domingo, outubro 31, 2010

Roubini: Portugal em risco de recorrer ao fundo de resgate

(Notícia do Diário Económico)
Nouriel Roubini, economista que previu a última crise financeira, vê Portugal e a Irlanda com o mesmo destino da Grécia.


"Apesar do plano de resgate anunciado, apesar das ajudas à Grécia e apesar dos testes de resistência à banca, as dívidas dos países periféricos continuam a apresentar problemas. E o crescimento económico da Europa, especialmente nos PIGS, vai ser muito baixo e inclusivamente negativo. O panorama assusta", afirmou Nouriel Roubini, em entrevista ao ‘El País'.

Na mesma linha, o reputado economista - apelidado de Dr. catástrofe - afirma que "com dívidas tão altas e com os planos de austeridade, a deflação é um risco sério", prevendo que "países como a Grécia vão ter que reestruturar a sua dívida e isso provocará uma nova crise orçamental". Para Roubini, "já não é uma questão se vai acontecer, mas apenas quando".

E Roubini aponta os culpados da difícil situação dos países periféricos: o Banco Central Europeu (BCE) e a Alemanha. "A teimosia do BCE, que se empenha em ver fantasmas de inflação, é um desastre para a Europa e em particular para os países periféricos", defende. E, avisa o economista, "quando o euro atingir os 1,60 dólares desaparecerá qualquer possibilidade de recuperação, e provavelmente veremos outro país a pedir um resgate como fez a Grécia. Portugal e Irlanda são os países pior situados". Já Espanha, salienta, "está muito melhor que a Grécia, e melhor que a Irlanda ou Portugal", mas, alerta, "tem uma dívida privada enorme, um desemprego muito elevado que não vai baixar no médio prazo e uma bolha imobiliária".

segunda-feira, outubro 25, 2010

ESTAGNAÇÃO ECONÓMICA: Portugal tem 3º menor crescimento da década no mundo

(Notícia do Diário de Notícias)
O principal receio é que o modelo de Portugal e Itália se transforme na nova realidade dos países desenvolvidos, escreve o 'El País'.
Portugal teve o terceiro menor crescimento económico do mundo na última década (6,47%), ganhando apenas à Itália (2,43%) e ao Haiti (-2,39%), numa lista de 180 países publicada pelo El País com base em dados do FMI.
Embora o jornal espanhol reconheça que "quando as economias alcançam um certo nível de desenvolvimento, o ritmo de crescimento abranda", salienta que, particularmente nos casos de Portugal e Itália, verificou-se aquilo a que os académicos chamam de crescimento em L, à semelhança do Japão, que leva de avanço não uma, mas duas décadas perdidas.
Este modelo caracteriza-se por um prolongado período de estagnação económica, com crescimentos próximos de 0%, desemprego elevado, fraco consumo e excesso de capacidade produtiva. O maior receio é agora que o mesmo modelo alastre aos outros países desenvolvidos, se não forem tomadas as medidas adequadas.
"Japão, Itália e Portugal têm em comum esse padrão de crescimento em L, que se traduz num círculo vicioso da economia e que muitos economistas atribuem à ausência de uma política fiscal restritiva, controlo das contas públicas e redução do endividamento", com a dívida pública a rondar os 30% do PIB em Itália, quase 80% em Portugal e 217% no Japão, lê-se no artigo. E cita o professor da IE Business School Rafael Pampillón, que defende que a falta de competitividade e a rigidez destes mercados explicam como se chega a manter um crescimento tão débil durante tanto tempo, conclusões em boa parte partilhadas pela Comissão Europeia e pelo FMI.
Por último, o jornal lembra que, apesar das enormes quantidades de dinheiro injectadas na economia, o crescimento custa a descolar, exemplificando com os Estados Unidos.

segunda-feira, outubro 18, 2010

FT: Como o euro esteve à beira do colapso

(Publicado pelo Diário Económico)
Muitas conversas e longas entrevistas mostram o quão perto esteve a moeda única de um colapso e como o símbolo máximo da integração europeia esteve dependente das instituições internacionais e da administração norte-americana.



Quinta-feira, 22 de Abril, 2010

Embaixada do Canadá, Washington

Numa noite de Primavera, o nº 501 da Pennsylvania Avenue foi palco de um jantar que reuniu alguns dos governantes mais poderosos do mundo. O edifício, situado em pleno centro administrativo, legislativo e judicial dos EUA, é um misto de modernismo e neoclassicismo, a que alguns críticos de arquitectura chamam burlesco. Ora, o tema em discussão naquela noite nada tinha de burlesco. Pelo contrário, era especialmente grave: como salvar a união monetária europeia. Nesse encontro, os ministros das Finanças e os presidentes dos bancos centrais dos sete maiores países industrializados (G7) apenas tinham em mente a possibilidade de a explosão da dívida soberana grega poder desencadear uma crise à escala europeia e desestabilizar o sistema financeiro global.

"Não podemos ignorar que os EUA olham para a incapacidade de agir da Europa com crescente incredulidade e apreensão", referiu no encontro Alistair Darling, ex-ministro das Finanças britânico. "A mensagem é clara: ‘Por que não agem? Sabem muito bem que têm de agir'".

Onze dias antes, os líderes europeus e o Fundo Monetário Internacional (FMI) tinham prometido à Grécia uma ajuda no valor de 45 mil milhões de euros, porém, no encontro realizado na Pennsylvania Avenue - que teve como anfitrião Jim Flaherty, ministro das Finanças do Canadá -, as partes concordaram que esse valor provavelmente ficaria muito aquém do necessário.

"Os presentes expressaram uma preocupação profunda face aos perigos de um contágio global. A discussão foi particularmente sincera e frontal. Ficou claro que os EUA e o FMI estavam dispostos a ajudar. Desta vez, os EUA não se comprazeram com a desgraça alheia. Apoiaram-nos e disponibilizaram-se para nos ajudar recorrendo à sua experiência na gestão da crise", recorda Olli Rehn, Comissário Europeu dos Assuntos Económicos e Monetários.

Nessa mesma noite, antes de Rehn e dos restantes presentes - incluindo os presidentes da Reserva Federal dos EUA e do Banco Central Europeu, do FMI e do Banco Mundial - saírem da embaixada, chegou-se a acordo sobre a necessidade de se tomarem medidas urgentes e colectivas.

Seis meses depois temos consciência de que evitaram uma tragédia no último minuto. Muitas e longas entrevistas a fontes próximas deste processo mostram quão perto esteve a moeda única de um colapso e quanto o resgate da principal expressão da integração europeia esteve dependente de instituições internacionais e da administração americana.

A constante preocupação dos mercados de obrigações em relação ao panorama económico e orçamental de alguns membros da zona euro, como Irlanda e Portugal - para não falar na Grécia -, lembra-nos que as lições de Abril e Maio são hoje mais pertinentes do que nunca, pois mostram-nos que, apesar de o processo de decisão da Europa nos parecer amiúde penosamente lento, os seus líderes farão o que for preciso para manter viva a moeda única.

O euro, ao contrário de outras moedas, é mais do que um simples meio de pagamento e fonte de valor. Simboliza a aspiração da Europa de ser respeitada como uma comunidade de nações soberanas empenhadas numa experiência única de união na paz e na prosperidade. Porém, e como a análise dos acontecimentos deste ano deixou claro, os governantes terão muito trabalho pela frente para debelarem as falhas e debilidades económicas que têm fragilizado este projecto desde o início.



Sábado, 24 de Abril, 2010

Sede do FMI, Washington

Às sete da manhã, dois dias depois do jantar na Embaixada do Canadá, Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu (BCE), Olli Rehn e George Papaconstantinou, ministro das Finanças grego, reuniram-se no gabinete amplo e luminoso de Dominique Strauss-Khan, director-geral do FMI. Foi aqui que gizaram um acordo para salvar a Grécia, cabendo ao FMI assegurar metade do valor disponibilizado pela zona euro. Pela primeira vez desde o lançamento do euro, em 1999, era preciso salvar um país membro do abismo em nome da unidade europeia e da estabilidade financeira global.

Até domingo, 2 de Maio, foram reunidos 110 mil milhões de euros para salvar a Grécia: 80 mil milhões garantidos pela zona euro e os restantes 30 mil milhões pelo FMI. Nos cinco dias subsequentes, quando uma vaga de pânico se expandiu por todos mercados financeiros mundiais ameaçando engolir a Irlanda, Portugal e Espanha, os líderes da União Europeia (UE) viram-se obrigados a traçar um segundo plano, cuja magnitude fora até aí impensável: um fundo de ajuda aos 16 países da zona euro no valor de 750 mil milhões de euros, coadjuvado por uma iniciativa sem precedentes do BCE de comprar títulos da dívida pública.



Sexta-feira, 7 de Maio, 2010

Sede da UE, Bruxelas

A história de como este segundo plano foi posto em prática começa noutro jantar, onde foram servidos espargos e rodovalho aos presidentes e primeiros-ministros da Europa. A maior parte está habituada a ouvir repreensões das autoridades europeias sobre a má gestão das finanças públicas, mas, nessa noite, a linguagem utilizada foi especialmente apocalíptica. Quando Jean-Claude Trichet deu por concluída a sua firme intervenção, nenhum dos presentes duvidou que estava em jogo o futuro do euro.

Trichet usou um gráfico para ilustrar a forma como os mercados financeiros conduziram as taxas de juro das obrigações dos governos mais frágeis da zona euro a níveis muito elevados e insustentáveis, e anunciou que a crise já não se circunscrevia apenas à Grécia. Um dos participantes recorda as palavras do presidente do BCE: "Acrescentou que ‘este problema não diz somente respeito a um país, mas sim a vários. É um problema europeu e global que se está a deteriorar muito rapidamente e com grande intensidade'".

Os seus comentários produziram o efeito desejado. Os líderes dos países mais pequenos da zona euro, menos entrosados com os mercados financeiros mundiais, não tinham até àquele momento noção da verdadeira gravidade da crise. Alguns dos líderes mais experientes mostraram-se surpreendidos com a magnitude da situação. Um embaixador europeu lembra-se de olhar para o presidente francês e de ver "um Nicholas Sarkozy lívido e atónito. Nunca o tinha visto tão pálido", afirma.

Trichet disse aos líderes europeus que a crise era parcialmente da sua responsabilidade por terem ignorado os apelos do BCE em prol da disciplina orçamental após o lançamento do euro. Sublinhou também que o BCE alertou repetidas vezes para a necessidade de um controlo rigoroso das necessidades de financiamento e da despesa pública. Só assim se poderia cimentar um grupo de estados que partilham a mesma moeda, mas não dispõem de uma união política ou orçamental semelhante à dos EUA. Os governos não cumpriram com as suas obrigações e estavam agora a pagar a factura. Trichet terminou solenemente dizendo que "chegou o momento de assumirem as vossas responsabilidades".

O debate foi aceso e tenso. Sarkozy instou o BCE a seguir o exemplo da Reserva Federal dos EUA e do Banco de Inglaterra que, durante a crise financeira mundial, deram um passo corajoso ao decidirem comprar obrigações do Tesouro para "descongelar" os mercados de crédito. "Sarkozy bradava: ‘Chega de hesitações!", recorda um político europeu. O presidente francês teve o apoio dos primeiros-ministros italiano e português, Silvio Berlusconi e José Sócrates, bem como de outros chefes de governo de países do Sul da Europa.

A chanceler alemã, Angela Merkel, defendeu o BCE alegando que não cabia aos líderes europeus dar ordens ao banco central, cuja independência está consignada no Tratado da UE. Todos os presentes ouviram atentamente os seus argumentos, não só porque a Alemanha é a economia europeia mais pujante como tinha, nesse mesmo dia, aprovado no Parlamento um apoio no valor de 22,4 mil milhões de euros, a somar à ajuda da UE à Grécia - a maior fatia do bolo partilhado por todos os países da zona euro. Merkel contou com o apoio dos primeiros-ministros da Holanda e da Finlândia, Jan Peter Balkenende e Matti Vanhanen.

