sexta-feira, junho 24, 2016

Os culpados do Brexit


O resultado do referendo de ontem no Reino Unido não foi uma surpresa total, de acordo com o que já tínhamos comentado há alguns dias atrás.

Opositores do projeto europeu, nacionalistas, xenófobos, anti-imigrantes e o discurso do ódio, sempre existiram e irão continuar a existir, em muitos países da Europa e não apenas no Reino Unido.

Infelizmente, do meu ponto de vista, os verdadeiros culpados deste resultado não são os opositores nem os inimigos da União Europeia, mas sim os que tinham a obrigação de defender a Europa, os seus valores de solidariedade e da construção de um espaço de paz e harmonia, de acordo com o legado dos pais fundadores e de líderes do passado. Nos últimos vinte anos a Europa tem tido líderes frouxos, sem perspetiva de conjunto e que optaram sempre pelos seus interesses mesquinhos em detrimento de um bem maior. Os interesses nacionais sobrepuseram-se ao interesse geral, ao mesmo tempo em que o favorecimento de negócios e modelos económicos contra as pessoas, que esmagaram os mais pobres, criando exércitos de desempregados, abriram espaço para o retorno dos nacionalismos e dos extremismos, como se os anos de 1930 estivessem de volta. A culpa não é de quem faz o discurso do ódio. Afirmar isso seria fácil demais. A culpa é de quem lhes facilitou a vida, através de políticas que destroem a cidadania e a ideia de Europa. Vinte anos de más políticas e opções erradas criaram o contexto, mas nada como a humilhação imposta à Grécia serviu para mostrar a todos como não existe solidariedade dentro desta união. A política monetária de anos, favorecendo ricos contra pobres (até Mario Draghi ter mudado a tendência) e as imposições e exigências do ministro Schäuble clarificaram para quem ainda tinha dúvidas que esta Europa não servia.

Maus líderes e interesses menores estragaram o projeto europeu. Temos de reconhecer. E agora?

Só há duas hipóteses.

Ou destruir a União Europeia e acabar com o centralismo não democrático de burocratas obscuros, mas deixando os extremistas e nacionalistas imporem os seus pontos de vista.

Ou reforçar a democracia e a voz das populações, num modelo reformulado que permita construir um projeto solidário, em que os cidadãos se revejam (ao contrário do modelo seguido nos últimos vinte anos), expurgando do comando do sistema burocratas sem rosto, abrindo à sociedade e fortalecendo a coesão entre pobres e ricos, num espaço que possa voltar a ser um exemplo de valores para o mundo e integração inclusiva de todos (incluindo os refugiados que procuram abrigo junto de nós). Pessoalmente, prefiro esta opção.

Lideranças nefastas estragaram o projeto da União Europeia. Tratemos agora de recuperar a pureza da ideia original.

Sem comentários: