimosia do BCE, que se empenha em ver fantasmas de inflação, é um desastre para a Europa e em particular para os países periféricos", defende. E, avisa o economista, "quando o euro atingir os 1,60 dólares desaparecerá qualquer possibilidade de recuperação, e provavelmente veremos outro país a pedir um resgate como fez a Grécia. Portugal e Irlanda são os países pior situados". Já Espanha, salienta, "está muito melhor que a Grécia, e melhor que a Irlanda ou Portugal", mas, alerta, "tem uma dívida privada enorme, um desemprego muito elevado que não vai baixar no médio prazo e uma bolha imobiliária".

segunda-feira, outubro 25, 2010

ESTAGNAÇÃO ECONÓMICA: Portugal tem 3º menor crescimento da década no mundo

(Notícia do Diário de Notícias)
O principal receio é que o modelo de Portugal e Itália se transforme na nova realidade dos países desenvolvidos, escreve o 'El País'.
Portugal teve o terceiro menor crescimento económico do mundo na última década (6,47%), ganhando apenas à Itália (2,43%) e ao Haiti (-2,39%), numa lista de 180 países publicada pelo El País com base em dados do FMI.
Embora o jornal espanhol reconheça que "quando as economias alcançam um certo nível de desenvolvimento, o ritmo de crescimento abranda", salienta que, particularmente nos casos de Portugal e Itália, verificou-se aquilo a que os académicos chamam de crescimento em L, à semelhança do Japão, que leva de avanço não uma, mas duas décadas perdidas.
Este modelo caracteriza-se por um prolongado período de estagnação económica, com crescimentos próximos de 0%, desemprego elevado, fraco consumo e excesso de capacidade produtiva. O maior receio é agora que o mesmo modelo alastre aos outros países desenvolvidos, se não forem tomadas as medidas adequadas.
"Japão, Itália e Portugal têm em comum esse padrão de crescimento em L, que se traduz num círculo vicioso da economia e que muitos economistas atribuem à ausência de uma política fiscal restritiva, controlo das contas públicas e redução do endividamento", com a dívida pública a rondar os 30% do PIB em Itália, quase 80% em Portugal e 217% no Japão, lê-se no artigo. E cita o professor da IE Business School Rafael Pampillón, que defende que a falta de competitividade e a rigidez destes mercados explicam como se chega a manter um crescimento tão débil durante tanto tempo, conclusões em boa parte partilhadas pela Comissão Europeia e pelo FMI.
Por último, o jornal lembra que, apesar das enormes quantidades de dinheiro injectadas na economia, o crescimento custa a descolar, exemplificando com os Estados Unidos.

segunda-feira, outubro 18, 2010

FT: Como o euro esteve à beira do colapso

(Publicado pelo Diário Económico)
Muitas conversas e longas entrevistas mostram o quão perto esteve a moeda única de um colapso e como o símbolo máximo da integração europeia esteve dependente das instituições internacionais e da administração norte-americana.



Quinta-feira, 22 de Abril, 2010

Embaixada do Canadá, Washington

Numa noite de Primavera, o nº 501 da Pennsylvania Avenue foi palco de um jantar que reuniu alguns dos governantes mais poderosos do mundo. O edifício, situado em pleno centro administrativo, legislativo e judicial dos EUA, é um misto de modernismo e neoclassicismo, a que alguns críticos de arquitectura chamam burlesco. Ora, o tema em discussão naquela noite nada tinha de burlesco. Pelo contrário, era especialmente grave: como salvar a união monetária europeia. Nesse encontro, os ministros das Finanças e os presidentes dos bancos centrais dos sete maiores países industrializados (G7) apenas tinham em mente a possibilidade de a explosão da dívida soberana grega poder desencadear uma crise à escala europeia e desestabilizar o sistema financeiro global.

"Não podemos ignorar que os EUA olham para a incapacidade de agir da Europa com crescente incredulidade e apreensão", referiu no encontro Alistair Darling, ex-ministro das Finanças britânico. "A mensagem é clara: ‘Por que não agem? Sabem muito bem que têm de agir'".

Onze dias antes, os líderes europeus e o Fundo Monetário Internacional (FMI) tinham prometido à Grécia uma ajuda no valor de 45 mil milhões de euros, porém, no encontro realizado na Pennsylvania Avenue - que teve como anfitrião Jim Flaherty, ministro das Finanças do Canadá -, as partes concordaram que esse valor provavelmente ficaria muito aquém do necessário.

"Os presentes expressaram uma preocupação profunda face aos perigos de um contágio global. A discussão foi particularmente sincera e frontal. Ficou claro que os EUA e o FMI estavam dispostos a ajudar. Desta vez, os EUA não se comprazeram com a desgraça alheia. Apoiaram-nos e disponibilizaram-se para nos ajudar recorrendo à sua experiência na gestão da crise", recorda Olli Rehn, Comissário Europeu dos Assuntos Económicos e Monetários.

Nessa mesma noite, antes de Rehn e dos restantes presentes - incluindo os presidentes da Reserva Federal dos EUA e do Banco Central Europeu, do FMI e do Banco Mundial - saírem da embaixada, chegou-se a acordo sobre a necessidade de se tomarem medidas urgentes e colectivas.

Seis meses depois temos consciência de que evitaram uma tragédia no último minuto. Muitas e longas entrevistas a fontes próximas deste processo mostram quão perto esteve a moeda única de um colapso e quanto o resgate da principal expressão da integração europeia esteve dependente de instituições internacionais e da administração americana.

A constante preocupação dos mercados de obrigações em relação ao panorama económico e orçamental de alguns membros da zona euro, como Irlanda e Portugal - para não falar na Grécia -, lembra-nos que as lições de Abril e Maio são hoje mais pertinentes do que nunca, pois mostram-nos que, apesar de o processo de decisão da Europa nos parecer amiúde penosamente lento, os seus líderes farão o que for preciso para manter viva a moeda única.

O euro, ao contrário de outras moedas, é mais do que um simples meio de pagamento e fonte de valor. Simboliza a aspiração da Europa de ser respeitada como uma comunidade de nações soberanas empenhadas numa experiência única de união na paz e na prosperidade. Porém, e como a análise dos acontecimentos deste ano deixou claro, os governantes terão muito trabalho pela frente para debelarem as falhas e debilidades económicas que têm fragilizado este projecto desde o início.



Sábado, 24 de Abril, 2010

Sede do FMI, Washington

Às sete da manhã, dois dias depois do jantar na Embaixada do Canadá, Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu (BCE), Olli Rehn e George Papaconstantinou, ministro das Finanças grego, reuniram-se no gabinete amplo e luminoso de Dominique Strauss-Khan, director-geral do FMI. Foi aqui que gizaram um acordo para salvar a Grécia, cabendo ao FMI assegurar metade do valor disponibilizado pela zona euro. Pela primeira vez desde o lançamento do euro, em 1999, era preciso salvar um país membro do abismo em nome da unidade europeia e da estabilidade financeira global.

Até domingo, 2 de Maio, foram reunidos 110 mil milhões de euros para salvar a Grécia: 80 mil milhões garantidos pela zona euro e os restantes 30 mil milhões pelo FMI. Nos cinco dias subsequentes, quando uma vaga de pânico se expandiu por todos mercados financeiros mundiais ameaçando engolir a Irlanda, Portugal e Espanha, os líderes da União Europeia (UE) viram-se obrigados a traçar um segundo plano, cuja magnitude fora até aí impensável: um fundo de ajuda aos 16 países da zona euro no valor de 750 mil milhões de euros, coadjuvado por uma iniciativa sem precedentes do BCE de comprar títulos da dívida pública.



Sexta-feira, 7 de Maio, 2010

Sede da UE, Bruxelas

A história de como este segundo plano foi posto em prática começa noutro jantar, onde foram servidos espargos e rodovalho aos presidentes e primeiros-ministros da Europa. A maior parte está habituada a ouvir repreensões das autoridades europeias sobre a má gestão das finanças públicas, mas, nessa noite, a linguagem utilizada foi especialmente apocalíptica. Quando Jean-Claude Trichet deu por concluída a sua firme intervenção, nenhum dos presentes duvidou que estava em jogo o futuro do euro.

Trichet usou um gráfico para ilustrar a forma como os mercados financeiros conduziram as taxas de juro das obrigações dos governos mais frágeis da zona euro a níveis muito elevados e insustentáveis, e anunciou que a crise já não se circunscrevia apenas à Grécia. Um dos participantes recorda as palavras do presidente do BCE: "Acrescentou que ‘este problema não diz somente respeito a um país, mas sim a vários. É um problema europeu e global que se está a deteriorar muito rapidamente e com grande intensidade'".

Os seus comentários produziram o efeito desejado. Os líderes dos países mais pequenos da zona euro, menos entrosados com os mercados financeiros mundiais, não tinham até àquele momento noção da verdadeira gravidade da crise. Alguns dos líderes mais experientes mostraram-se surpreendidos com a magnitude da situação. Um embaixador europeu lembra-se de olhar para o presidente francês e de ver "um Nicholas Sarkozy lívido e atónito. Nunca o tinha visto tão pálido", afirma.

Trichet disse aos líderes europeus que a crise era parcialmente da sua responsabilidade por terem ignorado os apelos do BCE em prol da disciplina orçamental após o lançamento do euro. Sublinhou também que o BCE alertou repetidas vezes para a necessidade de um controlo rigoroso das necessidades de financiamento e da despesa pública. Só assim se poderia cimentar um grupo de estados que partilham a mesma moeda, mas não dispõem de uma união política ou orçamental semelhante à dos EUA. Os governos não cumpriram com as suas obrigações e estavam agora a pagar a factura. Trichet terminou solenemente dizendo que "chegou o momento de assumirem as vossas responsabilidades".

O debate foi aceso e tenso. Sarkozy instou o BCE a seguir o exemplo da Reserva Federal dos EUA e do Banco de Inglaterra que, durante a crise financeira mundial, deram um passo corajoso ao decidirem comprar obrigações do Tesouro para "descongelar" os mercados de crédito. "Sarkozy bradava: ‘Chega de hesitações!", recorda um político europeu. O presidente francês teve o apoio dos primeiros-ministros italiano e português, Silvio Berlusconi e José Sócrates, bem como de outros chefes de governo de países do Sul da Europa.

A chanceler alemã, Angela Merkel, defendeu o BCE alegando que não cabia aos líderes europeus dar ordens ao banco central, cuja independência está consignada no Tratado da UE. Todos os presentes ouviram atentamente os seus argumentos, não só porque a Alemanha é a economia europeia mais pujante como tinha, nesse mesmo dia, aprovado no Parlamento um apoio no valor de 22,4 mil milhões de euros, a somar à ajuda da UE à Grécia - a maior fatia do bolo partilhado por todos os países da zona euro. Merkel contou com o apoio dos primeiros-ministros da Holanda e da Finlândia, Jan Peter Balkenende e Matti Vanhanen.

Trichet estava ciente de que a compra de obrigações do Tesouro por parte do BCE era uma opção, ainda que extremamente controversa, dados os potenciais riscos inflacionistas, mas necessária ‘in extremis'. Depois de uma reunião do conselho de governadores do BCE na quinta-feira, em Lisboa, disse numa conferência de imprensa que nem ele nem os seus colegas haviam discutido esta questão. Tecnicamente é verdade, uma vez que não constava da agenda de trabalhos. No entanto, na cimeira de sexta-feira, não podia voltar atrás sob pena de ser acusado de ceder à pressão de Sarkozy e dos seus aliados. Se a independência do BCE fosse posta em causa, os danos daí resultantes seriam irreparáveis.

Trichet optou por atacar aqueles que o criticavam lembrando-lhes que, desde Agosto de 2007, o BCE injectara liquidez no sistema bancário europeu no valor de centenas de milhares de milhões de euros para evitar o seu colapso, mas reconheceu que o banco central nunca pediu aos líderes europeus para adoptarem medidas específicas nesta matéria. "Trichet mostrou-se muito firme neste aspecto. Disse: ‘Não nos peçam para fazer o que quer que seja. Faremos o que considerarmos apropriado fazer'".

A cimeira corria o risco de tornar-se numa mera declaração de intenções entre duas filosofias de união monetária que, muito antes e muito depois de nascer o euro, já eram antagónicas: a visão alemã, que defende o rigor orçamental e a independência do banco central, e a visão francesa, assente num "governo económico" para a Europa conduzido por políticos eleitos.

Em termos práticos, era preciso encontrar uma solução antes de os mercados asiáticos abrirem na segunda-feira. Os 16 líderes incumbiram a Comissão Europeia (CE) de criar um "mecanismo de estabilização" capaz de proteger a zona euro e convocaram os ministros das Finanças da UE para uma reunião de urgência no sábado, 9 de Maio, a fim de aprovarem o plano.



Fim-de-semana, 8 e 9 de Maio, 2010

Bruxelas

"Estava previsto regressar à Finlândia para participar num programa de televisão, mas percebi que era importante ficar em Bruxelas. Reunimos as tropas na manhã de sábado e trabalhámos as propostas durante 24 horas para estarem prontas antes das 13.00 de domingo", realça Rehn.

Quis o destino que a reunião ministerial não começasse a bom ritmo. O ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, sentiu-se mal assim que chegou a Bruxelas e foi levado para o hospital. "A ausência de Wolfgang foi um choque para todos", lembra a sua homóloga francesa, Christine Lagarde, que disse aos seus colegas: "Não podemos continuar sem a Alemanha. Devemos esperar'. Mas o tempo passava e sabíamos que tínhamos de concluir as negociações antes da abertura dos mercados asiáticos, porque estava em causa o futuro do euro".

Thomas de Maizière, ministro da Administração Interna da Alemanha, substituiu Schäuble na reunião. Dava o seu passeio de domingo no campo, nos arredores de Dresden, quando foi informado que teria de embarcar num avião do governo com destino a Bruxelas. Antes da sua chegada, porém, já se sabia que a Alemanha não ia aceitar as propostas da Comissão.

O plano da CE previa a criação de um fundo especial no valor de centenas de milhares de milhões de euros que ficaria sob a sua alçada e venderia obrigações com garantias dos governos, mas a Alemanha rejeitou esta modalidade argumentando que todos os países que precisem de ajuda financeira devem recebê-la sob a forma de empréstimos bilaterais concedidos por outros governos, como aconteceu no caso da Grécia.

Entretanto, os conselheiros jurídicos da UE alertaram a Comissão para o facto de o seu plano ser incompatível com a lei europeia. Rehn recorda: "Se a Alemanha tivesse subscrito as propostas da CE, esta teria motivos para se regozijar. Mas os alemães fizeram valer o seu ponto de vista lembrando que a apreciação do Tribunal Constitucional da Alemanha nunca poderia ser favorável".

Merkel e Sarkozy trocaram impressões por telefone e chegou-se a um consenso: não se definiu a forma de angariar o dinheiro, mas definiu-se o valor necessário. A soma astronómica, 500 mil milhões de euros, decompunha-se assim: 60 mil milhões em fundos europeus provenientes do orçamento da União e 440 mil milhões em garantias dos governos da zona euro. Strauss-Khan tranquilizou os líderes europeus informando-os de que o FMI iria disponibilizar uma verba igual a metade do valor definido, isto é, 250 mil milhões, o que perfaz um total de 750 mil milhões de euros para salvar a zona euro.

O presidente norte-americano, Barack Obama, manteve conversas telefónicas com Angela Merkel e outros líderes europeus, e realizou-se uma ‘conference call' com os ministros do G7, quatro dos quais europeus. "Houve vários processos paralelos: as conversações entre os 27 estados membros da UE em Bruxelas, com o G7 e as chamadas telefónicas entre Nicholas Sarkozy e Angela Merkel", explica Christine Lagarde. "Fiz a ponte com o G7 e os 27 porque Elena Salgado, ministra das Finanças espanhola, presidia à reunião da UE e Schäuble se encontrava no hospital. Por vezes estava em duas frentes: o G7 num telefone e os 27 noutro".

O acordo levou tempo a alcançar. Alguns governos receavam apresentar aos parlamentos nacionais um novo pedido de ajuda no valor de milhares de milhões de euros para países vizinhos em dificuldades, visto o pacote de ajuda à Grécia ser ainda muito recente. Queriam um mecanismo diferente, mas ninguém sabia em que moldes. Já passava da meia-noite quando Lagarde propôs fazerem uma curta pausa. "Senti a pressão. Não tirava os olhos do relógio".

Segundo Rehn, Maarten Verwey, director de Relações Internacionais no Ministério das Finanças holandês, foi quem desbloqueou o impasse ao propor a criação de um "veículo de finalidade especial" (SPV, na sigla inglesa) que pudesse angariar fundos e fosse apoiado pelos 440 mil milhões de euros de garantias governamentais. A Alemanha deu luz verde pelo facto de o SPV não ser controlado pela Comissão e de as obrigações comuns da zona euro não constarem da proposta.

Este acordo foi quanto bastou para o BCE anunciar um programa de compra de títulos do Tesouro com vista a estabilizar os mercados. Uma decisão que gerou forte controvérsia na Alemanha, por ser visto como consequência da pressão francesa. Pouco depois, veio a público que Axel Weber, presidente do banco central alemão, se opôs a esta solução e rompeu relações com os seus colegas do BCE.

A iniciativa foi recebida com entusiasmo pela maioria dos ministros das Finanças da UE, mas houve quem tivesse uma opinião mais crítica. "A decisão do BCE foi muito positiva e tal como todas as boas decisões devia ter sido tomada mais cedo", ironizou Jacek Rostowski, ministro das Finanças polaco.

Durante a noite de 9 de Maio, os ministros das Finanças tiveram a certeza de que o BCE os iria apoiar, porém, nem Trichet nem Lucas Papademos, representante do banco central na reunião de Bruxelas, deram qualquer pista sobre os seus planos. "Estávamos confiantes de que o BCE nos apoiava, mas Trichet não deu o braço a torcer: ‘Nenhum político me vai dizer o que devo fazer'. Então, alguém perguntou: ‘E se Trichet não nos apoiar?'. Depois, alguém disse: ‘Se isso acontecer é o fim'. Ninguém tinha dúvidas de que precisávamos do apoio de ambas as partes, ministros e BCE, mas este mostrou-se inflexível: só avançaria depois de os ministros avançarem", lembra Alistair Darling.

Nesse dia surgiram outras dificuldades. Primeiro foi preciso persuadir Portugal e Espanha a adoptar novas medidas de austeridade para aliviar as pressões sobre o mercado de obrigações. Depois o Reino Unido recusou-se a contribuir para o SPV alegando que um ‘bail out' do euro era da responsabilidade exclusiva dos países da zona euro.

"A oposição britânica não foi construtiva. O Reino Unido poderá pagar caro pela sua opção um dia mais tarde. Em tempos particularmente delicados, como aqueles que vivemos hoje, não é sensato adoptar uma posição tão radical como esta. Ninguém vai esquecer facilmente o sucedido", realça Anders Borg, ministro das Finanças sueco.

Não obstante, os líderes da UE conseguiram - ainda que no derradeiro momento - ganhar algum tempo para repor a ordem na zona euro.

segunda-feira, outubro 11, 2010

Nobel da Economia dividido entre três professores universitários

(Notícia do SAPO)
O Prémio Nobel de Economia deste ano foi atribuído a três professores de economia que desenvolveram um teoria em torno das oscilações no mercado e do desemprego.


Peter A. Diamond, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, nos EUA, Dale T. Mortensen, professor na Universidade de Northwestern e Christopher A. Pissarides, da London School de Economia e Ciência Política, no Reino Unido, são os vencedores deste ano do Prémio Nobel da Economia atribuído pela Academia Sueca.

O trabalho dos três professores foi distinguido pela "análise dos mercados com oscilações na procura", avançou a Academia.

Peter Diamond analisou os fundamentos de procura nos mercados, enquanto que Dale Mortensen e Christopher Pissarides desenvolveram a teoria e aplicaram-na ao mercado de trabalho.

O modelo desenvolvido pelos agora laureados com o Prémio Nobel de Economia ajuda a compreender, explica em comunicado a Academia Sueca, a forma como o desemprego, as ofertas de trabalho e os salários são afectados pela regulação e políticas económicas.

Uma das conclusões da investigação aponta para o facto de que quanto mais generosos forem os apoios ao desemprego maior será a taxa de desemprego. Também o tempo de procura por um novo emprego, dizem os investigadores, tenderá a ser mais alargado.

Confirma-se assim a atribuição do Prémio Nobel de Economia deste ano como tendo uma forte relação com a crise económica que o mundo atravessa.

Em conferência de imprensa, Christopher A. Pissarides afirmou que recebeu a notícia da atribuição do prémio com "felicidade e surpresa" , confessando-se honrado.


