sábado, janeiro 05, 2013

Portugal 2013: O Ano do Orçamento de Estado Absolutamente Irrealista.


Inconstitucional ou não, o Orçamento de Estado para 2013 em Portugal é uma peça do maior irrealismo e apenas funciona como um desejo, infelizmente demasiado afastado da possibilidade de concretização, ou então é mesmo o resultado da impreparação, incompetência, insanidade pura ou humor extraordinário de quem o produziu.

O cenário macroeconómico que serve de base ao documento e às contas e ao seu suposto equilíbrio fundamenta-se em previsões verdadeiramente irrealistas. Todas as entidades credíveis que apresentaram previsões macroeconómicas para Portugal em 2013 construíram cenários bem piores do que o traçado no OE 2013. Vou centrar-me apenas nas previsões da instituição a que pertenço, mas podia referir várias outras entidades nacionais e internacionais. De acordo com as previsões macroeconómicas apresentadas pelo Gabinete de Previsão Económica (GPE) do OLAE – Observatório Lusófono de Actividades Económicas, o PIB Português irá contrair mais de 3 por cento em 2013. O Orçamento prevê uma queda de 1 por cento. Mas vale a pena perceber como o governo chega a este valor irrealista. O Consumo Privado caiu mais de 4% em 2011, mais de 5% em 2012 e agora prevê-se que caia apenas 2,2%, não se percebendo como será aparada esta queda, quando os impostos aumentam, o desemprego aumenta, o rendimento disponível das famílias cai a pique e o crédito está restringido. Como vão os Portugueses consumir estes valores? Parece impossível. É impossível!

A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), componente fundamental do Investimento, caiu mais de 11 por cento em 2011, quase 15 por cento em 2012 e agora pasme-se o governo acredita que irá cair apenas mais 4,2%. Ridículo!

Qualquer estudante de Economia do primeiro ano da Universidade Lusófona (e das outras universidades, acredito eu) sabe que o Consumo e o Investimento são as variáveis mais afectadas pela evolução das Expectativas dos Agentes Económicos. Ora alguém acredita nas expectativas positivas dos Portugueses por estes dias? Vão consumir e investir em 2013? E nos anos seguintes?

Neste descalabro, o governo acredita, ou pelo menos colocou isso no OE 2013 que o desemprego vai aumentar apenas cerca de 1 ponto percentual. Pois, pois, no cenário em que o PIB quase não cai. Mas com as previsões que temos o desemprego ultrapassará os 17,5%, na melhor das hipóteses. Isto é, no nosso cenário “optimista”, pois arriscamos uma queda maior.

Consequências desta situação? As contas não vão bater certas!

Daqui a três meses já estaremos outra vez com um enorme, desculpem COLOSSAL, BURACO NAS CONTAS. E será necessário arranjar mais receitas em algum lado.

Pior, apenas pelo efeito da divergência do cenário macroeconómico, estaremos condenados a ter um acréscimo do défice em mais de 4 pontos percentuais (p.p.). Explica-se este valor da seguinte forma: Cada ponto percentual do PIB de diferença leva a uma quebra na receita fiscal de cerca de 0,4 p.p., o que se agrava quando fazemos a conta ao défice, pois não apenas temos um numerador maior (saldo negativo), mas também temos um denominador menor (PIB), pelo que cada quebra de 1 p.p. no PIB representa mais de 1,7 p.p. de acréscimo no défice do OE (em percentagem). Com o cenário macroeconómico apresentado, este efeito supera os 4 p.p. e criará mais um enorme e colossal buraco. Conclusão: Empobrecemos para pagar as dívidas e acabamos mais endividados do que começámos. É obra! Deve ser a este tipo de coisas que se chama DESGOVERNO!

No fundo, uma inconstitucionalidade qualquer que permita distrair os cidadãos e seja arma de arremesso político até serve muito bem como bode expiatório de quem fez uma peça orçamental desfasada da realidade. Já desconfio que o Tribunal Constitucional acabará por fornecer a desculpa ideal para os responsáveis políticos poderem assobiar para o lado e fingirem mais uma vez que não foi culpa deles. A ver vamos, mas lamentavelmente é este tipo de coisas que a política do rectângulo nos habituou…

Já chega! É tempo de mudar de política e atacar a raiz do problema. A tentar obter receitas e cobrando mais impostos até à exaustão dos cidadãos e das empresas as contas já não se equilibram. É fundamental atacar a despesa de uma vez por todas, senão nunca mais saímos desta armadilha. Cuidado! Também não vamos lá com uma Política Orçamental expansionista, pois o multiplicador desses gastos face ao Saldo orçamental é negativo e esse caminho, que alguns políticos de alguma “Esquerda” podem querer vender aos Portugueses e embalá-los nessa doce ilusão, apenas criará mais e mais pobreza. Temos de ir ao fundo do problema duma vez por todas. Não é por este caminho, mas também não resolvemos o problema com demagogia barata. Temos de construir um Estado à medida daquilo que a nossa Economia consegue sustentar e criar condições para termos um Estado eficiente e que ajude a vida dos cidadãos, com solidariedade, mas sem o “Monstro”.

Ou o governo muda de política (e depressa) ou teremos de mudar de governo!

Não há mais margem para falhanços!

Sem comentários: