sexta-feira, dezembro 07, 2012

Em defesa de Medina Carreira

O nome de Medina Carreira foi manchado publicamente. A forma como se defendeu mostrou a diferença face ao que estamos habituados.

Este homem deve ter incomodado demais certos instalados...

Muitas vezes não concordo com o que diz, com razão ou sem ela, mas a forma como está a ser "calado" é podre demais.

Segundo Marques Mendes: "O Ministro das Finanças está a gozar com o pagode".

"...tratando os Portugueses como atrasados mentais..."

Absolutamente de acordo!

domingo, dezembro 02, 2012

Sugestão de Leitura: “A Mão do Diabo” de José Rodrigues dos Santos



José Rodrigues dos Santos apresenta-nos sob a forma de romance um verdadeiro ensaio sobre economia e em particular sobre as causas da crise e a forma como a austeridade acontece, os seus porquês e origens “criminosas”, numa ficção que afinal não será apenas ficção.

Extremamente interessante e consistentemente fundamentado em conhecimento económico, em que parece ter contado com colaborações extensas de vários economistas da nossa praça, Rodrigues dos Santos traz-nos muito mais que um livro, é um autêntico libelo de acusação. Acusação contra todos os responsáveis por desgraçarem as economias de Portugal, da Grécia, da Espanha e não só. Acusação contra todos os responsáveis políticos que por omissões, negligências e incompetências permitiram que a crise se instalasse e provocasse tanto e tanto sofrimento humano. Acusação contra as medidas erradas que em vez de resolverem a crise aprofundam o desastre económico.

A ler e a passar palavra!

SINOPSE Oficial:

A crise atingiu Tomás Noronha. Devido às medidas de austeridade, o historiador é despedido da faculdade e tem de se candidatar ao subsídio de desemprego. À porta do centro de emprego, Tomás é interpelado por um velho amigo do liceu perseguido por desconhecidos.

O fugitivo escondeu um DVD escaldante que compromete os responsáveis pela crise, mas para o encontrar Tomás terá de decifrar um criptograma enigmático.

O Tribunal Penal Internacional instaurou um processo aos autores da crise por crimes contra a humanidade. Para que este processo seja bem-sucedido, e apesar da perseguição implacável montada por um bando de assassinos, é imperativo que Tomás decifre o criptograma e localize o DVD com o mais perigoso segredo do mundo.

 A verdade oculta sobre a crise.
Numa aventura vertiginosa que nos transporta ao coração mais tenebroso da alta política e finança, José Rodrigues dos Santos volta a impor-se como o grande mestre do mistério. Além de ser um romance de cortar o fôlego, A Mão do Diabo divulga informação verdadeira e revela-se um precioso guia para entender a crise, conhecer os seus autores e compreender o que nos reserva o futuro.


terça-feira, novembro 13, 2012

Inevitavelmente a maior greve geral pós-25 de Abril de 1974.


O dia 14 de Novembro de 2012 registará a maior greve geral do período após o 25 de Abril de 1974. Pessoalmente, não partilho de nenhuma espécie de entusiasmo por greves gerais, nem por este tipo de demonstrações de força política. No entanto, as condições económicas e sociais extremamente gravosas para a generalidade do povo Português, potenciadas pela persecução e insistência numa política económica absolutamente errada e altamente destruidora de valor, criaram o caldo de cultura para a instabilidade social e política, que pode a todo o momento degenerar colocando em causa a própria democracia. Inevitavelmente, milhares de Portugueses que nunca fizeram greve e insuspeitos de simpatias comunistas irão participar numa greve geral promovida pela CGTP. A Intersindical bem pode agradecer aos erros do governo e à política de austeridade inconsistente e que está a gerar uma crise impossível de ser superada por esta via, os grevistas adicionais que se juntarão aos habitués das greves e manifestações. Para a CGTP é um autêntico milagre ter um governo que lhe atira os Portugueses para o colo.

Assim, nem vale a pena o governo dar-se ao trabalho de entrar numa guerra de números para demonstrar que apenas 10% dos trabalhadores fizeram greve. Mesmo que esse seja o número real de grevistas também será certo que quase a totalidade dos restantes Portugueses estão contra o governo e contra a política seguida. Pior, apesar dos sacrifícios, quanto mais os Portugueses se sacrificam, maior é o défice das contas públicas porque a economia está a desaparecer, substituída por desemprego astronómico, falências em números nunca vistos e regresso à economia paralela. Enfim, um desastre completo que, trará uma das maiores transferências de riqueza da nossa história económica. A classe média irá praticamente desaparecer e a riqueza ficará muito mais concentrada nas mãos de meia dúzia. Por outro lado, o tecido produtivo será arrasado de forma irreversível por muitos e longos anos.

Assim, é urgente mudar a política e influenciar a Europa para nos permitir evitar este desastre. Não será com figuras de “bom aluno” que seremos poupados. Temos de impor as nossas condições. Outros países fizeram-no com sucesso.

Quanto maior o sucesso da greve geral, maior a representação desgraçada da depauperada economia nacional e da governação impreparada e inapta que nos calhou.

Mais um dia infeliz para Portugal.

terça-feira, novembro 06, 2012

Macroeconomicus - II Série

O Macroeconomicus mudou. Durante vários meses foi dificil atualizar o blogue e publicar opinião, estudos e promover o debate. Entretanto, o próprio Blogspot mudou a forma dos blogues e a sua organização. Com esta mudança, perdemos o grafismo anterior, mas ganhámos eficiência nas ligações e atualizações. Começamos a segunda parte deste caminho. Fica expressa a vontade de renovar este espaço com livre-pensamento e disseminação do conhecimento e da análise económica empenhada em contribuir para a melhoria das condições de vida das pessoas. Façamos este caminho em conjunto. Sempre.
José Paulo Oliveira

OLAE - Previsões Macroeconómicas para PORTUGAL 2013: QUEBRA DO PIB SUPERIOR A 3 POR CENTO


Os principais indicadores e conclusões são:
 
PIB cairá mais de 3 por cento;
 
Meta do défice do Orçamento de Estado é impossível de cumprir;

Desemprego ultrapassará os 17,5%;
 
Inflação superior a 2%;

Existe um risco acrescido de Quebra de Estrutura na Economia Portuguesa.
 