Lista de Vencedores - 1969/2010

2010 Peter A. Diamond, Dale T. Mortensen e Christopher A. Pissarides
2009 Elinor Ostrom e Oliver E. Williamson
2008 Paul Krugman
2007 Leonid Hurwicz, Eric S. Maskin e Roger B. Myerson
2006 Edmund S. Phelps
2005 Robert J. Aumann e Thomas C. Schelling
2004 Finn E. Kydland e Edward C. Prescott
2003 Robert F. Engle III e Clive W.J. Granger
2002 Daniel Kahneman e Vernon L. Smith
2001 George A. Akerlof, A. Michael Spence e Joseph E. Stiglitz
2000 James J. Heckman, Daniel L. McFadden
1999 Robert A. Mundell
1998 Amartya Sen
1997 Robert C. Merton e Myron S. Scholes
1996 James A. Mirrlees e William Vickrey
1995 Robert E. Lucas Jr.
1994 John C. Harsanyi, John F. Nash Jr. e Reinhard Selten
1993 Robert W. Fogel e Douglass C. North
1992 Gary S. Becker
1991 Ronald H. Coase
1990 Harry M. Markowitz, Merton H. Miller e William F. Sharpe
1989 Trygve Haavelmo
1988 Maurice Allais
1987 Robert M. Solow
1986 James M. Buchanan Jr.
1985 Franco Modigliani
1984 Richard Stone
1983 Gerard Debreu
1982 George J. Stigler
1981 James Tobin
1980 Lawrence R. Klein
1979 Theodore W. Schultz e Sir Arthur Lewis
1978 Herbert A. Simon
1977 Bertil Ohlin, James E. Meade
1976 Milton Friedman
1975 Leonid Vitaliyevich Kantorovich e Tjalling C. Koopmans
1974 Gunnar Myrdal e Friedrich August von Hayek
1973 Wassily Leontief
1972 John R. Hicks e Kenneth J. Arrow
1971 Simon Kuznets
1970 Paul A. Samuelson
1969 Ragnar Frisch e Jan Tinbergen

domingo, outubro 10, 2010

Inevitavelmente FMI

Durante os anos oitenta do século passado, já lá vão mais de vinte cinco anos, recordo bem o clima social que se vivia em Portugal, durante a última vez em que Portugal esteve à beira da bancarrota. Foi um tempo extremamente duro e difícil para demasiadas famílias portuguesas. A península de Setúbal, tal como o Vale do Ave e outras regiões, conheceu fome e desespero e o bispo de Setúbal, D. Manuel Martins, assumiu protagonismo público em defesa de políticas sociais activas. Passaram-se anos de aperto colectivo até as contas públicas e externas se reequilibrarem e no final de 1985 já se anunciavam tempos de fartura com a próxima entrada para a Comunidade Económica Europeia. O tempo continuou a correr, vieram os fundos comunitários, colectivamente desperdiçados, a Autoeuropa ajudou a transformar a península de Setúbal num pólo de desenvolvimento tecnológico e produtivo, o país cresceu (e as importações também…) e o consumo interno habituou-se a níveis de vida mais exigentes. Atravessámos anos de prosperidade e houve mesmo momentos, como em 1998 com a EXPO a catapultar o orgulho num país moderno, em que acreditámos que Portugal iria ser um país rico.


O novo milénio trouxe-nos o final do Acordo Multifibras, o ajustamento estrutural da economia nacional e a necessidade de adequar a competitividade das empresas à competição cada vez mais feroz dos mercados globalizados. Com trabalhadores não qualificados que passaram a ser muito caros quando comparados com os seus congéneres da China, Índia, Turquia, Marrocos e muitos outros países em desenvolvimento. A transição para uma economia baseada em valor acrescentado afigurava-se longa e penosa. Por outro lado, o Estado ia alargando o seu peso no PIB, comprometendo a competitividade do sector privado. Os funcionários públicos a quem foram oferecidas regalias (hoje os chamados “Direitos Adquiridos”, tantas vezes relembrados em manifestações e greves), acreditaram naturalmente que, aquilo que os governantes da época lhes davam em aumentos e promoções automatizadas era resultado do avanço do país e fruto do seu próprio esforço. Evidentemente, nada disso era sustentado na economia real e os anos comprovaram-no. O peso do Estado na economia Portuguesa continuou a aumentar e a sufocar cada vez mais o sector privado. Enquanto o sector privado tinha de se adaptar a todos os choques com a realidade, o sector estatal conseguia resistir e perdia apenas algumas das suas regalias. A diferença de remunerações entre os trabalhadores não qualificados do sector público e do sector privado atingiu um tal ponto de discriminação social, que seria impossível a qualquer governo evitar o tipo de medidas anunciadas há dias de cortes salariais no aparelho do Estado. Todo o país tem de fazer sacrifícios, não podendo existir um grupo de cidadãos que está praticamente a salvo deste esforço. A luta dos professores contra a anterior Ministra da Educação e a sua vitória de Pirro foram um dos últimos estertores do poderio sindical ligado a partidos (de Esquerda?) que afirmam defender os mais fracos contra os poderosos, mas que acabam por ajudar a eternizar os jovens desempregados e com mau emprego, os trabalhadores precários e a exclusão social de cada vez mais “pobres com emprego”. Os sindicatos tornaram-se defensores apenas dos seus associados e das classes que ainda têm algum “direito adquirido” a defender. Curiosamente, alguns políticos de Direita, ansiosos por mostrarem serviço, correram a cavalgar a onda da insatisfação. A ineficiência económica desta situação e a imparável marcha da economia acabam por se conjugar para nos fazer a todos chocar contra a realidade e acordar abruptamente da ilusão em que Portugal viveu e alguns portugueses ainda vivem.

Não tenho dúvidas que a greve geral anunciada e que juntará as duas grandes centrais sindicais será um sucesso de participação.

A revolta e a crispação social irão aumentar nos próximos tempos e acredito que, os actuais governantes não quererão o exclusivo do odioso necessário para endireitar o país (até porque governantes como Mário Soares e Ernâni Lopes dispostos a arcar com as decisões difíceis não aparecem sempre). Acredito também que, os políticos portugueses actuais, em especial os ligados aos maiores partidos e com ambições de governação, não se irão entender para tomar as medidas duríssimas que a conjuntura impõe. Afinal de contas, é mais fácil deixar que venham técnicos do FMI tomar conta da situação do que acarretar com responsabilidades. A negociação do próximo Orçamento de Estado já deixa antever isso mesmo. Lembro-me de Mota Pinto e não estou a ver Passos Coelho seguir-lhe o exemplo…

Por tudo o que ficou atrás, acredito que o FMI inevitavelmente voltará a Portugal. Para tomar medidas que, nós próprios não temos coragem de tomar, com a conhecida insensibilidade que o FMI costuma ter às necessidades sociais dos mais desfavorecidos. Esta é a perda maior que a entrada do FMI acarreta do ponto de vista da aplicação das políticas.

Mas há outra perda que convém realçar e que é a perda de postura de um país que não consegue ser verdadeiramente soberano e que como tal tem de ser “invadido” por técnicos estrangeiros que venham governar-nos. No mínimo é uma desilusão.

Confesso que, depois de tantos anos de União Europeia, nunca pensei voltar a ver o FMI no nosso país, mas conseguimos ser tão mal governados que chegámos a isto. No entanto, não quero deixar ficar a ideia que, possa estar a atirar as culpas para cima do actual governo. Bem pelo contrário, este governo, tal como todos os governos deste início do século XXI chefiados por Durão Barroso, Santana Lopes e José Sócrates, herdaram uma situação inquinada e um país a afundar-se, deslizando irreversivelmente num plano negativamente inclinado.

Então impõe-se perguntar quem fez todo este mal a Portugal?

Entendo que, foram os governos que tiveram ventos favoráveis, com boas condições económicas, petróleo geralmente barato, crescimento económico mundial e em especial dos nossos principais parceiros comerciais e fundos comunitários de muitos milhões à disposição e que apenas conseguiram criar um “monstro”, que são os verdadeiros culpados. Os quinze anos entre 1987 e 2002 criaram as condições económicas ideais para a falência do país. Relembro os nomes dos primeiros-ministros desses anos extraordinários: Professor Cavaco Silva e Eng. António Guterres. Para memória futura…

José Paulo Oliveira

sábado, outubro 09, 2010

Défice externo português será o maior da Europa em relação ao PIB

(Notícia do Jornal EXPRESSO)
Segundo as estimativas do FMI. o défice externo em 2011 baixará ligeiramente mas manter-se-á em 9,2% do Produto Interno Bruto. O caso mais grave em 32 países da Europa analisados pelo World Economic Outlook.

A radiografia portuguesa para 2011, ontem apresentada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) no seu 'World Economic Outlook ', revela a conjugação de três tendências negativas particularmente preocupantes:


a) O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) passará de positivo em 2010 para estagnado (0%) ou sofrerá uma contração de 1,4% re-entrando em recessão (se forem tomadas em linha de conta as medidas anunciadas no último pacote de austeridade); a confirmar-se este cenário pessimista, apenas dois países na Europa apresentarão recessões: Grécia (-2,6%) e Portugal (-1,4%); a Espanha conseguirá passar de uma situação de recessão, este ano, para um crescimento ligeiramente positivo (0,7%);

b) O défice externo português melhora ligeiramente de 10% do PIB em 2010 para 9,2%; mas será o mais elevado em 32 países europeus monitorizados pelo FMI; a Grécia que, em 2010, apresentou um défice externo de 10,8% do PIB (superior ao português) conseguirá reduzi-lo mais acentuadamente para 7,7%;

c) O desemprego em Portugal aumentará de 10,7% em 2010 para 10,9% (sem contabilizar, ainda, os efeitos do pacote de austeridade); neste campo, apesar do agravamento, continuaremos muito abaixo de Espanha (19,3%), Países Bálticos (acima de 16%), Grécia (14,6%), Irlanda (13%) e Eslováquia (12,7%).

Conjugação internacional desfavorável

Esta conjuntura portuguesa em 2011 ocorrerá num ano em que poderá observar-se uma outra conjugação de diversas tendências mundiais com efeitos negativos, atendendo ao que refere o 'World Economic Outlook'.

Em síntese, segundo o FMI, observa-se: 1) a possibilidade de uma concentração de vulnerabilidades na zona euro e na União Europeia que transformam esta região no foco de atenção; 2) uma desaceleração do crescimento da economia mundial, com destaque para o Brasil e os "tigres asiáticos"; 3) um impacto ainda mais grave na desaceleração do aumento do comércio mundial; e 4) a continuação de um grave problema no sistema bancário mundial, que enfrentará um novo período de necessidades de refinanciamento de dívidas que chegam à maturidade nos próximos 24 meses na ordem de 4 biliões de dólares.

sexta-feira, setembro 24, 2010

António Mendonça: "Grandes obras em infraestruturas são fundamentais para o desenvolvimento do País"

(Notícia do Jornal de Negócios)
António Mendonça voltou a defender a construção das ligações do TGV, considerando que as "grandes obras em infraestruturas de transporte são fundamentais para o desenvolvimento do País".