Trichet estava ciente de que a compra de obrigações do Tesouro por parte do BCE era uma opção, ainda que extremamente controversa, dados os potenciais riscos inflacionistas, mas necessária ‘in extremis'. Depois de uma reunião do conselho de governadores do BCE na quinta-feira, em Lisboa, disse numa conferência de imprensa que nem ele nem os seus colegas haviam discutido esta questão. Tecnicamente é verdade, uma vez que não constava da agenda de trabalhos. No entanto, na cimeira de sexta-feira, não podia voltar atrás sob pena de ser acusado de ceder à pressão de Sarkozy e dos seus aliados. Se a independência do BCE fosse posta em causa, os danos daí resultantes seriam irreparáveis.

Trichet optou por atacar aqueles que o criticavam lembrando-lhes que, desde Agosto de 2007, o BCE injectara liquidez no sistema bancário europeu no valor de centenas de milhares de milhões de euros para evitar o seu colapso, mas reconheceu que o banco central nunca pediu aos líderes europeus para adoptarem medidas específicas nesta matéria. "Trichet mostrou-se muito firme neste aspecto. Disse: ‘Não nos peçam para fazer o que quer que seja. Faremos o que considerarmos apropriado fazer'".

A cimeira corria o risco de tornar-se numa mera declaração de intenções entre duas filosofias de união monetária que, muito antes e muito depois de nascer o euro, já eram antagónicas: a visão alemã, que defende o rigor orçamental e a independência do banco central, e a visão francesa, assente num "governo económico" para a Europa conduzido por políticos eleitos.

Em termos práticos, era preciso encontrar uma solução antes de os mercados asiáticos abrirem na segunda-feira. Os 16 líderes incumbiram a Comissão Europeia (CE) de criar um "mecanismo de estabilização" capaz de proteger a zona euro e convocaram os ministros das Finanças da UE para uma reunião de urgência no sábado, 9 de Maio, a fim de aprovarem o plano.



Fim-de-semana, 8 e 9 de Maio, 2010

Bruxelas

"Estava previsto regressar à Finlândia para participar num programa de televisão, mas percebi que era importante ficar em Bruxelas. Reunimos as tropas na manhã de sábado e trabalhámos as propostas durante 24 horas para estarem prontas antes das 13.00 de domingo", realça Rehn.

Quis o destino que a reunião ministerial não começasse a bom ritmo. O ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, sentiu-se mal assim que chegou a Bruxelas e foi levado para o hospital. "A ausência de Wolfgang foi um choque para todos", lembra a sua homóloga francesa, Christine Lagarde, que disse aos seus colegas: "Não podemos continuar sem a Alemanha. Devemos esperar'. Mas o tempo passava e sabíamos que tínhamos de concluir as negociações antes da abertura dos mercados asiáticos, porque estava em causa o futuro do euro".

Thomas de Maizière, ministro da Administração Interna da Alemanha, substituiu Schäuble na reunião. Dava o seu passeio de domingo no campo, nos arredores de Dresden, quando foi informado que teria de embarcar num avião do governo com destino a Bruxelas. Antes da sua chegada, porém, já se sabia que a Alemanha não ia aceitar as propostas da Comissão.

O plano da CE previa a criação de um fundo especial no valor de centenas de milhares de milhões de euros que ficaria sob a sua alçada e venderia obrigações com garantias dos governos, mas a Alemanha rejeitou esta modalidade argumentando que todos os países que precisem de ajuda financeira devem recebê-la sob a forma de empréstimos bilaterais concedidos por outros governos, como aconteceu no caso da Grécia.

Entretanto, os conselheiros jurídicos da UE alertaram a Comissão para o facto de o seu plano ser incompatível com a lei europeia. Rehn recorda: "Se a Alemanha tivesse subscrito as propostas da CE, esta teria motivos para se regozijar. Mas os alemães fizeram valer o seu ponto de vista lembrando que a apreciação do Tribunal Constitucional da Alemanha nunca poderia ser favorável".

Merkel e Sarkozy trocaram impressões por telefone e chegou-se a um consenso: não se definiu a forma de angariar o dinheiro, mas definiu-se o valor necessário. A soma astronómica, 500 mil milhões de euros, decompunha-se assim: 60 mil milhões em fundos europeus provenientes do orçamento da União e 440 mil milhões em garantias dos governos da zona euro. Strauss-Khan tranquilizou os líderes europeus informando-os de que o FMI iria disponibilizar uma verba igual a metade do valor definido, isto é, 250 mil milhões, o que perfaz um total de 750 mil milhões de euros para salvar a zona euro.