 
Overview das Previsões Macroeconómicas Nacionais para 2013
No seguimento da apresentação da proposta de Orçamento de Estado de 2013 para Portugal, o OBSERVATÓRIO LUSÓFONO DE ACTIVIDADES ECONÓMICAS (OLAE), na qualidade de centro de investigação e prestação de serviços da UNIVERIDADE LUSÓFONA DE HUMANIDADES E TECONOLOGIAS, através do seu GABINETE DE PREVISÃO ECONÓMICA, procede à divulgação das suas atualizações em matéria de previsão macroeconómica para Portugal.
O GABINETE DE PREVISÃO ECONÓMICA do OLAE estima, portanto, uma contração da atividade económica de aproximadamente 3,1% do Produto Interno Bruto (PIB). A incerteza decorrente do enqudramento externo (principalmente relativas a detriorações nas economias da área do Euro) conduz à adopção de níveis de intervalos de significância, podendo o PIB nacional contrair entre 2,7% e 3,5%. Outro importante fator, que leva a um diferencial nas previsões macroeconómicas de outros organismos e instituições, prende-se com a incerteza política e com o impato das medidas em sede do Memorando de Entendimento com as instituições internacionais. O GABINETE DE PREVISÃO ECONÓMICA adverte os responsáveis pela condução e formulação de política orçamental, em virtude do impato das medidas resultantes do programa de ajustamento financeiro na economia portuguesa no ano de 2012.
Estritamente no panorama orçamental, o GABINETE DE PREVISÃO ECONÓMICA entende que o governo cumpriu as principais metas acordadas para 2012, em sede do Memorando de Entendimento tripartido com as instituições internacionais. Embora o cumprimento do Memorando de Entendimento, salienta-se que os esforços de consolidação orçamental não resultaram no cumprimento previsto para o déficit orçamental. Algumas medidas propostas, a serem aplicadas ao abrigo do
programa de auxílio financeiro, não se concretizaram por via de elevadas pressões sociais, como a redução da Taxa Social Única.

Em matéria da previsão da taxa de desemprego, relativamente à população activa, este deverá atingir os 17,6%, contrariamente ao valor apontado em sede de Orçamento de Estado para 2013. É expectável uma revisão em alta do número de desempregados face ao total da população activa no decorrer do ano de 2013, dada a elevada incerteza no cenário de enquadramento político-económico e, também, de um impacto mais acentuado das medidas de consolidação orçamental no tecido empresarial nacional. O crescimento dos níveis de preços em Portugal deverão manter-se alinhados com o verificado nos anos anteriores, devendo-se a inflação cifrar-se em 2013 nos 2,3%.
As previsões macroeconómicas agora apresentadas têm como base um elevadíssimo grau de incerteza, em virtude do momento excepcional em termos nacional e internacionais. Do ponto de vista interno, o ano de 2013 estará fortemente dependente do desempenho do programa de consolidação orçamental e, por conseguinte, dos objectivos orçamentais acordados. A nível internacional, as previsões macroeconómicas apresentadas para Portugal poderão ser revistas devido à desaceleração da atividade económica mundial, a uma alteração na política económica norte-americana por via das eleições em 2013 e, especialmente, pelo cenário incerto na área do Euro. Neste domínio, o GABINETE DE PREVISÃO ECONÓMICA alerta para a atual situação em outras economias onde já se implementaram programas de auxílio financeiro (Grécia e Irlanda) ou países com dificuldades crescentes de acesso a financiamento através de mercados financeiros (Espanha e Itália). O adiamento de algumas decisões preponderantes, como o caso da criação de uma União Bancária ou a compra direta de dívida pelo Banco Central Europeu, contribuem para o cenário de elevada incerteza na realização de previsões macroeconómicas.
Por fim, uma nota sumária para o facto de o GABINETE DE PREVISÃO ECONÓMICA relembrar, novamente, o imperativo de uma reflexão em torno dos modelos de previsão económica e macroeconómica. Historicamente, em períodos de uma forte contração do produto mundial, os modelos de previsão macroeconómica têm apresentado dificuldade em refletir a problemática do structural break. Urge, portanto, massa crítica neste domínio científico, com o intuito de aproximar os outputs dos modelos de previsão macroeconómica à realidade de uma quebra de estrutura nos países da área do Euro, onde vigoram programas de auxílio financeiro.

Obama outra vez. Claro!

Apesar de todos sabermos que os melhores prognósticos são os que se fazem no fim dos jogos, estou convencido que é nas convicções que se conhecem as pessoas. Por isso, não posso deixar de dar o meu prognóstico sobre a eleição do presidente dos Estados Unidos da América, o, até ver, mais importante cargo político à escala mundial.

Os dois candidatos começam por recolher os votos certos dos Estados que lhes são fiéis. Neste particular os Democratas estão em vantagem face aos Republicanos, pois o “chão” dos Democratas é agora maior, de há alguns anos para cá que esta situação se inverteu, tendo os Democratas sabido reverter a desvantagem do passado. Isto permite ganhar as eleições apenas ganhando alguns Estados indecisos e aí penso que Obama vai de certeza ganhar. O Ohio vai cortar qualquer esperança dos Republicanos. A administração Obama fez um trabalho excepcional na recuperação de empregos, especialmente no cluster da indústria automóvel e isso vai garantir-lhe a reeleição. Costuma ser assim, quem trabalha melhor ganha (excepção feita à chapelada do ano 2000).

Portanto, o próximo presidente dos Estados Unidos da América é: Barack Obama. No doubt about it!

segunda-feira, outubro 08, 2012

Um enorme aumento de impostos? Um erro colossal!

Há momentos em que a gravidade da situação é tal que aconselha a uma reflexão profunda antes de qualquer reacção, ainda que o impulso do momento não acabe por divergir da convicção. Por isso, este comentário vem com alguns dias de atraso face ao anúncio público daquilo a que o Ministro das Finanças chamou “um enorme aumento de impostos”.

Após o recuo do governo na medida da TSU, alicerçado na posição do CDS sobre esta matéria, pensei que tinha ficado claro que, os Portugueses não estavam em condições de aprofundar a austeridade e que o governo tinha compreendido que é fundamental aliviar o esforço fiscal para evitar o total descalabro económico.

Surpreendentemente, o governo optou por aprofundar as medidas de austeridade, valendo-se de um ataque enorme aos rendimentos das famílias. O resultado desta medida será uma enorme quebra no Consumo privado em Portugal, que levará a nova contracção do PIB, levando a uma quebra adicional no investimento das empresas e acima de tudo fará disparar o desemprego para números impensáveis. A esmagadora maioria dos economistas conhece estas consequências. Não ficou claro para mim, se o CDS mudou de opinião em matéria de esforço fiscal, mas se for coerente apenas lhe resta opor-se frontalmente a tal política. Caso contrário será tão culpado como o Ministro das Finanças e o Primeiro-ministro que lhe continua a dar cobertura.

A economia Portuguesa está a colapsar!

Há mais de seis meses atrás comecei a alertar para o perigo de quebra de estrutura na economia (vide http://www.youtube.com/watch?v=XUU9-9JMZrs ), mas até agora dei sempre o benefício da dúvida aos governantes, pois acreditei que não estavam a conseguir compreender o que estava a acontecer. Acreditei que tinha razão antes de tempo e que quando os resultados do desempenho da economia fossem conhecidos haveria lugar a inflexão de política para evitar o desastre.

Os dados da execução orçamental demonstraram claramente que, a economia real estava a ceder e os modelos macroeconómicos seguidos pelo governo iriam falhar rotundamente. Passados estes meses, já existem dados concretos para ninguém poder alegar a menor dúvida sobre o efeito das políticas seguidas. Também não há a menor dúvida do efeito que as medidas agora anunciadas terão: Vamos ficar não só mais pobres (muito mais pobres), mas também vamos acabar ainda mais endividados do que começámos (o que é uma péssima notícia para todos a começar pelos nossos credores).

Nesta conjuntura e sem o menor espaço para dúvida, estas medidas são o maior erro económico que pode ser cometido pelo governo. Não há razão nenhuma para o governo não perceber o que está a acontecer.

A economia Portuguesa está a colapsar!

Então como podemos entender o anúncio de medidas que acelerarão a quebra de estrutura económica e o colapso? Apenas vejo uma razão para este contra-senso de governação: Estamos a ser governados por IMPREPARADOS. Lamentavelmente, Portugal sofre deste mal há demasiados anos. Em tempos tão difíceis, era importante que a qualidade da governação subisse. Afinal, estamos muito longe disso.

Pior. Percebemos agora que, o Ministro das Finanças não tem apenas um estilo próprio a que não estávamos habituados. Mostrou ser INCOMPETENTE. Definitivamente INCOMPETENTE! Com este homem no leme vamos ao fundo. Não é possível atingir o equilíbrio económico em Portugal por esta via, a menos que estejamos preparados para ter uma taxa de desemprego muito acima dos trinta por cento. O colapso da economia significará que centenas de milhares de Portugueses irão perder os empregos nos próximos dois anos. Este número ultrapassará o milhão de desempregados adicionais. Note-se bem, não é passar de um milhão (isso já não demorará, mesmo com malabarismos estatísticos), é um milhão a mais. Este é o desastre onde a obstinação por esta política errada nos levará.

Os nossos credores já perceberam que nós vamos rebentar. Não é do interesse de ninguém que isso aconteça, portanto mesmo nesta situação existe a possibilidade de negociar melhores condições, que nos permitam evitar a quebra irreparável da economia e salvar muitas empresas que seriam viáveis e que serão perdidas. Ainda é possível, mas o tempo escasseia. Não temos margem para errar. Não temos margem para um erro colossal como este.

Esta política tem de ser alterada de imediato. Não há tempo para respirar. Se este governo não for capaz de alterar profundamente a política seguida, adequando-se à realidade da economia, será bom que o Presidente da República tenha a coragem para resolver o assunto. No curto prazo, eleições seriam um folclore que só nos deixaria pior. Infelizmente, a única solução de curto prazo parece-me ser o Presidente da República assumir o leme do país.

segunda-feira, setembro 10, 2012

Mais Austeridade...

As medidas agora anunciadas introduzem um acréscimo de austeridade para as famílias portuguesas reduzidindo o seu rendimento disponível, diminuirão a procura interna e encolherão o mercado interno em Portugal. Por outro lado, existirá um pequeno impacto positivo para as empresas, que beneficiará especialmente as grandes empresas e aumentará os lucros das mais rentáveis, mas passará quase despercebido na tesouraria das pequenas e microempresas.
Apesar de todos estes efeitos, ...
o crónico problema da sustentabilidade da Segurança Social, que receberá um ganho líquido direto deste aumento de contribuições, não chegará a sentir melhorias, mantendo-se o gravíssimo problema atual, que tenderá a piorar significativamente ao longo dos próximos meses. Este caminho levará a um modelo de equilibrio económico em Portugal com uma população desempregada de mais um milhão de pessoas face ao que existe hoje. Com os dados atuais podemos pensar que a economia Portuguesa podia viver em equilibrio com cerca de 35 por cento de desempregados, o que social e economicamente configura um desastre de proporções ainda hoje inimagináveis.
O equilibrio das contas públicas é uma necessidade. No entanto, equilibrar as contas do Estado à custa da morte da economia Portuguesa é um erro. As políticas macroeconómicas do atual governo insistem em escolhas que esmagarão os mais fracos da sociedade portuguesa e que não têm a menor hipótese de trazer o necessário crescimento económico. A construção de uma economia de alto valor acrescentado, baseada na inovação, que permita um nível de vida elevado, é totalmente incompatível com as opções em que o atual governo insiste. É fundamental que esta rota seja corrigida urgentemente ou corremos o risco de já não irmos a tempo de evitar o colapso.

segunda-feira, fevereiro 21, 2011

UM LIVRO QUE PODE MUDAR PORTUGAL: "ANTÓNIO CARRAPATOSO: DESATAR O NÓ".

Comprei e li compulsivamente este livro que nos traz um verdadeiro programa político para mudar a forma insustentável como a nossa economia e a nossa sociedade funciona, sendo absolutamente revolucionário pelas propostas concretas avançadas para Portugal.


Este é um dos livros mais importantes do novo século. Raras vezes ao longo da vida encontrei um conjunto de propostas tão bem pensadas, evidentemente reflectidas e com o potencial transformador que António Carrapatoso nos oferece. Não podemos cair na armadilha do bacoco preconceito ideológico catalogador das propostas e ideias em Esquerdas e Direitas ou Progressistas e Conservadoras, capaz de rejeitar uma mudança profunda que pode tornar Portugal num país moderno, sustentável e acima de tudo que se possa constituir como um lugar de futuro para os seus cidadãos, apenas porque o seu autor está ligado a uma corrente de pensamento Liberal. Se a Esquerda defende os mais fracos e desamparados, então este é também um livro de Esquerda. Não conheço melhor maneira de defender os fracos do que criar todas as condições para os tornar fortes. Talvez alguns pensem que será obrigá-los a serem fracos e protegidos toda a vida para terem de viver da assistência do Estado e serem assim alvos fáceis de controlo político e sindicar votos...Se a Direita quer melhorar o funcionamento da economia, então este será um livro de Direita. Mas nesse caso terei de concordar com a Direita*. Não sejamos tão cegos que não queiramos ver os benefícios das medidas apontadas apenas porque vem de alguém que não pertence ao nosso "Arco Ideológico". Tenhamos a destreza mental de acolher estas propostas apenas por um motivo: Este homem tem razão!

Este é um livro fundamental para o futuro de Portugal! Como poucos o foram nas últimas décadas. Assim os Portugueses o saibam entender.



* Apesar de estar afastado da política activa há vinte anos, nunca entreguei o cartão de militante do Partido Socialista, pois acredito que existem benefícios da Política Social que o PS propõe que devem ser defendidos, mas isto nunca me impediu, nem impedirá, de pensar pela minha própria cabeça e sei perfeitamente até pelos vinte anos de trabalho duro na economia real e estudo permanente no campo académico e científico, nomeadamente no campo da Macroeconomia e da Gestão de Empresas, que a melhoria da eficiência económica, da competitividade e da produtividade da economia, criando riqueza, e sublinho CRIANDO RIQUEZA, é a única forma sustentável de melhorar a vida dos Portugueses.

terça-feira, dezembro 28, 2010

Mensagem de Natal 2010

Neste Solstício de Inverno em que celebramos o Natal, maior expressão iconográfica Cristã da criação da Humanidade, quero transmitir os votos de paz e harmonia com o Criador, expressos através da solidariedade para com todos os seres humanos, desenvolvidos diariamente durante a nossa presença no Mundo. Que o caminho da nossa vida reflicta no mundo material as mais elevadas preocupações espirituais, trabalhando todos os dias para a construção de um mundo melhor.




quarta-feira, dezembro 08, 2010

Macroeconomicus: 10 000 Page Views.

É com o maior prazer e satisfação pessoal que informo todos os leitores do blogue Macroeconomicus que atingimos as dez mil visualizações. Este é um número bem revelador do sucesso consistente alcançado por este blogue, alicerçado num grupo de leitores superior a uma centena que todas as semanas visitam o Macroeconomicus para acompanharem as actualizações efectuadas. Compreensivelmente, num mundo em permanente aceleração, muitas vezes falta o tempo aos leitores para comentar, intervir e aprofundar, no entanto a constância no acompanhamento do blogue permite antecipar um crescimento futuro, quer na quantidade de leitores, quer na qualidade dos debates.

Este é um espaço de reflexão e análise económica, sobre políticas e opções, sendo naturalmente um fórum de debate especializado e não um instrumento de comunicação de massas. Assim, atingir um patamar tão elevado, em menos de um ano, com leitores regulares em Portugal, Moçambique, Angola e Brasil, com uma prevalência cada vez maior de seguidores no maior país da Lusofonia, representa uma boa medida do sucesso alcançado. Um sucesso de todos os leitores e comentadores deste blogue.

Continuemos a trabalhar da mesma forma.

Sempre!

José Paulo Oliveira

segunda-feira, novembro 22, 2010

Um contrato social para Portugal

Em Portugal, as dificuldades económicas e financeiras estão enraizadas para os próximos anos. A tendência de crescimento do PIB Potencial garante-nos praticamente a estagnação económica durante a década que vai começar. Escrevi há algum tempo que acreditava que o início do campeonato mundial de futebol de 2018 num estádio da segunda circular marcaria, no nosso imaginário colectivo, o final da actual crise económica. Na altura, alguns leitores interrogaram-se se seria necessário aguentar até 2018? Hoje, um líder político a quem a esmagadora maioria dos politólogos vê como futuro Primeiro-Ministro de Portugal referiu a necessidade de uma década para relançar a economia. Obviamente, sobre as políticas a desenvolver para conseguir este desiderato não se deu ao trabalho de nos elucidar. Pela minha parte desconfio que, no fundo ele sabe que a reestruturação da economia Portuguesa que está em marcha estará concluída, mais ano menos ano, nessa altura. Também são os meus cálculos e foi a ideia que presidiu ao meu anúncio de 2018. Claro que, se investirmos em obras públicas para acolher o mundial de futebol, teremos um efeito multiplicador que abafará definitivamente a crise. Não se esqueçam que estamos a falar de mais de sete anos de distância, durante os quais teremos necessariamente de equilibrar as contas públicas, o Estado terá de emagrecer e o nosso modelo económico vai terminar a sua mudança estrutural. Assim, está claro quando é que podemos esperar o final da crise económica Portuguesa.


E entretanto?

O próximo ano anuncia-se como um ano duríssimo de viver em Portugal. No entanto, não nos podemos iludir, pois nem todos viverão este choque de igual modo. Os mais fortes serão incomodados, os mais fracos estão em risco de ser varridos para a miséria. A desestruturação social é um dos mais profundos riscos dos dias que correm. Portugal tem vivido em paz social durante a maior parte da sua história, em particular nos últimos cem anos. Nunca durante esse período tantas famílias viveram no desespero que atravessam actualmente. Podemos ter a certeza que 2011 nos trará um reforço das fontes desse desespero: o aumento do desemprego; o corte dos apoios sociais e a mais completa ausência de perspectivas.

Sabemos que a economia vai entrar em recessão e que o empobrecimento colectivo está ao virar da esquina. O que poderemos fazer?

Acredito que, se queremos manter viva a ideia de país, com uma sociedade que se reveja numa Nação à qual corresponde um Estado antiquíssimo, teremos de rejeitar o fatalismo da situação e tomar a iniciativa. Este é o momento das políticas sociais se tornarem verdadeiramente activas, ajudando todos os deserdados do nosso sistema económico, evitando que caiam nos problemas gerados pela miséria económica e prevenindo a miséria social e moral. A desmoralização total, em que os Portugueses se encontram, representa um risco enorme, mas simultaneamente a oportunidade de sabermos fazer nos tempos mais difíceis aquilo que não soubemos criar em abundância. A solidariedade social alicerçada no apoio dos que mais têm, defendendo os mais pobres, pode gerar a dinâmica de país que nós há muito perdemos. Claro que não será com rendimentos mínimos, nem Chico-espertismos, à boa maneira do passado. Provavelmente, teremos de voltar a subir os impostos, mas o Estado não poderá continuar a manter o nível de despesa consigo próprio enquanto diminui o rendimento disponível das famílias. Esta política terá de ser assegurada com transferências sociais selectivas, com uma actuação próxima dos cidadãos e desanexando a atribuição destes subsídios de quem tem interesses de caciquismos eleitorais. Para virarmos o nosso destino, temos em primeiro lugar de garantir que este espírito patriótico não será mais uma vez enganado. Os Portugueses estão escaldados demais com mentirosos profissionais que pululam na nossa classe política e que tanto fizeram pela destruição do país.

Estou convencido que este caminho é justo. Há uma diferença fundamental entre uma família ser obrigada a cancelar as férias ou cortar a Tv Cabo e uma família não conseguir alimentar os filhos. Este é o momento de garantir o essencial a quem precisa. A ideia de país, Estado e Nação a tal obriga!

Ora no presente momento, a única hipótese de colocar em marcha este processo será o próprio governo tomar a iniciativa e lançar este tipo de medidas. Estamos à beira de uma greve geral, mas estamos muito mais preocupantemente à beira de uma catástrofe social. Apenas o governo do país pode conduzir este processo. Claro que um governo de salvação nacional, que tivesse estas preocupações, poderia lançar Portugal neste caminho, mas o governo legitimamente eleito tem a obrigação de conduzir os destinos do país, neste momento extremamente difícil. Não refiro a Presidência da República porque qualquer iniciativa agora tomada correria o risco de ser confundida com mais propaganda eleitoral, mas obviamente deverá participar também neste processo.

Finalmente, existe uma condição imprescindível para que Portugal possa trilhar este caminho, além da afirmação clara do nosso desejo colectivo, que é a resistência ao FMI. É sabido que o FMI endireitará o país, mas também sabemos como. As preocupações sociais estão totalmente fora das cogitações desta estrutura e o preço a pagar será elevadíssimo. É tempo de tudo fazer, como sociedade, para evitar entregar a governação económica real do país ao FMI. A última política que nos resta verdadeiramente, por muito condicionados que estejamos, tem de ser utilizada. Aceitar a entrada do FMI é condenar vastas classes da nossa sociedade. Por uma vez, sejamos capazes de nos governar. Este não é o momento de jogos políticos. Agora é tempo de estadistas a sério. Veremos quem se assume.

José Paulo Oliveira

segunda-feira, novembro 01, 2010

Nota do Editor: Blogue Macroeconomicus passará a ser actualizado ao final do dia de Domingo

Devido ao excesso de trabalho e de compromissos que, impedem o editor deste blogue de actualizar com maior frequência o Macroeconomicus, sabendo cumulativamente que este é um espaço de reflexão muito mais que de notícia, as actualizações do Macroeconomicus passarão a ser feitas de forma regular ao final do dia de domingo, permitindo aos nossos leitores regulares lerem as últimas reflexões e comentários, bem como participarem activamente, na noite de domingo ou no início de cada semana de trabalho. Assim, evita-se defraudar expectativas de quem visita o blogue frequentemente e não encontra novidades.
A partir do próximo domingo, garantindo a regularidade de actualizações realizadas todos os domingos, apresentaremos novas mensagens, comentários e reflexões.

domingo, outubro 31, 2010

Roubini: Portugal em risco de recorrer ao fundo de resgate

(Notícia do Diário Económico)
Nouriel Roubini, economista que previu a última crise financeira, vê Portugal e a Irlanda com o mesmo destino da Grécia.


"Apesar do plano de resgate anunciado, apesar das ajudas à Grécia e apesar dos testes de resistência à banca, as dívidas dos países periféricos continuam a apresentar problemas. E o crescimento económico da Europa, especialmente nos PIGS, vai ser muito baixo e inclusivamente negativo. O panorama assusta", afirmou Nouriel Roubini, em entrevista ao ‘El País'.

Na mesma linha, o reputado economista - apelidado de Dr. catástrofe - afirma que "com dívidas tão altas e com os planos de austeridade, a deflação é um risco sério", prevendo que "países como a Grécia vão ter que reestruturar a sua dívida e isso provocará uma nova crise orçamental". Para Roubini, "já não é uma questão se vai acontecer, mas apenas quando".