No debate parlamentar, o ministro das Obras Públicas rejeitou que as grandes obras públicas sejam um problema para o País. Bem pelo contrário, “as grandes obras em infraestruturas de transporte são fundamentais para o desenvolvimento do País, para criar condições para responder aos desafios que temos pela frente”.


As palavras do ministro, proferidas no Parlamento, surgem depois de ontem o Presidente da República ter defendido o adiamento de grandes obras.

António Mendonça considera que as notícias que têm sido divulgadas e as afirmações que têm sido proferidas por vários intervenientes não são mais do que “uma vaga de manipulações que importa esclarecer”.

Assim, em relação à alegada decisão do Governo ter decidido anular a construção do TGV António Mendonça diz ser “falso”, já que “o Governo mantém a sua firme intenção de construir a ligação”.

Quanto à anulação do concurso de construção da ligação Lisboa-Poceirão, o ministro realça que foi algo decidido já em Maio. Isto porque se chegou à conclusão que, devido “à conjuntura existente, seria possível lançar um novo concurso”. O Executivo “considerou que havia melhor forma de defender os interesses do País”.

Sobre as notícias de que a construção da ligação Poceirão-Caia iriam custar o dobro do estimado, António Mendonça nega afirmando que “o custo de construção contratado e anunciado é de 1.359 milhões de euros”. E no total, já incluindo a construção o custo de pagamento é de 1.473 milhões de euros, adiantou o responsável.

E quanto às indicações de que o Governo espanhol anulou a ligação Madrid-Caia “isto não tem aderência absolutamente nenhuma. O Governo espanhol nunca tomou essa posição”.

António Mendonça considera que as declarações que têm sido proferidas têm o objectivo de “confundir as pessoas, descredibilizar o projecto” e “atacar o Governo”.

O ministro das Obras Públicas realça que “em 2010, não haverá despesa” devido ao TGV e que em 2011 o valor será de 76 milhões de euros, o que corresponde a “0,04% do PIB”.

“Em termos médios, os encargos directos serão de 73 milhões de euros por ano, o que representa 0,04% do PIB”, adiantou a mesma fonte.

“Ser sério e rigoroso” é dizer que “este projecto tem acesso a linhas especiais do BEI” e realça a “importância deste projecto para a economia portuguesa”.

Análise BPI: O Ano do Brasil

(Notícia do Diário Económico - Research BPI)
O Brasil volta a dar nas vistas, confirmando o seu estatuto de potência económica emergente: a maioria das previsões de crescimento económico para 2010 situam-se acima de 6,5%.


Nos últimos meses, a forte aceleração justifica-se por via da procura doméstica, suportada por dois catalisadores: mercado de trabalho e mercado de crédito, que têm sustentado níveis de consumo fortes. O desempenho do sector externo - motor de crescimento em anos anteriores - também tem vindo a melhorar, assente numa recuperação do mercado internacional das commodities. Daqui decorre que, os indicadores de actividade económica, que nos primeiros meses do ano apresentaram uma forte dinâmica, suportam a expectativa de uma forte taxa de crescimento real do PIB em 2010. Os dados do crescimento económico no primeiro trimestre serão conhecidos na próxima semana.

Esta forte aceleração da economia tem tido como contrapartida uma crescente pressão inflacionista, registando-se um aumento acentuado das expectativas de inflação, nomeadamente em 2011, colocando em causa o limite superior do intervalo-objectivo definido pelo banco central (4.5%+/-2%). Esta evolução levou a que na última reunião do banco central, fosse iniciado um movimento de subida da principal taxa de referência. O Banco Central do Brasil procedeu à subida da taxa de juro de referência em 75 pontos base, colocando a taxa Selic em 9.50%. Na próxima reunião, dia 8 e 9 de Junho, provavelmente será anunciada uma nova subida de 75 pontos base. A tentativa de conter uma espiral inflacionista passa também pela retirada de outras medidas de estímulo em termos de política monetária, nomeadamente procedendo à subida do coeficiente das reservas mínimas obrigatórias. Os mercados reagiram favoravelmente a esta medida mais agressiva por parte do Copom, na medida em que tal confirma o forte empenho das autoridades brasileiras no compromisso de defender a estabilidade dos preços.

Porém, têm persistido dúvidas quanto à eficácia destas medidas, uma vez que do lado da política fiscal, o governo tarda em dar sinais claros de retirada das medidas de estímulo introduzidos aquando da crise internacional. Ao invés, algumas das medidas introduzidas nessa altura e cujo prazo previsto de validade já findou, foram prorrogadas por mais alguns meses ao longo de 2010 (exemplo, o imposto sobre produtos industriais). De facto, o principal risco advém do lado das contas públicas. Os dados relativamente a Abril trazem algum conforto ao mercado. O saldo primário contrariou o movimento de queda dos últimos meses, beneficiando de um desempenho superior ao esperado do lado da receita fiscal, atingindo os 2.17% do PIB (v.s. 1.94% em Abril). Contudo, esta evolução é justificada do lado da receita, ao mesmo tempo que a pressão do lado da despesa se mantém intacta. Num contexto de forte aquecimento da economia, a tentação de manter a política fiscal expansionista num período eleitoralista pode levar a economia a entrar num ciclo vicioso, na medida em que aumentará as pressões inflacionistas e obrigará o banco central a uma política mais agressiva. A forte subida das taxas de juro coloca pressão sobre a moeda brasileira com implicações ao nível do equilíbrio do comércio externo; e por outro lado contribui para um agravamento do serviço da dívida pública. Impedir que esse ciclo vicioso ocorra é o principal desafio que se coloca ao governo brasileiro.

Nos próximos meses, o Brasil prepara-se para as eleições presidenciais de Outubro. O empenho de Lula da Silva na promoção da candidata oficial do Partido dos Trabalhadores, Dilma Rousseff, resultou numa escalada da candidata nas sondagens de opinião, anulando o fosso face ao candidato do PSDB, José Serra. A eleição Presidencial é sempre motivo de incerteza e gera alguma volatilidade no mercado. Mas face ao sucesso de Lula da Silva na prossecução de políticas pró-mercado e Dilma ser uma sua sucessora próxima, os riscos associados a esta eleição são diminutos, na perspectiva dos mercados. Porém, resta saber até que ponto Dilma será uma líder suficientemente forte para gerir as várias tendências (algumas mais radicais de esquerda) que fazem parte da coligação que a apoia e que Lula da Silva teve a capacidade de virar a seu favor na gestão dos seus governos.

Entretanto, apesar do contexto de euforia que ronda a economia brasileira, o real apresenta um movimento de correcção face ao dólar, transaccionando em torno de 1.82, aliviando do patamar 1.76 (valor mínimo do USD/BRL atingido este ano), o que se explica pelo fortalecimento da moeda-americana nos últimos tempos num contexto de maior aversão ao risco nos mercados internacionais. Contudo, não se pode falar de uma inversão de tendência, mas apenas de um movimento de correcção, sendo que as perspectivas favoráveis para economia brasileira e a subida de taxas de juro deverão sustentar perspectivas positivas para a moeda local.
(Créditos a: Departamento de Estudos Económicos e Financeiros do BPI)

quarta-feira, setembro 22, 2010

Vaticano diz-se "perplexo" com investigação ao seu banco

(Notícia do Diário de Notícias)
Presidente do Banco do Vaticano suspeito de violar lei contra lavagem de dinheiro.
Adensou-se ontem a nuvem de desconfiança que paira sobre o Instituto para as Obras Religiosas (IOR), organismo da Igreja Católica conhecido como Banco do Vaticano. Segundo a Ansa, o seu presidente, Ettore Gotti Tedeschi, e outro responsável do banco cuja identidade não foi revelada, estão a ser investigados por suspeita de violação de uma lei anti-branqueamento de capitais.


De acordo com fontes judiciais citadas pela mesma agência, a instituição bancária do Vaticano pretendia realizar uma transferência de vinte milhões de euros para o banco alemão JP Morgan Frankfurt sem indicar quem ordenou a operação. Estaria também prevista uma transferência de três milhões de euros para a Banca del Fucino identificada apenas com a sigla do IOR.

Uma intenção que entra em conflito com o Decreto-Lei 231/2007 que, seguindo uma directiva europeia, introduziu em Itália a obrigação de que seja mencionado o nome do mandatário, a natureza e o objectivo de todas as operações financeiras.

As irregularidades nas transacções foram detectadas na passada quarta-feira pela unidade de informação financeira do Banco de Itália, que imediatamente bloqueou a operação. Maria Teresa Covatta, oficial da polícia financeira, ordenou o congelamento dos 23 milhões de euros, depositados numa conta corrente do IOR, que iriam ser transferidos.

O Vaticano já reagiu à notícia, dizendo-se "perplexo" com a investigação que está a ser realizada e afirmando ter "total confiança" no Presidente do banco, um homem muito próximo da Opus Dei e antigo representante do banco Santander em Itália.

Num comunicado emitido pela secretaria de Estado, o Vaticano manifesta "estupefacção com a iniciativa do Ministério Público de Roma, tendo em conta que os dados necessários já estão disponíveis no serviço competente do Banco de Itália e que operações análogas se realizam recorrentemente noutros estabelecimentos de crédito italianos." A secretaria de Estado destaca ainda a sua "vontade clara, manifestada em várias ocasiões, de total transparência no que diz respeito às operações financeiras do IOR".

Em Junho, o jornal La Repubblica tinha noticiado que o Banco do Vaticano, a instituição que gere as contas das ordens religiosas e associações católicas, estava a ser investigado por suspeita de envolvimento em operações de lavagem de dinheiro.

Segundo o jornal, os investigadores desconfiavam que pessoas com residência fiscal em Itália estavam a usar o IOR como uma "cortina" para esconder crimes de fraude e evasão fiscal.