O presidente norte-americano, Barack Obama, manteve conversas telefónicas com Angela Merkel e outros líderes europeus, e realizou-se uma ‘conference call' com os ministros do G7, quatro dos quais europeus. "Houve vários processos paralelos: as conversações entre os 27 estados membros da UE em Bruxelas, com o G7 e as chamadas telefónicas entre Nicholas Sarkozy e Angela Merkel", explica Christine Lagarde. "Fiz a ponte com o G7 e os 27 porque Elena Salgado, ministra das Finanças espanhola, presidia à reunião da UE e Schäuble se encontrava no hospital. Por vezes estava em duas frentes: o G7 num telefone e os 27 noutro".

O acordo levou tempo a alcançar. Alguns governos receavam apresentar aos parlamentos nacionais um novo pedido de ajuda no valor de milhares de milhões de euros para países vizinhos em dificuldades, visto o pacote de ajuda à Grécia ser ainda muito recente. Queriam um mecanismo diferente, mas ninguém sabia em que moldes. Já passava da meia-noite quando Lagarde propôs fazerem uma curta pausa. "Senti a pressão. Não tirava os olhos do relógio".

Segundo Rehn, Maarten Verwey, director de Relações Internacionais no Ministério das Finanças holandês, foi quem desbloqueou o impasse ao propor a criação de um "veículo de finalidade especial" (SPV, na sigla inglesa) que pudesse angariar fundos e fosse apoiado pelos 440 mil milhões de euros de garantias governamentais. A Alemanha deu luz verde pelo facto de o SPV não ser controlado pela Comissão e de as obrigações comuns da zona euro não constarem da proposta.

Este acordo foi quanto bastou para o BCE anunciar um programa de compra de títulos do Tesouro com vista a estabilizar os mercados. Uma decisão que gerou forte controvérsia na Alemanha, por ser visto como consequência da pressão francesa. Pouco depois, veio a público que Axel Weber, presidente do banco central alemão, se opôs a esta solução e rompeu relações com os seus colegas do BCE.

A iniciativa foi recebida com entusiasmo pela maioria dos ministros das Finanças da UE, mas houve quem tivesse uma opinião mais crítica. "A decisão do BCE foi muito positiva e tal como todas as boas decisões devia ter sido tomada mais cedo", ironizou Jacek Rostowski, ministro das Finanças polaco.

Durante a noite de 9 de Maio, os ministros das Finanças tiveram a certeza de que o BCE os iria apoiar, porém, nem Trichet nem Lucas Papademos, representante do banco central na reunião de Bruxelas, deram qualquer pista sobre os seus planos. "Estávamos confiantes de que o BCE nos apoiava, mas Trichet não deu o braço a torcer: ‘Nenhum político me vai dizer o que devo fazer'. Então, alguém perguntou: ‘E se Trichet não nos apoiar?'. Depois, alguém disse: ‘Se isso acontecer é o fim'. Ninguém tinha dúvidas de que precisávamos do apoio de ambas as partes, ministros e BCE, mas este mostrou-se inflexível: só avançaria depois de os ministros avançarem", lembra Alistair Darling.

Nesse dia surgiram outras dificuldades. Primeiro foi preciso persuadir Portugal e Espanha a adoptar novas medidas de austeridade para aliviar as pressões sobre o mercado de obrigações. Depois o Reino Unido recusou-se a contribuir para o SPV alegando que um ‘bail out' do euro era da responsabilidade exclusiva dos países da zona euro.

"A oposição britânica não foi construtiva. O Reino Unido poderá pagar caro pela sua opção um dia mais tarde. Em tempos particularmente delicados, como aqueles que vivemos hoje, não é sensato adoptar uma posição tão radical como esta. Ninguém vai esquecer facilmente o sucedido", realça Anders Borg, ministro das Finanças sueco.

Não obstante, os líderes da UE conseguiram - ainda que no derradeiro momento - ganhar algum tempo para repor a ordem na zona euro.

segunda-feira, outubro 11, 2010

Nobel da Economia dividido entre três professores universitários

(Notícia do SAPO)
O Prémio Nobel de Economia deste ano foi atribuído a três professores de economia que desenvolveram um teoria em torno das oscilações no mercado e do desemprego.


Peter A. Diamond, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, nos EUA, Dale T. Mortensen, professor na Universidade de Northwestern e Christopher A. Pissarides, da London School de Economia e Ciência Política, no Reino Unido, são os vencedores deste ano do Prémio Nobel da Economia atribuído pela Academia Sueca.

O trabalho dos três professores foi distinguido pela "análise dos mercados com oscilações na procura", avançou a Academia.

Peter Diamond analisou os fundamentos de procura nos mercados, enquanto que Dale Mortensen e Christopher Pissarides desenvolveram a teoria e aplicaram-na ao mercado de trabalho.

O modelo desenvolvido pelos agora laureados com o Prémio Nobel de Economia ajuda a compreender, explica em comunicado a Academia Sueca, a forma como o desemprego, as ofertas de trabalho e os salários são afectados pela regulação e políticas económicas.

Uma das conclusões da investigação aponta para o facto de que quanto mais generosos forem os apoios ao desemprego maior será a taxa de desemprego. Também o tempo de procura por um novo emprego, dizem os investigadores, tenderá a ser mais alargado.

Confirma-se assim a atribuição do Prémio Nobel de Economia deste ano como tendo uma forte relação com a crise económica que o mundo atravessa.

Em conferência de imprensa, Christopher A. Pissarides afirmou que recebeu a notícia da atribuição do prémio com "felicidade e surpresa" , confessando-se honrado.


Lista de Vencedores - 1969/2010

2010 Peter A. Diamond, Dale T. Mortensen e Christopher A. Pissarides
2009 Elinor Ostrom e Oliver E. Williamson
2008 Paul Krugman
2007 Leonid Hurwicz, Eric S. Maskin e Roger B. Myerson
2006 Edmund S. Phelps
2005 Robert J. Aumann e Thomas C. Schelling
2004 Finn E. Kydland e Edward C. Prescott
2003 Robert F. Engle III e Clive W.J. Granger
2002 Daniel Kahneman e Vernon L. Smith
2001 George A. Akerlof, A. Michael Spence e Joseph E. Stiglitz
2000 James J. Heckman, Daniel L. McFadden
1999 Robert A. Mundell
1998 Amartya Sen
1997 Robert C. Merton e Myron S. Scholes
1996 James A. Mirrlees e William Vickrey
1995 Robert E. Lucas Jr.
1994 John C. Harsanyi, John F. Nash Jr. e Reinhard Selten
1993 Robert W. Fogel e Douglass C. North
1992 Gary S. Becker
1991 Ronald H. Coase
1990 Harry M. Markowitz, Merton H. Miller e William F. Sharpe
1989 Trygve Haavelmo
1988 Maurice Allais
1987 Robert M. Solow
1986 James M. Buchanan Jr.
1985 Franco Modigliani
1984 Richard Stone
1983 Gerard Debreu
1982 George J. Stigler
1981 James Tobin
1980 Lawrence R. Klein
1979 Theodore W. Schultz e Sir Arthur Lewis
1978 Herbert A. Simon
1977 Bertil Ohlin, James E. Meade
1976 Milton Friedman
1975 Leonid Vitaliyevich Kantorovich e Tjalling C. Koopmans
1974 Gunnar Myrdal e Friedrich August von Hayek
1973 Wassily Leontief
1972 John R. Hicks e Kenneth J. Arrow
1971 Simon Kuznets
1970 Paul A. Samuelson
1969 Ragnar Frisch e Jan Tinbergen