E Roubini aponta os culpados da difícil situação dos países periféricos: o Banco Central Europeu (BCE) e a Alemanha. "A teimosia do BCE, que se empenha em ver fantasmas de inflação, é um desastre para a Europa e em particular para os países periféricos", defende. E, avisa o economista, "quando o euro atingir os 1,60 dólares desaparecerá qualquer possibilidade de recuperação, e provavelmente veremos outro país a pedir um resgate como fez a Grécia. Portugal e Irlanda são os países pior situados". Já Espanha, salienta, "está muito melhor que a Grécia, e melhor que a Irlanda ou Portugal", mas, alerta, "tem uma dívida privada enorme, um desemprego muito elevado que não vai baixar no médio prazo e uma bolha imobiliária".

segunda-feira, outubro 25, 2010

ESTAGNAÇÃO ECONÓMICA: Portugal tem 3º menor crescimento da década no mundo

(Notícia do Diário de Notícias)
O principal receio é que o modelo de Portugal e Itália se transforme na nova realidade dos países desenvolvidos, escreve o 'El País'.
Portugal teve o terceiro menor crescimento económico do mundo na última década (6,47%), ganhando apenas à Itália (2,43%) e ao Haiti (-2,39%), numa lista de 180 países publicada pelo El País com base em dados do FMI.
Embora o jornal espanhol reconheça que "quando as economias alcançam um certo nível de desenvolvimento, o ritmo de crescimento abranda", salienta que, particularmente nos casos de Portugal e Itália, verificou-se aquilo a que os académicos chamam de crescimento em L, à semelhança do Japão, que leva de avanço não uma, mas duas décadas perdidas.
Este modelo caracteriza-se por um prolongado período de estagnação económica, com crescimentos próximos de 0%, desemprego elevado, fraco consumo e excesso de capacidade produtiva. O maior receio é agora que o mesmo modelo alastre aos outros países desenvolvidos, se não forem tomadas as medidas adequadas.
"Japão, Itália e Portugal têm em comum esse padrão de crescimento em L, que se traduz num círculo vicioso da economia e que muitos economistas atribuem à ausência de uma política fiscal restritiva, controlo das contas públicas e redução do endividamento", com a dívida pública a rondar os 30% do PIB em Itália, quase 80% em Portugal e 217% no Japão, lê-se no artigo. E cita o professor da IE Business School Rafael Pampillón, que defende que a falta de competitividade e a rigidez destes mercados explicam como se chega a manter um crescimento tão débil durante tanto tempo, conclusões em boa parte partilhadas pela Comissão Europeia e pelo FMI.
Por último, o jornal lembra que, apesar das enormes quantidades de dinheiro injectadas na economia, o crescimento custa a descolar, exemplificando com os Estados Unidos.

segunda-feira, outubro 18, 2010

FT: Como o euro esteve à beira do colapso

(Publicado pelo Diário Económico)
Muitas conversas e longas entrevistas mostram o quão perto esteve a moeda única de um colapso e como o símbolo máximo da integração europeia esteve dependente das instituições internacionais e da administração norte-americana.



Quinta-feira, 22 de Abril, 2010

Embaixada do Canadá, Washington

Numa noite de Primavera, o nº 501 da Pennsylvania Avenue foi palco de um jantar que reuniu alguns dos governantes mais poderosos do mundo. O edifício, situado em pleno centro administrativo, legislativo e judicial dos EUA, é um misto de modernismo e neoclassicismo, a que alguns críticos de arquitectura chamam burlesco. Ora, o tema em discussão naquela noite nada tinha de burlesco. Pelo contrário, era especialmente grave: como salvar a união monetária europeia. Nesse encontro, os ministros das Finanças e os presidentes dos bancos centrais dos sete maiores países industrializados (G7) apenas tinham em mente a possibilidade de a explosão da dívida soberana grega poder desencadear uma crise à escala europeia e desestabilizar o sistema financeiro global.

"Não podemos ignorar que os EUA olham para a incapacidade de agir da Europa com crescente incredulidade e apreensão", referiu no encontro Alistair Darling, ex-ministro das Finanças britânico. "A mensagem é clara: ‘Por que não agem? Sabem muito bem que têm de agir'".

Onze dias antes, os líderes europeus e o Fundo Monetário Internacional (FMI) tinham prometido à Grécia uma ajuda no valor de 45 mil milhões de euros, porém, no encontro realizado na Pennsylvania Avenue - que teve como anfitrião Jim Flaherty, ministro das Finanças do Canadá -, as partes concordaram que esse valor provavelmente ficaria muito aquém do necessário.

"Os presentes expressaram uma preocupação profunda face aos perigos de um contágio global. A discussão foi particularmente sincera e frontal. Ficou claro que os EUA e o FMI estavam dispostos a ajudar. Desta vez, os EUA não se comprazeram com a desgraça alheia. Apoiaram-nos e disponibilizaram-se para nos ajudar recorrendo à sua experiência na gestão da crise", recorda Olli Rehn, Comissário Europeu dos Assuntos Económicos e Monetários.

Nessa mesma noite, antes de Rehn e dos restantes presentes - incluindo os presidentes da Reserva Federal dos EUA e do Banco Central Europeu, do FMI e do Banco Mundial - saírem da embaixada, chegou-se a acordo sobre a necessidade de se tomarem medidas urgentes e colectivas.

Seis meses depois temos consciência de que evitaram uma tragédia no último minuto. Muitas e longas entrevistas a fontes próximas deste processo mostram quão perto esteve a moeda única de um colapso e quanto o resgate da principal expressão da integração europeia esteve dependente de instituições internacionais e da administração americana.

A constante preocupação dos mercados de obrigações em relação ao panorama económico e orçamental de alguns membros da zona euro, como Irlanda e Portugal - para não falar na Grécia -, lembra-nos que as lições de Abril e Maio são hoje mais pertinentes do que nunca, pois mostram-nos que, apesar de o processo de decisão da Europa nos parecer amiúde penosamente lento, os seus líderes farão o que for preciso para manter viva a moeda única.

O euro, ao contrário de outras moedas, é mais do que um simples meio de pagamento e fonte de valor. Simboliza a aspiração da Europa de ser respeitada como uma comunidade de nações soberanas empenhadas numa experiência única de união na paz e na prosperidade. Porém, e como a análise dos acontecimentos deste ano deixou claro, os governantes terão muito trabalho pela frente para debelarem as falhas e debilidades económicas que têm fragilizado este projecto desde o início.



Sábado, 24 de Abril, 2010

Sede do FMI, Washington

Às sete da manhã, dois dias depois do jantar na Embaixada do Canadá, Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu (BCE), Olli Rehn e George Papaconstantinou, ministro das Finanças grego, reuniram-se no gabinete amplo e luminoso de Dominique Strauss-Khan, director-geral do FMI. Foi aqui que gizaram um acordo para salvar a Grécia, cabendo ao FMI assegurar metade do valor disponibilizado pela zona euro. Pela primeira vez desde o lançamento do euro, em 1999, era preciso salvar um país membro do abismo em nome da unidade europeia e da estabilidade financeira global.