Os casos de corrupção no seio do Banco do Vaticano já fizeram correr rios de tinta no passado. Em 1982, o então Presidente do IOR, Paul Marcinkus, foi acusado de estar envolvido na falência do banco Ambrosiano - a maior instituição financeira privada em Itália na altura - cujo principal accionista era o Banco do Vaticano . Marcinkus terá apoiado o gerente do Ambrosiano, Roberto Calvi, na realização de pagamentos à loja maçónica P2 e no desvio de fundos para uso particular. Marcinkus nunca foi preso e Calvi suicidou-se.

terça-feira, setembro 21, 2010

ONU e governos não estão preparados para ameaças à segurança global

(Notícia do SAPO)
As Nações Unidas e os governos nacionais não estão preparados para enfrentar as actuais ameaças à paz e à segurança mundiais, destaca um relatório conjunto dos Estados Unidos e da União Europeia (UE).

"Devido à globalização, o que eram ameaças localizadas já não são controláveis a nível local", destaca o documento "Governo Global 2025", elaborado pelo Conselho Nacional de Inteligência dos Estados Unidos e o Instituto de Estudos de Segurança da UE.


Estas ameaças incluem conflitos étnicos, doenças infecciosas e atentados, além de uma nova geração de desafios globais, como as alterações climáticas, a segurança energética, a escassez de alimentos e de água, os fluxos de migração internacional e as novas tecnologias.

O documento completa que o sistema da ONU, das organizações internacionais e dos governos nacionais têm sido lentos para mudar e demonstrar a capacidade de enfrentar os desafios.

Exemplo de pandemia

O relatório imagina o cenário de uma pandemia em grande escala de uma doença infecciosa mortal em um país pobre ou de médio porte, para ilustrar a falta de preparo da ONU e dos grupos internacionais em fazer frente a uma ameaça múltipla à segurança.

As autoridades locais seriam incapazes de impedir que as pessoas afectadas fizessem viagens internacionais, o que transformaria o problema numa pandemia mundial.

Apesar dos riscos de um cenário como o citado, o documento lembra que não existe um sistema de informação básica que vincule a Organização Mundial de Saúde (OMS) e outras agências ao Conselho de Segurança da ONU ou à NATO, que poderiam ajudar na resposta.

Estados mais poderosos

O relatório indica ainda que em 2025, os Estados Unidos vão ser o país poderoso do mundo, seguindo-se a China, a União Europeia (conjunto de países) e a Índia. Japão, Rússia e Brasil também vão ocupar um lugar no pódio dos estados mais poderosos.

As maiores dificuldades dos estados em conseguir governar estão relacionadas com a previsão de que o mundo será cada vez mais multipolar e com influências externas à política.

sexta-feira, setembro 17, 2010

Governo anula concurso do TGV entre Lisboa e Poceirão

(Notícia do Diário Económico)
A difícil situação económica do país é o argumento apresentado para anular o concurso de alta velocidade entre Lisboa e Poceirão.



O Governo anulou o concurso público internacional relativo à construção da linha do Transporte de Grande Velocidade (TGV) no troço Lisboa-Poceirão, segundo um despacho publicado hoje em Diário da República.

A decisão é justificada com a "significativa e progressiva degradação da conjuntura económica e financeira" de Portugal, situação decorrente da "grave e conhecida crise financeira mundial".

O despacho número 14505/2010, assinado a 10 de Setembro, pelos ministérios das Finanças e das Obras Públicas, refere ainda que o concurso necessitaria de "uma grande parcela de financiamento privado" e do apoio da banca comercial.

"O aumento dos custos de financiamento, em virtude da conjuntura económica implicaria, à semelhança do já verificado em outros processos de concurso de concessão de obras públicas de infraestruturas de transportes, um agravamento das condições das propostas dos concorrentes para além dos limites admitidos pelas normas que regulam o procedimento concursal", lê-se no despacho.

Razões, pelas quais o Governo determina "não adjudicar o concurso público internacional" para a concessão do projecto, construção, financiamento, manutenção e disponibilização por todo o período da concessão do troço Lisboa-Poceirão.

O despacho determina ainda que a decisão de não adjudicação deve ser comunicada aos concorrentes "no prazo de cinco dias", a contar da data da assinatura do documento hoje publicado em Diário da República.

O despacho é assinado pelo secreto de Estado do Tesouro e Finanças, Carlos Costa Pina, em nome do ministro de Estado e das Finanças, e pelo ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, António Mendonça.

quarta-feira, setembro 15, 2010

Japão intervém no mercado cambial pela primeira vez em seis anos

O ministro das Finanças do Japão confirmou a intervenção no mercado cambial, esta quarta-feira. Esta é a primeira acção do género desde Março de 2004. A medida, unilateral, surge um dia depois de o iene ter atingido máximos de 15 anos face ao dólar.


«Iremos tomar passos decisivos se for necessário, incluindo uma intervenção, enquanto continuamos a vigiar de perto os movimentos do mercado cambial», afirmou Yoshihiko Noda, segundo a Reuters, que o Diário Económico cita.

O objectivo é travar a valorização da moeda nipónica. O impacto de uma moeda forte nas exportações do país tem criado muitos problemas ao Governo do Japão.

domingo, setembro 05, 2010

Uma Palavra para Moçambique

Nos últimos dias viveram-se momentos conturbados em Moçambique, com a revolta de muitos cidadãos contra o aumento do custo de vida, em especial de alguns bens essenciais, nomeadamente o preço do pão, da água e da electricidade. Apesar do crescimento rápido da economia Moçambicana existem fatias da populaçaõ descontentes e excluídos do progresso da sociedade. Sempre assim foi, em todas as economias (mesmo as que apregoavam a igualdade de todas as classes sociais) e dificilmente algum dia deixará de ser. A riqueza vai sendo construída e a pouco e pouco vai sendo distribuída, acabando por chegar às mais vastas camadas da população. Inevitavelmente. Claro que, como aconteceu ao longo da história em tantas revoluções, o povo esfomeado é manipulado por agitadores com objectivos de poder bem concretos. Isto não deixará de estar a acontecer também agora em Moçambique. No entanto, impõe-se uma reflexão sobre o percurso de Moçambique nos últimos anos para podermos compreender o que resultará destes dias.


Nos últimos anos, Moçambique tem obtido níveis de crescimento económico entre os seis e os dez por cento anuais, parte significativa da população saiu da pobreza extrema em que vivia, segundo os dados da ONU e das instituições internacionais credíveis, existe bom ambiente para a realização de negócios, o Investimento Directo Estrangeiro não pára de crescer (incluindo IDE Português cada vez maior), nos últimos anos o país ultrapassou mais de uma vintena de países em termos de PIB per capita, existe hoje uma elite intelectual e técnica bem preparada que assume a governação das instituições, o país assumiu um carácter estratégico para muitos dos maiores grupos empresariais Lusófonos e acima de tudo e mais importante ainda, Moçambique é hoje uma referência de Boa Governação em África.

Perante esta realidade indesmentível, quero afirmar a minha confiança no futuro do país, na estabilidade política que as autoridades têm sabido promover e que acredito voltará muito brevemente. Não me parece que a agitação actual conduza a algo mais do que turbulência passageira. Sei bem que corro o risco de errar, mas não gosto de prognósticos no final do jogo e é agora que é importante afirmar convicções, quando o futuro ainda é uma incógnita. Astrólogos do dia seguinte, temos muitos na análise económica e política, catedráticos de explicações sobre as razões porque o mundo não é aquilo que disseram que ia ser e ainda têm cara para continuar a aparecer.

O desenvolvimento de Moçambique, a par do crescimento económico de Angola, é uma das maiores oportunidades para as empresas e trabalhadores Lusófonos, pois permite-nos desfrutar da vantagem competitiva que a língua comum nos oferece, em países de rápido crescimento e ambiente favorável aos negócios. Moçambique oferece ainda a vantagem de se poder andar na rua sem temer ser atingido por uma qualquer bala perdida.

Esta oportunidade imensa atraiu-me de alguns anos a esta parte e constitui mesmo a principal aposta estratégica quer para a minha empresa SOSABERES quer para o OLAE – Observatório Lusófona de Actividades Económicas, Centro de Investigação e Prestação de Serviços que fundei e do qual sou hoje Business CEO e Board Member.

Perante a turbulência dos dias que correm, em Moçambique, deixo aqui o meu testemunho que nem por um momento a minha confiança no futuro do país vacilou. Moçambique merece esta palavra: Confiança!

domingo, agosto 22, 2010

Tempo de Férias

No final de mais uma temporada de trabalho, chega o momento de descansar alguns dias intercalados com projectos que não podem esperar e exigem atenção. No final do mês Macroeconomicus estará de volta ao activo, com mais análise económica e debate interessado sobre o futuro da economia mundial.

sexta-feira, agosto 13, 2010

Irlanda faz disparar risco da Zona Euro

(Notícia do Jornal de Negócios)
O défice irlandês pode passar para 25% do PIB, caso o país tenha de resgatar o Anglo Irish Bank. O nervosismo voltou aos mercados de dívida.



A percepção de risco sobre os países do Sul da Zona Euro voltou a disparar. E está já no nível mais elevado das últimas cinco semanas, com o receio de que uma possível recaída da economia da região venha a agudizar a crise da dívida soberana que levou a Grécia a pedir ajuda à União Europeia e ao Fundo Monetário Internacional.


No espaço de apenas sete sessões, o índice Markit iTraxx Sovx para a Europa Ocidental, que segue os "credit default swaps" (CDS) de um total de 15 países da Zona Euro, apresentou uma subida de mais de 30 pontos base. Passou ontem de 109,5 para um máximo de cinco semanas, nos 140 pontos base.

terça-feira, agosto 10, 2010

Universidades públicas europeias estão proibidas de abrir campus em Portugal (Só as privadas o podem fazer).

(Notícia do Jornal Público)
A Universidade de Cádis, em Espanha, perguntou ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES) sobre a possibilidade de universidades estrangeiras poderem criar um campus universitário em território português que atribuísse graus já autorizados nos seus países. O argumento da instituição pública espanhola é que o tratado que institui a Comunidade Europeia prevê a "liberdade de estabelecimento".

O Estado português disse que não e pediu um parecer à Procuradoria-Geral da República (PGR) que corrobora a decisão. O texto foi ontem publicado em Diário da República.


Para o Ministério dos Negócios Estrangeiros e para o MCTES, não há dúvidas: uma "instituição de ensino superior pública de um Estado-membro não pode invocar o direito de estabelecimento (...) com vista à criação de uma extensão de uma instituição de ensino superior noutro Estado-membro, por estas normas não lhe serem subjectivamente aplicáveis".

Contudo, as instituições privadas podem abrir, "desde que cumpram os requisitos previstos no RJIES [Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior] para os estabelecimentos de ensino superior privados, ingressando, desta forma, na rede de ensino superior português".

Ainda assim, o MCTES decidiu ouvir a PGR para assegurar as decisões tomadas. Para a procuradoria a Universidade de Cádis só poderia instalar-se em Portugal com base numa decisão do Governo de Espanha. Este teria que fazer um acordo com o Governo português.

Como se trata de uma universidade pública, está integrada na administração pública de um Estado-membro e, por esse motivo, não pode invocar o "direito de estabelecimento" porque os seus fins não são de "natureza económica, nem tem uma ligação directa com a produção de bens ou a prestação de serviços no mercado comum", já que a sua oferta é o ensino e atribuição de graus académicos.

Tal como o MCTES, a PGR confirma que, além das instituições europeias de direito privado - que podem criar em Portugal uma entidade instituidora que seja reconhecida pelo MCTES -, as restantes só podem estabelecer relações de parceria e de cooperação com as instituições portuguesas para fazer parcerias, ter projectos comuns, "incluindo programas de graus conjuntos".

O PÚBLICO procurou ouvir a Universidade de Cádis sem sucesso.

terça-feira, agosto 03, 2010

Research BBVA: Mercados financeiros ainda são "fonte de preocupação" para a economia mundial

(Notícia do Jornal de Negócios)
A instituição presidida por Francisco González reforça o desvanecimento de tensões financeiras mas continua a assumir incertezas em relação à recuperação económica.


Segundo o “Cinco Dias”, o relatório da BBVA Research “Situación Global” sobre a situação económica mundial referente ao terceiro trimestre de 2010 assinala que “as tensões económicas começam a desvanecer-se” mas ressalva contudo a “incerteza” que ainda paira em relação aos mercados mundiais, em particular em relação ao europeu.

“Os riscos para a Europa e para a economia mundial provenientes dos mercados financeiros continuam a ser a maior fonte de preocupação”, assinala a publicação. Para a economia mundial prevê-se um crescimento de 4,4% para este ano, com ligeira desaceleração do crescimento para 4,1% para 2011, repartido de forma geograficamente “desigual”, impulsionada pelo desempenho dos países emergentes.

Francisco González, presidente do BBVA, realça a necessidade de consolidação orçamental “credível” para uma maior confiança nos mercados. E acredita que o impacto negativo da redução dos gastos devido a este esforço de consolidação será “menor do que o esperado”, já que a recuperação da credibilidade colmatará em parte os efeitos negativos da redução da procura interna.

Para a Europa, as dúvidas e tensões financeiras afectarão a confiança e o crescimento no segundo semestre de 2010 e inícios de 2011, ao passo que nos EUA a recuperação provavelmente perderá impulso com a situação nos mercados de trabalho e imobiliário. As provas de resistência levadas a cabo tiveram resultados “positivos” apesar de “assimétricos” na Europa.

O relatório aponta a “crescente divergência” entre as políticas monetárias dos diferentes países, levando os bancos centrais a atrasar a subida das taxas de juro e a manterem a taxa de referência baixa durante um período de tempo prolongado. Pressões inflacionistas continuarão “controladas”, permitindo aos bancos manter políticas monetárias “flexíveis”, defende o mesmo relatório.

O ritmo de desaceleração económica mundial está a acontecer de uma forma distinta e “suave”, com a procura privada nos EUA a permanecer ‘fraca’, sem o impulso de políticas económicas, ao passo que a China e o resto da Ásia a moderação do crescimento económico reduzirá os riscos de sobreaquecimento da economia, colmata o relatório.

Bancarrota na zona euro, por que não?

(Notícia do Diário Económico)
Os países da zona euro deviam poder entrar em bancarrota para não obrigar os países mais pobres pagar pelos erros dos outros, defende a Eslováquia.


"Lá porque um país entra em bancarrota, isso não devia afectar o futuro da zona euro", disse hoje Ivan Miklos, ministro das Finanças da Eslováquia.

"Pelo contrário, se não mudarmos as regras, se, pelo menos indirectamente, apoiarmos este perigo moral no futuro, receio que a Europa possa ficar debaixo de uma séria ameaça", disse o ministro numa entrevista à Bloomberg.

O Governo da Eslováquia, um dos 16 países que compõem a zona euro, opõe-se à contribuição de 110 mil milhões de euros que estes países vão fazer para ajudar as finanças da Grécia, o país que tem uma dívida pública e um défice mais elevado, e que é obrigado a pagar as taxas de juro mais elevadas na Europa.

Os comentários de Miklos alinham-no com a posição defendida pela chanceler alemã, Angela Merkel, que propôs mecanismos para uma saída pacífica da zona euro dos países que não consigam cumprir os seus compromissos, numa altura em que a União Europeia debate a criação de sanções mais duras para os países que violem as regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento.

A oposição da Eslováquia não foi, no entanto, suficiente para impedir a entrega de 20 mil milhões de euros do pacote de ajuda que a União Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional desenharam para ajudar a Grécia, que enfrentou um desequilíbrio das contas públicas de 13,6 por cento, no ano passado.

Na base da discordância, explica o ministro das Finanças, está o facto de a Eslováquia, o país mais pobre da zona euro, ser forçada a contribuir com o equivalente a 1,3% da produção económica, ao passo que o Luxemburgo, o país mais rico da zona euro, ir contribuir com 0,6%.

Testes de Stress: Banca portuguesa com resultados positivos

(Notícia da RTP)
Os testes foram realizados a 91 bancos da zona euro pelo Comité Europeu de Supervisores da Banca e esta tarde vai ser conhecida a avaliação global da Caixa Geral de Depósitos (CGD), Banco Comercial Português (BCP), Banco Português de Investimento (BPI) e Banco Espírito Santo (BES). O objectivo é analisar a resistência do sector bancário europeu e a capacidade que os bancos têm de suportar condições adversas e riscos nos mercados financeiros.

Os testes são coordenados pelo já referido Comité Europeu de Supervisores da Banca, com sede em Londres, e o objectivo é avaliar a saúde das instituições financeiras, o que inclui bancos e seguradoras.

Em análise está a situação de 91 entidades de toda a Europa que representam 65 por cento dos activos do sector, sendo que no caso de Portugal foram analisados o BPI, BCP, a Caixa Geral de Depósitos, o Espírito Santo Financial Group que controla o BES e a seguradora do grupo.
O próprio Banco Espírito Santo vai ser avaliado, mas o resultado só será divulgado no dia 6 de Agosto.
Os stress testes, ou testes de resistência, pretendem avaliar a capacidade da banca num cenário de agravamento das condições económicas e outros choques negativos.

Em concreto é avaliado o impacto nos créditos concedidos, como o aumento do crédito malparado, mas também perdas de investimento financeiros e efeitos da exposição das instituições financeiras à divida soberana.

É avaliado o capital próprio, as reservas, no essencial a capacidade que o banco tem para fazer face a absorver impactos negativos.

Franco optimismo

O sector da banca já deitou foguetes antes da festa, as bolsas europeias registaram ontem fortes subidas a reflectir o optimismo do sector financeiro num dia em que as declarações de responsáveis políticos e da banca deixam passar também a ideia de que os resultados globalmente são positivos.

Hoje mesmo o Diário Económico refere que já teve acesso aos resultados e que os quatro maiores bancos portugueses tiveram nota postiva, com o banco do Estado, a CGD, a cotar-se como o melhor da lista.

Os banqueiros portugueses já ontem tinham admitido os bons resultados e Fernando Ulrich, presidente do BPI, referiu mesmo que "os resultados do BPI nos testes de stress são bons" e foi mais longe dizendo o mesmo relativamente aos outros bancos.

Outro presidente, Ricardo Salgado, líder do BES, afastou o cenário de aumentos de capital na sequência dos testes do Comité Europeu de Supervisores da Banca, tendo mesmo admito que já se sente uma melhoria no mercado interbancário.

Da parte do Governo surgiu igual confiança nos resultados depois do ministro da Presidência, Pedro Silva Pereira, ter referido que "aguarda com serenidade e confiança os resultados dos testes" ao mesmo tempo que diz "ter todas as razões para confiar na solidez do nosso sistema financeiro".

segunda-feira, julho 19, 2010

Banca: Testes de stress divulgados a partir das 17 horas de sexta-feira

(Notícia do Diário Económico)
Os testes de resistência aos 91 bancos europeus, incluindo quatro portugueses, serão divulgados às 17 horas da próxima sexta feira, anunciou hoje o Comité de Supervisores Bancários Europeu.


Em comunicado, o comité indicou que irá divulgar na sua página oficial na Internet um resumo do resultado dos testes a partir das 17 horas de Londres, juntamente com um comunicado de imprensa onde apresentam as suas principais conclusões sobre a resistência do sector bancário europeu.

Os resultados individuais dos bancos serão então divulgados ou pelos bancos ou (também) pelos bancos centrais, nos seus respectivos sites.

O comité irá ainda disponibilizar no seu site, a partir das 18h30 (hora indicativa), um resumo dos resultados dos bancos por país.

Os testes são feitos a 91 bancos europeus, entre os quais quatro portugueses (BES, CGD, BCP e BPI), sendo o Banco de Portugal responsável pelo exercício em Portugal.

Os mercados financeiros solicitaram a publicação destes testes para que se conheça a exposição dos bancos europeus à dívida da Grécia e outros países da zona do euro.

O objectivo é analisar a resistência do sector bancário europeu e a capacidade que os bancos têm de suportar condições adversas e riscos nos mercados financeiros.

domingo, julho 18, 2010

FMI e Bruxelas suspendem ajuda à Hungria

(Notícia do Diário Económico)
O cancelamento da ajuda a Budapeste promete fazer tremer a Europa. Analistas alertam para a descida das obrigações, da bolsa e do florim.
A União Europeia (UE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) decidiram suspender este sábado a ajuda financeira que estão a dar à Hungria desde 2008 para evitar a bancarrota do país. Tudo porque o Governo da Hungria não adoptou as reformas e medidas de austeridade exigidas.


"Suspendemos as nossas conversas com o Governo húngaro, porque não conseguimos encontrar terreno comum suficiente e continuam a existir muitos problemas por resolver", afirmou Christoph Rosenberg, que liderava a missão do FMI na Hungria, à Bloomberg.

Isto significa que a Hungria não vai ter acesso aos restantes seis mil milhões de uma linha de crédito de 20 mil milhões de euros.

O Executivo húngaro de centro-direita, eleito em Abril, vai assim ter mais dificuldade em trazer o défice orçamental para 3,8% do PIB este ano e manter a confiança dos investidores.

Perante este cenário, os analistas alertam para uma forte queda das obrigações, da bolsa e do florim quando os mercados reabrirem amanhã.

"Europa" quer reforçar a defesa dos clientes bancários

(Notícia do Jornal EXPRESSO)
A Comissão Europeia apresentou novas propostas para melhorar a proteção dos titulares de contas bancárias e dos investidores, nos casos de falências das instituições financeiras.

Para reforçar a confiança dos investidores e depositantes europeus, sobretudo após a crise que se gerou com a falência do Lehman Brothers em 2008, a Comissão Europeia apresentou recentemente algumas propostas para melhorar a proteção dos titulares de contas bancárias e dos pequenos investidores.


As propostas destinam-se a criar uma maior transparência e responsabilidade no setor financeiro (bancos, seguradoras e sociedades de investimento), incluindo um novo regulamento europeu que exige aos países-membros a criação de fundos de re-embolso dos depositantes em caso de falências bancárias, existindo sempre uma garantia mínima, que deverá subir dos € 50 mil para os € 100 mil por cada cliente.

Portugal é um dos países que já garante aos depositantes a devolução do seu dinheiro de acordo com as novas propostas, depois de ter subido o montante garantido pelo Fundo de Garantia de Depósitos, dos € 25 mil para os € 100 mil em 2008.

Rapidez no re-embolso

As novas regras trazem, no entanto, um esforço de garantia mais rápida para os depositantes que se veem privados do seu dinheiro por falência das instituições financeiras. Se até agora o prazo de re-embolso do montante depositado ou investido era de três meses, a Comissão Europeia quer que o dinheiro dos clientes seja restituído pelos fundos de garantia nacionais num prazo de uma semana. Em Portugal, este prazo estava já consagrado para os depositantes com valores até € 10 mil, mas quem tivesse aplicado mais de € 10 mil teria de esperar 20 dias úteis para receber o seu capital. O novo prazo, que a Comissão Europeia propõe é de sete dias num valor até € 100 mil.

A mesma proposta prevê também que os bancos contribuam de forma regular para financiar os sistemas, sendo essas contribuições baseadas no nível de risco de cada um. A Comissão quer também alterar os sistemas de indemnização dos investidores, já que atualmente esse sistema apenas é aplicado em proteções contra fraude, irregularidades ou problemas com o sistema de funcionamento e não contra os riscos dos investimentos. O nível de compensação, segundo a proposta europeia, passaria a ser de € 50 mil.

Todas estas propostas estão sujeitas à aprovação pelo Conselho Europeu e ainda pelo Parlamento Europeu.

Em Portugal, existem duas maneiras de salvaguardar os investidores, seja através de um Fundo de Garantia de Depósitos (FGD) ou através do Sistema de Indemnização aos Investidores (SII). Duas formas de proteção e garantia do dinheiro dos clientes de instituições financeiras, em casos de falência, que são independentes. O SII garante os instrumentos financeiros e o dinheiro destinado expressamente à sua compra. O Fundo de Garantia de Depósitos garante os depósitos em numerário, com exceção dos montantes destinados à aquisição de instrumentos financeiros.

Fundo de Garantia de Depósitos

O Fundo de Garantia de Depósitos financia-se através de contribuições obrigatórias de todas as instituições que estão habilitadas a receber depósitos, com exceção das Caixas de Crédito Agrícola Mútuo. O Fundo garante o re-embolso da totalidade do valor global dos saldos em dinheiro de cada depositante, desde que esse valor não ultrapasse € 100 mil. Em 2008, o fundo amealhou mais de € 36,7 milhões que resultaram de uma taxa de 0,03% sobre o montante total dos depósitos dos bancos.

Sistema de Indemnização aos Investidores

O Sistema de Indemnização aos Investidores (SII) visa proteger os pequenos investidores, no caso de incapacidade financeira dos intermediários financeiros participantes para re-embolsar ou restituir o dinheiro ou os instrumentos financeiros que lhes pertençam. O SII garante a cobertura dos montantes devidos, aos investidores, por um intermediário financeiro participante no SII que não tenha capacidade financeira para restituir ou re-embolsar os instrumentos financeiros depositados pelos clientes ou geridos por conta destes ou o dinheiro depositado, pelos clientes, junto do intermediário financeiro e destinado expressamente a ser investido em instrumentos financeiros. O SII garante o re-embolso até ao limite de € 25 mil por cada investidor.

Macquarie corta recomendação e avaliação dos bancos portugueses

(Notícia do Jornal de Negócios)
A Macquarie reviu em baixa a recomendação e avaliação atribuída aos três maiores bancos nacionais cotados. Mas continua a considerar o BES "a melhor opção de investimento" na Península Ibérica.


A recomendação atribuída ao BPI e ao Banco Comercial Português (BCP) desceu de “neutral” para “underperform”. Já o Banco Espírito Santo (BES) viu o seu “rating” descer de “outperform” para “neutral”, continuando a ser apontado como “a melhor opção de investimento no nosso universo de cobertura ibérico”.

Também a avaliação destas três instituições foi revista em baixa. O preço-alvo do BCP desceu de 0,70 euros para 0,58 euros, o que significa que a casa de investimento está a avaliar o banco liderado por Santos Ferreira abaixo do seu actual valor. As acções do BCP seguem subir 1,13% para os 0,628 euros, o que face ao novo "target" corresponde a um potencial de descida de 7,64%.

O “target” do banco liderado por Ricardo Salgado desceu de 3,95 euros para 3,85 euros, o que ainda confere às acções potencial de subida face ao actual valor das acções (3,461 euros) e, no caso do BPI, a avaliação caiu de 1,75 euros para 1,50 euros, um valor que também está abaixo da actual cotação em 4,64%.

“Os bancos portugueses enfrentam riscos para o capital nos próximos trimestres. Acreditamos que os riscos soberano, económico e regulatório podem colocar mais pressão mas actuais posições de capital”, refere a nota de investimento assinada por Benjie Creelan-Sandford e Geoff Dawes.

Para os mesmos especialistas, as avaliações podem ser “visualmente atractivas”, mas a incerteza em relação ao capital deverá funcionar como uma “barreira”. A casa de investimento enumera quatro riscos para os bancos nacionais.

O primeiro deles prende-se com o risco soberano, com a Macquarie a sublinhar que os receios em torno da situação orçamental justificaram o “fraco” desempenho dos bancos portugueses. “O risco directo para o capital é limitado, mas os resultados e sentimento estão em risco”, ressalva a mesma fonte.

O segundo risco é económico, uma vez que “a austeridade orçamental pode afectar uma recuperação económica, causando mais stress nos livros de empréstimos”. A casa de investimento sublinha que considera que Portugal está melhor colocado para uma recuperação do que a Espanha.

O terceiro risco está relacionado com o fundo de pensões, pois os desvios do mercado deverão ter um impacto “negativo”.

A regulação é assumida como um quarto risco, pois as propostas de Basileia III podem também potencialmente “desgastar” a posição de capital regulatória dos três bancos.

“Vemos ricos à posição de capital dos bancos portugueses vindos do stress económico, riscos com o fundo de pensões e regulação”, conclui a casa de investimento que aponta o BCP e o BPI como mais expostos aos mesmos.

“Acreditamos que o BES é o melhor colocado”, ressalvam os analistas que, contudo, alertam para os desafios colocados pelos actuais receios em relação ao risco soberano.

Ministros das Finanças da Zona Euro discutem a divulgação dos testes de "stress"

(Notícia do Jornal de Negócios)
O ministros das Finanças europeus discutem hoje a extensão e os detalhes da divulgação dos resultados dos testes de "stress" à banca, que acontecerá mais para o final do mês.


Os ministros das Finanças da Zona Euro, que se encontram hoje em Bruxelas, estão sob pressão para divulgar mais acerca dos resultados dos testes de “stress” feitos à banca. Os resultados dos testes que estão a ser realizados à banca serão divulgados no final do mês, com a finalidade de dar mais credibilidade e transparência ao sistema financeiro europeu.

Os reguladores estão a examinar a solidez de 91 bancos a que forem feitos os testes, com a finalidade de descobrir se estes sobreviveriam às perdas provocadas por perdas potenciais no mercado de obrigações soberanas. Na reunião de hoje de ministros das Finanças em Bruxelas irão discutir qual o detalhe da apresentação dos resultados dos testes.

“Eles [os testes] são um grande passo na direcção certa”, disse o resposável pela estratégia de investimento em divida do Bank of America Merril Lynch, John Wraith à Bloomberg. “Não sabemos alguns dos detalhes de como estão a ser conduzidos os testes, e se alguns precisarão de um ter os seus capitais reforçados, potencialmente numa escala elevada, como será isso levado a cabo”, questionou o especialista.

Crise na Europa põe em xeque retoma da economia global

(Notícia do Diário Económico)
Os EUA reviram em baixa o PIB de 2010 à custa da crise do euro. A China não valoriza o iuan à custa da crise no euro. Este ano, a Europa ameaça o mundo.


Se fosse um jogo de futebol, o comentário apropriado era o tão célebre "bola cá, bola lá". A crise financeira nasceu nos Estados Unidos e atirou a Europa e o resto do mundo para uma recessão sem precedentes. Agora os desequilíbrios estruturais da zona euro atiraram a Europa para uma crise de financiamento, que por sua vez ameaça a recuperação das restantes economias mundiais.

O director da Reserva Federal dos Estados Unidos (Fed), Ben Bernanke, já o havia dito: a crise na Europa ia deixar "alguma mossa" na economia americana e, por isso, a Fed reviu em baixa a previsão de crescimento dos EUA para este ano, motivada pela "crise de dívida soberana na Europa, a volatilidade dos mercados e níveis de desemprego elevados", a que se alia ainda um mercado imobiliário que tarda em arrancar. A maior economia mundial vai crescer entre 3 a 3,5% em 2010. "Há um risco de se entrar num ciclo vicioso que pode vir a ser perigoso", comenta Jacques Cailloux, economista-chefe do Royal Bank of Scotland (BRS), sobretudo porque "todos estes problemas voltam a desequilibrar o comércio mundial". Marco Annunziata, do Unicredit concorda e chama a atenção para o impacto psicológico deste ciclo vicioso. "Isto é quase um paradoxo. Apesar da retoma ser muito mais forte nos EUA do que na Europa, a Fed parece agora mais assustada e o BCE cautelosamente mais optimista". O economista diz que o principal problema "virá da procura". É que a recuperação da zona euro "vai depender da procura externa", mas "os outros países também precisam de se reequilibrar" e não serão grande ajuda. Por outro lado, se as economias europeias terão dificuldade em exportar umas para as outras, dificilmente conseguirão direccionar procura para o mercado americano.

quinta-feira, julho 15, 2010

FT: Portugal enfrenta décadas de austeridade e pode sair do euro

(Notícia do SAPO Economia)
Financial Times diz que risco de ruptura no euro é sério e que deve ser criado um mecanismo para sair da união monetária.


