segunda-feira, fevereiro 15, 2016

Financiamento do Desenvolvimento: Uma questão fundamental


O auxílio ao desenvolvimento tem vindo a diminuir em termos reais, ajustados à inflação e ainda mais quer em percentagem do rendimento dos países desenvolvidos quer numa base per capita nos países em desenvolvimento. A imposição de uma série de condições, algumas de natureza política, na prestação de auxílio não resultou. A condicionalidade não conduziu a melhores políticas, não acelerou o crescimento nem produziu melhores resultados. Embora o Banco Mundial tenha tentado aperfeiçoar a condicionalidade, alguns afirmam que ela devia ser substituída pela seletividade, ou seja auxiliar os países já com provas dadas, permitindo que sejam eles a escolher as suas próprias estratégias. Está provado que, como afirma Joseph Stiglitz, o auxílio prestado seletivamente pode ter impactos significativos, tanto na promoção do crescimento como na redução da pobreza.

Os mercados financeiros internacionais aumentam a eficiência e os lucros devido à divisão internacional do trabalho. O crescimento económico nos países emergentes é realçado não só pela disponibilidade de capital estrangeiro mas também pelo desenvolvimento dos centros financeiros locais que fazem a ponte com os mercados internacionais. Isto resultou na diminuição da importância do tamanho do mercado local, como fator de decisão da localização do investimento.

Assim, pequenos países, com mercados domésticos insignificantes à escala global, passaram a poder competir pela atração de IDE. Estes países com poucas fontes alternativas de capital para financiarem o seu desenvolvimento económico passaram a apostar em condições atrativas para os investidores externos. A maioria dos países liberalizou as suas políticas de IDE, e ofereceram várias formas de incentivos ao investimento estrangeiro, tais como incentivos fiscais, incentivos financeiros, especialmente subsídios e outro tipo de medidas como preferências sobre os mercados domésticos, criação de infraestruturas para auxiliar a atividade dessa empresa e até direitos monopolísticos, em alguns casos. O efeito da liberalização do comércio sobre o crescimento económico é provavelmente o mais estudado de todos os efeitos sobre o crescimento. As ligações teóricas entre liberalização e crescimento têm sido objeto de muitos estudos recentes. Em condições de liberalização financeira, um aumento da liberalização comercial, resulta num alargamento dos sectores exportadores, o que pode levar à redução do prémio de risco que os credores externos exigirão para emprestar a essa economia. Isto, segundo a teoria neoclássica, resulta num aumento do stock de capital nessa economia e consequentemente num mais rápido crescimento económico. A implicação teórica é que a liberalização comercial deve induzir não apenas um aumento do nível de rendimento mas também um aumento na taxa de crescimento económico. No entanto, as sucessivas crises financeiras na Ásia no final dos anos noventa e na Argentina no início do novo século devem levar-nos a reflectir mais maduramente sobre as condições em que tal abertura se processa e nos pressupostos em que esta opção pode ser bem-sucedida, elevando o nível de vida das populações. A redução das restrições à entrada de capitais pode gerar recursos adicionais para investimento, mas a redução das restrições às saídas de capitais pode paradoxalmente gerar o mesmo aumento de recursos para o investimento porque asseguram aos credores externos que poderão repatriar os seus fundos quando desejarem e afirmam aos investidores domésticos e externos que o capital estará menos sujeito a taxação. A integração financeira e a integração comercial estão associadas ao processo de globalização, importando analisar os efeitos de ambas sobre as economias dos países em desenvolvimento.

Em princípio, a globalização financeira permite o aumento das poupanças internas destinadas a financiarem o desenvolvimento. O fluxo de capitais Norte-Sul beneficia ambos os grupos pois, estes fluxos permitem um aumento do investimento nos países em desenvolvimento, ao mesmo tempo que permitem uma maior rendibilidade do capital do que seria possível nos países ricos.

A atração de IDE tem um potencial de geração de “spillovers” tecnológicos e de conduzir a melhores políticas. Parece haver uma relação entre a opção pela globalização financeira e o aumento do nível de desenvolvimento económico. Por um lado, os países ricos são mais integrados financeiramente com a economia global do que os países em desenvolvimento. Por outro lado, entre os países em desenvolvimento, as economias mais integradas financeiramente cresceram mais rápido do que as menos integradas, durante as últimas três décadas.

Os efeitos benéficos da globalização financeira são mais visíveis nos países em desenvolvimento com maior capacidade de absorção. A capacidade de absorção de um país corresponde à quantidade de recursos financeiros que o país consegue utilizar para obter crescimento económico. Os países necessitam de aumentar a sua capacidade de absorção de recursos financeiros se pretendem obter vantagens da globalização financeira.

A boa governação é um fator decisivo, condicionante, da capacidade de absorção. A corrupção tem um efeito negativo sobre o volume de IDE. A governação não é o único elemento determinante da capacidade de absorção de um país em desenvolvimento mas é um dos mais importantes. A composição das entradas de capital e a maturidade da divida externa estão associadas com a maior vulnerabilidade aos riscos da globalização financeira. O acesso ao mercado mundial de capitais pode levar ao endividamento excessivo, especialmente no caso de esse capital ser gasto em investimento não produtivo. Há alguma evidência empírica de que a integração financeira não é uma condição necessária para atingir uma alta taxa de crescimento. A China e a Índia obtiveram altas taxas de crescimento económico apesar de limitações à liberalização financeira.

Financiar o desenvolvimento envolve a mobilização de imensos recursos, sejam domésticos ou internacionais, a exploração de ganhos do comércio, promovendo a cooperação financeira internacional, envolvendo a transferência de fundos entre países, sectores, instituições, famílias e indivíduos. A mobilização e afetação de recursos para fins diversos implica a determinação de quem assume o controlo desses recursos o que pode alterar as estruturas de poder das sociedades locais, nomeadamente a posição relativa de poder entre o governo e o sector privado, investidores estrangeiros e países recetores, empresas e trabalhadores, etc. Neste sentido as estratégias de financiamento do desenvolvimento têm uma dimensão social não desprezível.

 

 

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