terça-feira, abril 06, 2010

Portugal: Ter uma licenciatura vale €763 por mês

(Notícia do EXPRESSO)
Um estudo publicado no Boletim Económico do Banco de Portugal revela que os licenciados têm salários em média de 1625 euros por mês, enquanto os trabalhadores com o 12º ano se ficam pelos 862 euros. Os autores avisam que agravar impostos sobre a educação pode custar caro no futuro.
Talvez para não assustar os leitores de imediato com as más notícias, isto é, o corte nas previsões de crescimento, o Banco de Portugal abriu o seu Boletim Económico de Primavera com um artigo sobre o retorno do investimento em educação. O trabalho "O Investimento em Educação em Portugal: Retornos e Heterogeneidade", dos economistas Nuno Alves, Mário Centeno e Álvaro Novo, é proposto como tema de discussão pela instituição liderada por Vítor Constâncio, curiosamente numa altura em que o Governo se prepara para limitar os benefícios fiscais, entre os quais as despesas com educação.


As conclusões do estudo são claras. Não apenas a economia beneficia em termos de potencial de crescimento com o facto de ter trabalhadores mais qualificados, como estes também tiram partido no salário que levam mensalmente para casa. Em média, de acordo com dados de 2006, um licenciado recebe 1625 euros por mês de salário base, ou seja, 763 euros acima dos 862 que recebe um trabalhador com o 12º ano. E é um valor muito acima dos 588 auferidos em média por quem tem quatro ou menos anos de escolaridade.

Desde 1982, foram os portugueses mais qualificados a ter maiores aumentos salariais reais. Pelo contrário, as pessoas com 6 ou 9 anos de escolaridade perderam, em média, 20 e 50 euros mensais. No fundo da tabela, para quem tem 4 ou menos anos passados nos bancos da escola, houve um aumento que os autores concluem estar relacionado com o salário mínimo nacional.

Este prémio da licenciatura face aos trabalhadores com o 12º ano não é, no entanto, homogéneo entre profissões e sectores de actividades e pode ir dos 50% até valores acima dos 100%.

Famílias são afectadas

O estudo analisa ainda também o retorno da educação nos rendimentos familiares a partir do que os autores chamam o trabalhador representativo da família. Enquanto uma família com uma escolaridade até ao quarto ano do ensino básico tem um salário de apenas dois terços da média nacional, quem tirou um curso superior ganha 2,34 vezes a média nacional.

E a diferença entre os níveis de educação são significativas. Do 12º ano para o ensino superior, o salário mensal líquido quase duplica. Esta análise já inclui também o sector público uma vez que parte de estatísticas do INE, ao contrário da individual que partia de dados dos quadros de pessoal da Segurança Social que só têm informação do sector privado.

O retorno do ensino superior, quando se inclui o Estado, é agravado, por um lado, pelo facto de a Administração Pública ter níveis de remunerações hierarquizadas de acordo com a formação do trabalhador e, por outro, haver profissões que estão entre as mais bem pagas onde, naturalmente, só têm acesso licenciados, como os juízes, os professores universitários ou os médicos.

Os autores rematam o artigo lembrando que a educação deve ser subsidiada pelo Estado porque os benefícios não são apenas individuais e que todos os países o fazem. Deixam, por isso, um aviso que o Governo deve ter em atenção: "Políticas que aumentem o custo da educação através dos impostos, podem levar a maiores receitas fiscais no curto prazo, mas fá-lo-ão com o custo, a médio e longo prazo, de níveis mais baixos de educação e, consequentemente, de um menor crescimento económico".

2 comentários:

rui seybert p ferreira disse...

Sou daqueles 'anarquistas' que não acreditam que o Estado tenha um grande papel na educação. Pode têr um grande papel a financiá-la mas não a executar essa educação. Não o quero tirar de lá, até porque um pouco de concurrência ao sector privado faz bem.

Paguei toda a minha educação pós 12o. ano do meu bolso. Nas férias de verão entre o 11o. e 12o. ano fui trabalhar para as obras para têr dinheiro para o meu 1o. ano de universidade. Trabalhei em todas as minhas férias universitárias.

O que o Estado devia fazer é oferecer empréstimos de longo prazo que são perdoados, reduzidos e/ou com juros subsidiados dependendo, de por exemplo, das notas, reprovações, ou não, estágios, actividades extracurriculares ou amortizações antecipadas. E nada proíbe que as empresas atraíam os que mais querem com ajudas para repagar as dívidas ao Estado. Essas ajudas sim, podiam dar benefícios fiscais às empresas.

Estudar não é um direito adquirido mas um privilégio e privilégios acarretam responsabilidades.

Demasiados jovens não vêem, de facto, a dimensão do privilégio de poder estudar. É uma oportunidade única na vida.

A melhor motivação para a aplicação nos estudos e a qualidade da formação, é valorizar a experiência tornando o estudo um assunto de mérito para o formando e o formador....Quando os estudantes derem valor aos estudos, podemos crer que vão exigir qualidade aos formadores. Podemos crer nisso mesmo. De repente já não é o canudo que se quer, mas a formação!

Quem me financiou os estudos com créditos foi o governo alemão e agora à minha irmã de 45 anos também...surprise?

Jose Paulo Oliveira disse...

É com enorme prazer que verifico que, passada a Páscoa, estamos de volta à discussão económica e aos seus diversos contextos. Neste caso, a questão da importância da formação ao longo da vida, fundamental para o desenvolvimento económico e social e não só para o crescimento do(s) Produto(s) revela a importância da dimensão humana na análise económica e ainda mais na análise macroeconómica. Até porque vale a pena não esquecermos que o estudo, a formação e a qualificação são as maiores formas de mobilidade social que há não só em Portugal, mas também na maioria dos países. As políticas económicas e as alterações de políticas seguidas, virando o vento das políticas com as mudanças da brisa política, também pouco ajudam ao desempenho de longo prazo do sistema, ainda que seja evidente o progresso realizado nos últimos anos. Não só em Portugal...afinal o Consenso de Washington passou a Pós-Consenso de Washington, como diria Stiglitz, com a saúde e a educação a serem agora as grandes prioridades para o desenvolvimento. Externalidades positivas e fortes!