"O aspecto mais significativo da crise da zona euro é que o risco de ruptura do bloco já não é igual a zero. A possibilidade de um membro sair [da união monetária] é reconhecida pelos apoiantes do euro e poderá ter ajudado a suster a evolução dos ‘spreads' das obrigações", lê-se num artigo de opinião do FT publicado no "LEX Column".

E uma vez que "Grécia, Portugal, Irlanda e Espanha - os principais beneficiários do euro - enfrentam décadas de austeridade para conseguirem recuperar os níveis de competitividade perdidos" poderá "chegar o tempo em que algum deles vai decidir que estar no euro já não compensa".

O problema, nota o FT, é que no quadro institucional actual não está previsto qualquer mecanismo formal que permita a um país deixar de usar o euro para regressar à sua divisa original. Esse mecanismo, escreve, "tem de ser inventado" e os políticos, recomenda, "devem estar preparados para esta situação".

O FT aponta ainda o dedo à Grécia, "o país menos integrado da UE" que pode ser o primeiro a sair do euro. A hostilidade de alguns dos seus pares europeus pode mesmo impulsionar a sua retirada. "É o elo mais fraco", sublinha o jornal.

Portugal pode sair do euro?

Esta segunda-feira, o presidente da República respondeu às declarações do Nobel da Economia, Paul Krugman, que disse que a Grécia poderia vir a sair da zona euro, arrastando consigo Portugal e outros países da eurolândia.

"Não acredito que Portugal alguma vez saia da zona euro", disse Cavaco Silva em reacção às declarações de Paul Krugman.

"Eu estudei muito a zona euro, tenho livros publicados sobre a zona euro, eu não acredito que Portugal alguma vez saia da zona euro, nem acredito que a Grécia venha a sair", afirmou o chefe de Estado, Aníbal Cavaco Silva, quando questionado sobre as declarações de Paul Krugman, prémio Nobel da Economia.

Numa entrevista publicada no El País, Paul Krugman disse acreditar que "há uma possibilidade plausível de a Grécia ser forçada a sair do euro" e considerou que isso contagiaria todos os outros países da zona euro, com especial incidência para Portugal.

segunda-feira, julho 12, 2010

Berlim tem planos para regular insolvência de países da Zona Euro

(Notícia do Público)
O Governo alemão tem planos para responsabilizar todos os detentores de títulos de dívida pública, caso um país da zona euro deixe de ter condições para satisfazer os seus compromissos, noticiou hoje a revista alemã Der Spiegel.
Um documento elaborado na chancelaria federal, a que aquela revista teve acesso, aponta ainda para a criação de uma organização independente para supervisionar a insolvência de Estados, propondo-se que, se houver graves problemas de endividamento, estes possam prorrogar os prazos de pagamento, ou pagar menos aos credores.


Até agora, o Governo alemão só se tem referido de forma vaga à possibilidade de regular a falência ordenada de um determinado país da zona euro.

Segundo o Der Spiegel, o ministro das finanças, Wolfgang Schaeuble, poderá apresentar as novas propostas já na reunião de hoje do Ecofin, em Bruxelas, que debate a reestruturação financeira da União Europeia, sob a direcção do presidente do Conselho Europeu, Herman van Rompuy.

Debate controverso

O debate sobre a insolvência de um país da zona euro tem sido controverso, e tanto a Comissão Europeia como a maioria dos países são contra a reestruturação da dívida da Grécia, por exemplo.

No entanto, muitos especialistas consideram necessário reduzir a dívida pública grega a metade, para que Atenas possa atender aos seus compromissos, já depois de receber as ajudas comunitárias previstas.

As novas propostas de Berlim reveladas pelo Der Spiegel não são claras no que se refere à criação de um Fundo Monetário Europeu, à imagem do Fundo Monetário Internacional (FMI), proposta por Schaeuble.

No entanto, segundo a mesma publicação, faz-se referência expressa a um Clube de Berlim, análogo ao Clube de Paris, que se ocupa da reestruturação das dívidas de países em desenvolvimento, e dos perdões das mesmas dívidas.

domingo, julho 11, 2010

Krugman admite saída de Portugal do Euro

(Notícia do Diário Económico)
O Nobel da Economia acredita que a Grécia vai ser forçada a abandonar a zona euro, arrastando consigo Portugal.
"Não ficaria surpreendido de ver um ou dois países serem forçados a sair do euro. Creio que há uma possibilidade plausível de que a Grécia se veja obrigada a sair [do euro] e esse contágio provocaria sérios problemas em todos países, especialmente em Portugal, e logo depois possivelmente Espanha e Irlanda ficariam enredadas", afirmou Paulo Krugman, em entrevista à imprensa espanhola, citada pelo 'El País'.


Porém, o economista não prevê o colapso da Europa, afirmando que "ficaria surpreendido se a França, a Alemanha ou os países do Benelux (Bélgica, Holanda e Luxemburgo) não se mantivessem agarrados à moeda única num futuro mais imediato".

O também colunista do The New York Times antecipa ainda um longo período de baixo crescimento da economia mundial sem criação de emprego, tecendo duras críticas à decisão dos países do G20 de sujeitarem-se a objectivos de redução do défice orçamental assentes num modelo de espartilho orçamental.

"Foi algo escandaloso dado que o estado da economia mundial encontra-se muito longe de estar recuperado".

Nesse sentido, o professor da Universidade de Princeton aponta o dedo à Alemanha, criticando a política de austeridade avançada pelo Governo de Angela Merkel.

O Executivo de Berlim "está a adoptar uma posição que não só apenas não é boa para a Alemanha, mas que também é realmente má para a Europa", considera Krugman.

"A Alemanha está realmente a desempenhar um papel destrutivo", afirma. Tudo porque, explica, "parte do problema da zona euro é que há muitas vias de contágio, pelo que a austeridade de um país leva à depressão nas restantes nações".

sexta-feira, julho 09, 2010

Macroeconomicus: 5 000 Visualizações!

Tenho a enorme satisfação de anunciar que o blogue Macroeconomicus ultrapassou as 5 mil visualizações, com mais de dois mil visitantes.

Sendo um blogue especializado e com uma forte componente técnica é de realçar a abrangência de leitores que hoje frequentam regularmente o Macroeconomicus. Temos cerca de 40 leitores muito assíduos, que lêem o blogue numa base praticamente diária e mais de 50 leitores que regressam de quando em vez para se actualizarem com as discussões do blogue, totalizando cerca de cem pessoas que participam regularmente neste forum de reflexão.

Todos vivemos num mundo cheio de pressa e prazos apertados com pouco tempo disponível para a reflexão, o que ainda mais enaltece a participação e leitura regular de tantos interessados.

Parabéns a todos.

Prometo continuar a trabalhar no mesmo sentido!

José Paulo Oliveira

quarta-feira, julho 07, 2010

Risco de nova recessão é uma dor de cabeça para Portugal

(Notícia do Jornal EXPRESSO)
Se houver recaída mundial na recessão, a reestruturação da dívida portuguesa tornar-se-á premente. O momento incontornável chegará mais cedo, sublinha-nos Ricardo Cabral, professor de Economia da Universidade da Madeira, que já alertara no Expresso para a inevitabilidade de um reescalonamento das dívidas soberanas no grupo de países da zona euro designado por PIGS (acrónimo pejorativo para Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha).


A recaída mundial na recessão - double-dip, na designação anglo-saxónica agora em voga - acarretará "menores taxas de crescimento nominal e mais elevadas taxas de juro que dificultarão o pagamento da dívida e que, portanto, tornam mais provável uma situação de incumprimento. Aceleram algo que, como defendi antes, é na prática inevitável". No entanto, o economista acautela que, nos tempos que correm, "os mercados são algo imprevisíveis e é difícil antecipar o comportamento do Banco Central Europeu, que se afigura critico na situação em que os PIGS se encontram".

Só a psicologia já molesta

Mesmo sem uma recaída eminente, só o próprio receio dos investidores internacionais em relação a um double-dip pode afectar negativamente a situação nos países mais frágeis, como o nosso, de "duas formas", adianta o professor. Por um lado, as expectativas mais negativas podem afectar o investimento, as exportações e outros indicadores vitais da economia, levando a uma queda da taxa nominal do crescimento económico. Por outro lado, uma maior aversão ao risco nos mercados financeiros internacionais pode gerar um aumento do prémio de risco exigido aos activos financeiros, o que poderá implicar um aumento da taxa de juro nominal sobre a divida pública e privada dos PIGS.

Como se sabe, o nível de endividamento na generalidade das economias desenvolvidas (e, em particular, dos PIGS) está a um nível historicamente elevado. O que torna a situação actual mais frágil em relação a outras situações de risco de double-dip no passado. "Se a taxa de crescimento económico nominal baixar, aumenta naturalmente a dificuldade em gerar rendimento para pagar os juros dessa divida", recorda Ricardo Cabral, que dá um exemplo: "Se a taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) nominal é de 3% e a taxa de juro a que a dívida é financiada é de 5%, então o peso do serviço da dívida em percentagem do PIB aumentará. Contudo, se a taxa de crescimento do PIB for 5% em termos nominais e a taxa de juro a que essa dívida é financiada é 4%, o peso do serviço da divida em percentagem do PIB diminuirá".

Missão possível?

No caso português o exercício "matemático" está feito. Ricardo Cabral recorda-o: "Portugal, para estabilizar a sua posição líquida de investimento internacional em percentagem do PIB em 2019 ao mesmo nível que a actual, teria de registar uma taxa de crescimento nominal [significa que não é "descontada" a inflação] de cerca de 7,5% e simultaneamente reduzir o défice comercial de 7,7% do PIB em 2009 para 1% do PIB em 2014 e mantê-lo em 1% do PIB o resto da década". Missão possível?

Em suma, se a psicologia recessiva se acentuar entre os investidores internacionais e por contágio nos agentes da economia real, isso levará, por um lado, "a uma redução da taxa de crescimento económico, o que tornará o serviço da dívida (i.e., pagamento dos juros) mais oneroso (em percentagem do PIB) e, por outro, "a uma maior aversão ao risco nos mercados financeiros fazendo com que essa divida seja refinanciada a taxas de juros mais elevadas, tornando o serviço da dívida também mais oneroso em percentagem do PIB".