domingo, outubro 10, 2010

Inevitavelmente FMI

Durante os anos oitenta do século passado, já lá vão mais de vinte cinco anos, recordo bem o clima social que se vivia em Portugal, durante a última vez em que Portugal esteve à beira da bancarrota. Foi um tempo extremamente duro e difícil para demasiadas famílias portuguesas. A península de Setúbal, tal como o Vale do Ave e outras regiões, conheceu fome e desespero e o bispo de Setúbal, D. Manuel Martins, assumiu protagonismo público em defesa de políticas sociais activas. Passaram-se anos de aperto colectivo até as contas públicas e externas se reequilibrarem e no final de 1985 já se anunciavam tempos de fartura com a próxima entrada para a Comunidade Económica Europeia. O tempo continuou a correr, vieram os fundos comunitários, colectivamente desperdiçados, a Autoeuropa ajudou a transformar a península de Setúbal num pólo de desenvolvimento tecnológico e produtivo, o país cresceu (e as importações também…) e o consumo interno habituou-se a níveis de vida mais exigentes. Atravessámos anos de prosperidade e houve mesmo momentos, como em 1998 com a EXPO a catapultar o orgulho num país moderno, em que acreditámos que Portugal iria ser um país rico.


O novo milénio trouxe-nos o final do Acordo Multifibras, o ajustamento estrutural da economia nacional e a necessidade de adequar a competitividade das empresas à competição cada vez mais feroz dos mercados globalizados. Com trabalhadores não qualificados que passaram a ser muito caros quando comparados com os seus congéneres da China, Índia, Turquia, Marrocos e muitos outros países em desenvolvimento. A transição para uma economia baseada em valor acrescentado afigurava-se longa e penosa. Por outro lado, o Estado ia alargando o seu peso no PIB, comprometendo a competitividade do sector privado. Os funcionários públicos a quem foram oferecidas regalias (hoje os chamados “Direitos Adquiridos”, tantas vezes relembrados em manifestações e greves), acreditaram naturalmente que, aquilo que os governantes da época lhes davam em aumentos e promoções automatizadas era resultado do avanço do país e fruto do seu próprio esforço. Evidentemente, nada disso era sustentado na economia real e os anos comprovaram-no. O peso do Estado na economia Portuguesa continuou a aumentar e a sufocar cada vez mais o sector privado. Enquanto o sector privado tinha de se adaptar a todos os choques com a realidade, o sector estatal conseguia resistir e perdia apenas algumas das suas regalias. A diferença de remunerações entre os trabalhadores não qualificados do sector público e do sector privado atingiu um tal ponto de discriminação social, que seria impossível a qualquer governo evitar o tipo de medidas anunciadas há dias de cortes salariais no aparelho do Estado. Todo o país tem de fazer sacrifícios, não podendo existir um grupo de cidadãos que está praticamente a salvo deste esforço. A luta dos professores contra a anterior Ministra da Educação e a sua vitória de Pirro foram um dos últimos estertores do poderio sindical ligado a partidos (de Esquerda?) que afirmam defender os mais fracos contra os poderosos, mas que acabam por ajudar a eternizar os jovens desempregados e com mau emprego, os trabalhadores precários e a exclusão social de cada vez mais “pobres com emprego”. Os sindicatos tornaram-se defensores apenas dos seus associados e das classes que ainda têm algum “direito adquirido” a defender. Curiosamente, alguns políticos de Direita, ansiosos por mostrarem serviço, correram a cavalgar a onda da insatisfação. A ineficiência económica desta situação e a imparável marcha da economia acabam por se conjugar para nos fazer a todos chocar contra a realidade e acordar abruptamente da ilusão em que Portugal viveu e alguns portugueses ainda vivem.

Não tenho dúvidas que a greve geral anunciada e que juntará as duas grandes centrais sindicais será um sucesso de participação.

A revolta e a crispação social irão aumentar nos próximos tempos e acredito que, os actuais governantes não quererão o exclusivo do odioso necessário para endireitar o país (até porque governantes como Mário Soares e Ernâni Lopes dispostos a arcar com as decisões difíceis não aparecem sempre). Acredito também que, os políticos portugueses actuais, em especial os ligados aos maiores partidos e com ambições de governação, não se irão entender para tomar as medidas duríssimas que a conjuntura impõe. Afinal de contas, é mais fácil deixar que venham técnicos do FMI tomar conta da situação do que acarretar com responsabilidades. A negociação do próximo Orçamento de Estado já deixa antever isso mesmo. Lembro-me de Mota Pinto e não estou a ver Passos Coelho seguir-lhe o exemplo…

Por tudo o que ficou atrás, acredito que o FMI inevitavelmente voltará a Portugal. Para tomar medidas que, nós próprios não temos coragem de tomar, com a conhecida insensibilidade que o FMI costuma ter às necessidades sociais dos mais desfavorecidos. Esta é a perda maior que a entrada do FMI acarreta do ponto de vista da aplicação das políticas.

Mas há outra perda que convém realçar e que é a perda de postura de um país que não consegue ser verdadeiramente soberano e que como tal tem de ser “invadido” por técnicos estrangeiros que venham governar-nos. No mínimo é uma desilusão.

Confesso que, depois de tantos anos de União Europeia, nunca pensei voltar a ver o FMI no nosso país, mas conseguimos ser tão mal governados que chegámos a isto. No entanto, não quero deixar ficar a ideia que, possa estar a atirar as culpas para cima do actual governo. Bem pelo contrário, este governo, tal como todos os governos deste início do século XXI chefiados por Durão Barroso, Santana Lopes e José Sócrates, herdaram uma situação inquinada e um país a afundar-se, deslizando irreversivelmente num plano negativamente inclinado.

Então impõe-se perguntar quem fez todo este mal a Portugal?

Entendo que, foram os governos que tiveram ventos favoráveis, com boas condições económicas, petróleo geralmente barato, crescimento económico mundial e em especial dos nossos principais parceiros comerciais e fundos comunitários de muitos milhões à disposição e que apenas conseguiram criar um “monstro”, que são os verdadeiros culpados. Os quinze anos entre 1987 e 2002 criaram as condições económicas ideais para a falência do país. Relembro os nomes dos primeiros-ministros desses anos extraordinários: Professor Cavaco Silva e Eng. António Guterres. Para memória futura…

José Paulo Oliveira

sábado, outubro 09, 2010

Défice externo português será o maior da Europa em relação ao PIB

(Notícia do Jornal EXPRESSO)
Segundo as estimativas do FMI. o défice externo em 2011 baixará ligeiramente mas manter-se-á em 9,2% do Produto Interno Bruto. O caso mais grave em 32 países da Europa analisados pelo World Economic Outlook.

A radiografia portuguesa para 2011, ontem apresentada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) no seu 'World Economic Outlook ', revela a conjugação de três tendências negativas particularmente preocupantes:


a) O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) passará de positivo em 2010 para estagnado (0%) ou sofrerá uma contração de 1,4% re-entrando em recessão (se forem tomadas em linha de conta as medidas anunciadas no último pacote de austeridade); a confirmar-se este cenário pessimista, apenas dois países na Europa apresentarão recessões: Grécia (-2,6%) e Portugal (-1,4%); a Espanha conseguirá passar de uma situação de recessão, este ano, para um crescimento ligeiramente positivo (0,7%);

b) O défice externo português melhora ligeiramente de 10% do PIB em 2010 para 9,2%; mas será o mais elevado em 32 países europeus monitorizados pelo FMI; a Grécia que, em 2010, apresentou um défice externo de 10,8% do PIB (superior ao português) conseguirá reduzi-lo mais acentuadamente para 7,7%;

c) O desemprego em Portugal aumentará de 10,7% em 2010 para 10,9% (sem contabilizar, ainda, os efeitos do pacote de austeridade); neste campo, apesar do agravamento, continuaremos muito abaixo de Espanha (19,3%), Países Bálticos (acima de 16%), Grécia (14,6%), Irlanda (13%) e Eslováquia (12,7%).

Conjugação internacional desfavorável

Esta conjuntura portuguesa em 2011 ocorrerá num ano em que poderá observar-se uma outra conjugação de diversas tendências mundiais com efeitos negativos, atendendo ao que refere o 'World Economic Outlook'.

Em síntese, segundo o FMI, observa-se: 1) a possibilidade de uma concentração de vulnerabilidades na zona euro e na União Europeia que transformam esta região no foco de atenção; 2) uma desaceleração do crescimento da economia mundial, com destaque para o Brasil e os "tigres asiáticos"; 3) um impacto ainda mais grave na desaceleração do aumento do comércio mundial; e 4) a continuação de um grave problema no sistema bancário mundial, que enfrentará um novo período de necessidades de refinanciamento de dívidas que chegam à maturidade nos próximos 24 meses na ordem de 4 biliões de dólares.