Até domingo, 2 de Maio, foram reunidos 110 mil milhões de euros para salvar a Grécia: 80 mil milhões garantidos pela zona euro e os restantes 30 mil milhões pelo FMI. Nos cinco dias subsequentes, quando uma vaga de pânico se expandiu por todos mercados financeiros mundiais ameaçando engolir a Irlanda, Portugal e Espanha, os líderes da União Europeia (UE) viram-se obrigados a traçar um segundo plano, cuja magnitude fora até aí impensável: um fundo de ajuda aos 16 países da zona euro no valor de 750 mil milhões de euros, coadjuvado por uma iniciativa sem precedentes do BCE de comprar títulos da dívida pública.



Sexta-feira, 7 de Maio, 2010

Sede da UE, Bruxelas

A história de como este segundo plano foi posto em prática começa noutro jantar, onde foram servidos espargos e rodovalho aos presidentes e primeiros-ministros da Europa. A maior parte está habituada a ouvir repreensões das autoridades europeias sobre a má gestão das finanças públicas, mas, nessa noite, a linguagem utilizada foi especialmente apocalíptica. Quando Jean-Claude Trichet deu por concluída a sua firme intervenção, nenhum dos presentes duvidou que estava em jogo o futuro do euro.

Trichet usou um gráfico para ilustrar a forma como os mercados financeiros conduziram as taxas de juro das obrigações dos governos mais frágeis da zona euro a níveis muito elevados e insustentáveis, e anunciou que a crise já não se circunscrevia apenas à Grécia. Um dos participantes recorda as palavras do presidente do BCE: "Acrescentou que ‘este problema não diz somente respeito a um país, mas sim a vários. É um problema europeu e global que se está a deteriorar muito rapidamente e com grande intensidade'".

Os seus comentários produziram o efeito desejado. Os líderes dos países mais pequenos da zona euro, menos entrosados com os mercados financeiros mundiais, não tinham até àquele momento noção da verdadeira gravidade da crise. Alguns dos líderes mais experientes mostraram-se surpreendidos com a magnitude da situação. Um embaixador europeu lembra-se de olhar para o presidente francês e de ver "um Nicholas Sarkozy lívido e atónito. Nunca o tinha visto tão pálido", afirma.

Trichet disse aos líderes europeus que a crise era parcialmente da sua responsabilidade por terem ignorado os apelos do BCE em prol da disciplina orçamental após o lançamento do euro. Sublinhou também que o BCE alertou repetidas vezes para a necessidade de um controlo rigoroso das necessidades de financiamento e da despesa pública. Só assim se poderia cimentar um grupo de estados que partilham a mesma moeda, mas não dispõem de uma união política ou orçamental semelhante à dos EUA. Os governos não cumpriram com as suas obrigações e estavam agora a pagar a factura. Trichet terminou solenemente dizendo que "chegou o momento de assumirem as vossas responsabilidades".

O debate foi aceso e tenso. Sarkozy instou o BCE a seguir o exemplo da Reserva Federal dos EUA e do Banco de Inglaterra que, durante a crise financeira mundial, deram um passo corajoso ao decidirem comprar obrigações do Tesouro para "descongelar" os mercados de crédito. "Sarkozy bradava: ‘Chega de hesitações!", recorda um político europeu. O presidente francês teve o apoio dos primeiros-ministros italiano e português, Silvio Berlusconi e José Sócrates, bem como de outros chefes de governo de países do Sul da Europa.

A chanceler alemã, Angela Merkel, defendeu o BCE alegando que não cabia aos líderes europeus dar ordens ao banco central, cuja independência está consignada no Tratado da UE. Todos os presentes ouviram atentamente os seus argumentos, não só porque a Alemanha é a economia europeia mais pujante como tinha, nesse mesmo dia, aprovado no Parlamento um apoio no valor de 22,4 mil milhões de euros, a somar à ajuda da UE à Grécia - a maior fatia do bolo partilhado por todos os países da zona euro. Merkel contou com o apoio dos primeiros-ministros da Holanda e da Finlândia, Jan Peter Balkenende e Matti Vanhanen.

Trichet estava ciente de que a compra de obrigações do Tesouro por parte do BCE era uma opção, ainda que extremamente controversa, dados os potenciais riscos inflacionistas, mas necessária ‘in extremis'. Depois de uma reunião do conselho de governadores do BCE na quinta-feira, em Lisboa, disse numa conferência de imprensa que nem ele nem os seus colegas haviam discutido esta questão. Tecnicamente é verdade, uma vez que não constava da agenda de trabalhos. No entanto, na cimeira de sexta-feira, não podia voltar atrás sob pena de ser acusado de ceder à pressão de Sarkozy e dos seus aliados. Se a independência do BCE fosse posta em causa, os danos daí resultantes seriam irreparáveis.

Trichet optou por atacar aqueles que o criticavam lembrando-lhes que, desde Agosto de 2007, o BCE injectara liquidez no sistema bancário europeu no valor de centenas de milhares de milhões de euros para evitar o seu colapso, mas reconheceu que o banco central nunca pediu aos líderes europeus para adoptarem medidas específicas nesta matéria. "Trichet mostrou-se muito firme neste aspecto. Disse: ‘Não nos peçam para fazer o que quer que seja. Faremos o que considerarmos apropriado fazer'".

A cimeira corria o risco de tornar-se numa mera declaração de intenções entre duas filosofias de união monetária que, muito antes e muito depois de nascer o euro, já eram antagónicas: a visão alemã, que defende o rigor orçamental e a independência do banco central, e a visão francesa, assente num "governo económico" para a Europa conduzido por políticos eleitos.

Em termos práticos, era preciso encontrar uma solução antes de os mercados asiáticos abrirem na segunda-feira. Os 16 líderes incumbiram a Comissão Europeia (CE) de criar um "mecanismo de estabilização" capaz de proteger a zona euro e convocaram os ministros das Finanças da UE para uma reunião de urgência no sábado, 9 de Maio, a fim de aprovarem o plano.



