O resultado do referendo de ontem no Reino Unido não foi uma
surpresa total, de acordo com o que já tínhamos comentado há alguns dias atrás.
Opositores do projeto europeu, nacionalistas, xenófobos,
anti-imigrantes e o discurso do ódio, sempre existiram e irão continuar a
existir, em muitos países da Europa e não apenas no Reino Unido.
Infelizmente, do meu ponto de vista, os verdadeiros culpados
deste resultado não são os opositores nem os inimigos da União Europeia, mas
sim os que tinham a obrigação de defender a Europa, os seus valores de
solidariedade e da construção de um espaço de paz e harmonia, de acordo com o
legado dos pais fundadores e de líderes do passado. Nos últimos vinte anos a
Europa tem tido líderes frouxos, sem perspetiva de conjunto e que optaram
sempre pelos seus interesses mesquinhos em detrimento de um bem maior. Os
interesses nacionais sobrepuseram-se ao interesse geral, ao mesmo tempo em que
o favorecimento de negócios e modelos económicos contra as pessoas, que
esmagaram os mais pobres, criando exércitos de desempregados, abriram espaço
para o retorno dos nacionalismos e dos extremismos, como se os anos de 1930
estivessem de volta. A culpa não é de quem faz o discurso do ódio. Afirmar isso
seria fácil demais. A culpa é de quem lhes facilitou a vida, através de
políticas que destroem a cidadania e a ideia de Europa. Vinte anos de más
políticas e opções erradas criaram o contexto, mas nada como a humilhação
imposta à Grécia serviu para mostrar a todos como não existe solidariedade dentro
desta união. A política monetária de anos, favorecendo ricos contra pobres (até
Mario Draghi ter mudado a tendência) e as imposições e exigências do ministro Schäuble
clarificaram para quem ainda tinha dúvidas que esta Europa não servia.
Maus líderes e interesses menores estragaram o projeto
europeu. Temos de reconhecer. E agora?
Só há duas hipóteses.
Ou destruir a União Europeia e acabar com o centralismo não
democrático de burocratas obscuros, mas deixando os extremistas e nacionalistas
imporem os seus pontos de vista.
Ou reforçar a democracia e a voz das populações, num modelo
reformulado que permita construir um projeto solidário, em que os cidadãos se
revejam (ao contrário do modelo seguido nos últimos vinte anos), expurgando do
comando do sistema burocratas sem rosto, abrindo à sociedade e fortalecendo a
coesão entre pobres e ricos, num espaço que possa voltar a ser um exemplo de
valores para o mundo e integração inclusiva de todos (incluindo os refugiados
que procuram abrigo junto de nós). Pessoalmente, prefiro esta opção.
Lideranças nefastas estragaram o projeto da União Europeia.
Tratemos agora de recuperar a pureza da ideia original.
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