domingo, fevereiro 21, 2010

Nuvens no horizonte

A recuperação económica parece começar a ganhar consistência nos Estados Unidos da América e em alguns países europeus, o que a prazo significará uma boa notícia para Portugal.

No entanto, esta realidade positiva demorará a chegar até nós e é importante neste momento perspectivar a conjuntura do espaço temporal que se aproxima. Neste caso, a compreensão do futuro próximo não é particularmente difícil, uma vez que basta pensarmos nas tendências fundamentais do período pré-crise para entendermos o que vão ser os próximos tempos. Há dois anos atrás, os países em desenvolvimento cresciam a um ritmo elevado, convergindo com as economias mais desenvolvidas e atingindo novos patamares de acesso a bens de consumo. Assistíamos, então, a uma enorme transferência de riqueza do Ocidente para os países emergentes, num inevitável movimento de recuperação de desequilíbrios ancestrais, que o processo de globalização potenciou. Ora, o clima de expansão económica significará o retorno a este cenário global. No entanto, Portugal está a viver, há quase uma década, um período de ajustamento estrutural em que indústrias baseadas em mão de obra intensiva e barata, para os padrões europeus, têm vindo a desaparecer, num processo de transformação estrutural no sentido de uma economia avançada baseada em alto valor acrescentado. Infelizmente, este ajustamento do modelo económico português ainda vai demorar mais alguns anos a estar completo e consequentemente a podermos sentir os seus efeitos e benefícios. No entretanto, somos confrontados com o encerramento de unidades produtivas com centenas de trabalhadores, enquanto as novas unidades baseadas no conhecimento utilizam menor quantidade de recursos humanos ainda que com produtividade incomparavelmente superior. Assim, a subida do desemprego e os desequilíbrios sociais inerentes são inevitáveis.

A retoma económica levará ao aumento da procura nos mercados mundiais, significando o retomar da escalada dos preços interrompida temporariamente pela crise financeira internacional vivida nos dois últimos anos.

Este é um elevado risco que nós portugueses corremos: ser apanhados por este movimento generalizado de subida dos preços, com especial destaque para o petróleo, os produtos alimentares e a generalidade dos bens essenciais, numa fase em que a retoma económica ainda não se faz sentir na esmagadora maioria dos lares portugueses, em que o desemprego continuará a aumentar e os orçamentos familiares continuarão em contenção. Neste cenário, com a conjugação destes factores, a perda de poder de compra, natural em tempos de crise, será temporariamente agravada pela conjuntura internacional, podendo vir a representar uma perda total entre os vinte e os trinta por cento dos cabazes de compras dos portugueses, durante este ano e o próximo.

Este é um cenário que não nos pode apanhar desprevenidos!

8 comentários:

Anónimo disse...

os portugueses estão acabados.

prof. gostei do blogue.

carlos

Fernando Fernandes disse...

Em primeiro lugar quero dar-lhe os parabéns pelo blogue sobre Macroeconomia.

Em segundo acrescentar algumas considerações sobre o artigo.

Portugal, independentemente da recuperação mundial, continuará a sua longa caminhada no deserto, demorando alguns anos a sair desta grave situação. Embora com alguma contribuição, a crise económica e financeira não é suficiente para justificar a actual situação do país.
Na minha opinião, Portugal necessita de medidas urgentes de redução de despesa pública corrente, de forma a poder transmitir confiança aos mercados e às agências de rating internacionais, demonstrando através de planos credíveis e diferentes dos nossos parceiros gregos que somos capazes. Chegou a hora dos senhores governantes fazerem aquilo para que são eleitos, que é governar, tomando medidas menos populares mas necessárias ao país.

Fernando Fernandes

João Silva disse...

Parabéns por mais esta excelente iniciativa.

O país precisa de gente assim.

Eduardo Antunes disse...

Boa iniciativa.

A economia precisa de um forte abanão antes que o Estado caia.

Não esqueça os países emergentes.

Vicente Martins disse...

Parabéns pelo blogue. Que o debate seja profícuo.

Esqueceu-se de Friedman e Robert Lucas nos "Honoris Causa". Porque não Olivier Blanchard? Tem mais trabalho publicado que Sachs. Samuelson e Galbraith também não destoariam.

Mário Fernandes disse...

Boas,

De facto, essas serão algumas das nuvens que, de certo, irão aparecer, mais cedo ou mais tarde.

É bom que não nos esqueçamos do passado, em especial dos demais problemas estruturais que a economia nacional se deparava, mesmo antes da chegada da badalada crise internacional.

Decisões terão que ser tomadas, decisões essas importantes e que, dificilmente, poderão rapidamente ser catalogadas como "correctas" ou "incorrectas"; refiro-me, evidentemente, aos investimentos públicos tão desejados pelo actual governo.

Venham ou não, o futuro das gerações futuras encontra-se PRATICAMENTE sem quaisquer tipo de margem de manobra...e isso não é viver, é sobreviver!!!

Um abraço,

Mário Fernandes

Humberto Costa disse...

Parabéns pelo blog! Espero que continue com este ritmo a blogar porque é saturante ler noticias e artigos de opinião sem qualquer conteúdo interessante ou meramente artigos de propaganda politica com interesses por trás!

Lembro-me bem que no inicio de 2009 numa aula disse que as coisas ainda iriam piorar muito durante este ano! Ouvi e nunca mais me esqueci das suas palavras, porque de facto no ano passado o país andou euforico e agora que já passamos as eleições vamos cair todos na real.

Infelizmente o meu dna tem algo de optimismo no que toca ao futuro e apesar de tentar ser um pessimista nato, acabo sempre por sonhar com algo melhor!

Efectivamente o país está a passar por uma fase de transição na industria em termos de mão de obra, mas penso que esse sector é mais afectado no norte do que no centro e sendo essas as zonas mais afectadas em termos de desemprego. Na minha opinião penso que é mais importante continuarmos com a politica de investir na formação, e quando falo em formação nao me refiro apenas a cursos universitários mas também a tecnico profissionais.

Portugal já estava em crise quando se deparou com a crise mundial mas também é certo que o nosso endividamento externo não vai ajudar nada! Tenhamos como exemplo o caso da Madeira. Segundo aquilo que foi transmitido na tv há certa de 4 anos a divida externa da madeira foi perdoada e reposta a zero, passado 4 anos já passava dos mil milhões de euros a divida externa. Estamos a falar de uma região que representa apenas 9 % do PIB nacional. Ora isto faz sentido nesta aldeia?! É certo que a tragédia é lamentavel, mas também começa-se a falar em mil milhoes de euros em danos ?! Será que ninguém vê isto?!

Depois temos um estado que demora em média a pagar aos fornecedores mais de 6 meses e um ex-presidente da câmara, Santana Lopes que afirma em plena televisão nacional que os fornecedores só têm que esperar, sendo contra às politicas do Antonio Costa ao recorrer à banca para liquidar as dividas aos fornecedores.

Depois temos as classes profissionais contra qualquer tipo de reforma. Sempre que o governo tenta implementar uma reforma lá vêm os sindicatos com mil e uma imposições. Temos o exemplo dos funcionários públicos que no ano passado tiveram um aumento bem alto do poder de compra dado que houve inflação negativa e a negociação foi feita com valores positivos.

Efectivamente existem problemas conjunturais e estruturais graves, mas acima de tudo a mentalidade e a nossa classe política está cada vez pior. Talvez estejamos a caminhar para o exemplo do japão onde os governantes nao tem qualquer credibilidade, reflectindo-se na economia através de medidas sem eficácia. Quando chegarmos a esse ponto podemos agradecer à nossa comunicação social que tanto se "vitimiza" de ser perseguida e oprimida, mas que todos os dias fazem manchetes a denegrir a imagem do governo e do nosso país.

Não me querendo alongar mais, as nuvens no horizonte estão negras e carregadas de chuva, só espero que não chuva granizo como foi à dias onde pensava que ficava sem tecto!

Um abraço,
H.C.

Zenaida Sawimbo disse...

Fim da Pobreza....será possivel?

É triste saber que a actual crise, veio piorar a situação dos mais carênciados, não apenas dos países pobres mas sim do modo geral, porque em Portugal existem familias a viverem em situações bastantes precárias, é triste de se ver e dificil de aceitar e acreditar...isto porque vivemos na era industrial e parece que o mundo, as pessoas, a sociedade no geral estao cada vez mais materialista...os senhores que deveriam manter a Paz no mundo são os numero 1 na venda de arma aos países ja com deficiência financeira, piorando ainda mais o mal estar da população que lutam pela sobrevivência diária na procura de um pão e água que chegam a ser bens " preciosos" para determinadas pessoas.
Agora todos usam a crise como desclupa para o não cumprimento de acordos e palavras dadas anterioremente por certos senhores importantes, no que diz respeito a ajuda aos paises pobres e em vias de desenvolvimento...Mais o que têm feito os líder de certos países africanos para melhorar o nivel de vida dos seus cidadãos? na minha opinião NADA, desculpem não espero que concordem comigo, basta ver para acreditar, afinal os paraisos fiscais é um refúgio milionarios para muitos líder desses países e entretanto a gozarem do capital e recurso do povo e lamentávelmente alguns países vizinhos limitam-se a ver e a fazer o mesmo...é a vida!
A pobreza é um tema que mereçe a atenção de todos, porque é uma ameaça real que afecta diariamente milhares de pessoas em todo o mundo, nós, a nova geração é importante olhar para este dilema com mais firmeza, e sensibilizar os lideres quanto a mesma, a disparidade entre os rendimentos é um dos factores desta calamidade e actualmente com o desemprego sempre a subir, o problema é mais grave ainda!
Afinal não existe almoços grátis.