Fim-de-semana, 8 e 9 de Maio, 2010

Bruxelas

"Estava previsto regressar à Finlândia para participar num programa de televisão, mas percebi que era importante ficar em Bruxelas. Reunimos as tropas na manhã de sábado e trabalhámos as propostas durante 24 horas para estarem prontas antes das 13.00 de domingo", realça Rehn.

Quis o destino que a reunião ministerial não começasse a bom ritmo. O ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, sentiu-se mal assim que chegou a Bruxelas e foi levado para o hospital. "A ausência de Wolfgang foi um choque para todos", lembra a sua homóloga francesa, Christine Lagarde, que disse aos seus colegas: "Não podemos continuar sem a Alemanha. Devemos esperar'. Mas o tempo passava e sabíamos que tínhamos de concluir as negociações antes da abertura dos mercados asiáticos, porque estava em causa o futuro do euro".

Thomas de Maizière, ministro da Administração Interna da Alemanha, substituiu Schäuble na reunião. Dava o seu passeio de domingo no campo, nos arredores de Dresden, quando foi informado que teria de embarcar num avião do governo com destino a Bruxelas. Antes da sua chegada, porém, já se sabia que a Alemanha não ia aceitar as propostas da Comissão.

O plano da CE previa a criação de um fundo especial no valor de centenas de milhares de milhões de euros que ficaria sob a sua alçada e venderia obrigações com garantias dos governos, mas a Alemanha rejeitou esta modalidade argumentando que todos os países que precisem de ajuda financeira devem recebê-la sob a forma de empréstimos bilaterais concedidos por outros governos, como aconteceu no caso da Grécia.

Entretanto, os conselheiros jurídicos da UE alertaram a Comissão para o facto de o seu plano ser incompatível com a lei europeia. Rehn recorda: "Se a Alemanha tivesse subscrito as propostas da CE, esta teria motivos para se regozijar. Mas os alemães fizeram valer o seu ponto de vista lembrando que a apreciação do Tribunal Constitucional da Alemanha nunca poderia ser favorável".

Merkel e Sarkozy trocaram impressões por telefone e chegou-se a um consenso: não se definiu a forma de angariar o dinheiro, mas definiu-se o valor necessário. A soma astronómica, 500 mil milhões de euros, decompunha-se assim: 60 mil milhões em fundos europeus provenientes do orçamento da União e 440 mil milhões em garantias dos governos da zona euro. Strauss-Khan tranquilizou os líderes europeus informando-os de que o FMI iria disponibilizar uma verba igual a metade do valor definido, isto é, 250 mil milhões, o que perfaz um total de 750 mil milhões de euros para salvar a zona euro.

O presidente norte-americano, Barack Obama, manteve conversas telefónicas com Angela Merkel e outros líderes europeus, e realizou-se uma ‘conference call' com os ministros do G7, quatro dos quais europeus. "Houve vários processos paralelos: as conversações entre os 27 estados membros da UE em Bruxelas, com o G7 e as chamadas telefónicas entre Nicholas Sarkozy e Angela Merkel", explica Christine Lagarde. "Fiz a ponte com o G7 e os 27 porque Elena Salgado, ministra das Finanças espanhola, presidia à reunião da UE e Schäuble se encontrava no hospital. Por vezes estava em duas frentes: o G7 num telefone e os 27 noutro".

O acordo levou tempo a alcançar. Alguns governos receavam apresentar aos parlamentos nacionais um novo pedido de ajuda no valor de milhares de milhões de euros para países vizinhos em dificuldades, visto o pacote de ajuda à Grécia ser ainda muito recente. Queriam um mecanismo diferente, mas ninguém sabia em que moldes. Já passava da meia-noite quando Lagarde propôs fazerem uma curta pausa. "Senti a pressão. Não tirava os olhos do relógio".

Segundo Rehn, Maarten Verwey, director de Relações Internacionais no Ministério das Finanças holandês, foi quem desbloqueou o impasse ao propor a criação de um "veículo de finalidade especial" (SPV, na sigla inglesa) que pudesse angariar fundos e fosse apoiado pelos 440 mil milhões de euros de garantias governamentais. A Alemanha deu luz verde pelo facto de o SPV não ser controlado pela Comissão e de as obrigações comuns da zona euro não constarem da proposta.

Este acordo foi quanto bastou para o BCE anunciar um programa de compra de títulos do Tesouro com vista a estabilizar os mercados. Uma decisão que gerou forte controvérsia na Alemanha, por ser visto como consequência da pressão francesa. Pouco depois, veio a público que Axel Weber, presidente do banco central alemão, se opôs a esta solução e rompeu relações com os seus colegas do BCE.

A iniciativa foi recebida com entusiasmo pela maioria dos ministros das Finanças da UE, mas houve quem tivesse uma opinião mais crítica. "A decisão do BCE foi muito positiva e tal como todas as boas decisões devia ter sido tomada mais cedo", ironizou Jacek Rostowski, ministro das Finanças polaco.

Durante a noite de 9 de Maio, os ministros das Finanças tiveram a certeza de que o BCE os iria apoiar, porém, nem Trichet nem Lucas Papademos, representante do banco central na reunião de Bruxelas, deram qualquer pista sobre os seus planos. "Estávamos confiantes de que o BCE nos apoiava, mas Trichet não deu o braço a torcer: ‘Nenhum político me vai dizer o que devo fazer'. Então, alguém perguntou: ‘E se Trichet não nos apoiar?'. Depois, alguém disse: ‘Se isso acontecer é o fim'. Ninguém tinha dúvidas de que precisávamos do apoio de ambas as partes, ministros e BCE, mas este mostrou-se inflexível: só avançaria depois de os ministros avançarem", lembra Alistair Darling.

Nesse dia surgiram outras dificuldades. Primeiro foi preciso persuadir Portugal e Espanha a adoptar novas medidas de austeridade para aliviar as pressões sobre o mercado de obrigações. Depois o Reino Unido recusou-se a contribuir para o SPV alegando que um ‘bail out' do euro era da responsabilidade exclusiva dos países da zona euro.

"A oposição britânica não foi construtiva. O Reino Unido poderá pagar caro pela sua opção um dia mais tarde. Em tempos particularmente delicados, como aqueles que vivemos hoje, não é sensato adoptar uma posição tão radical como esta. Ninguém vai esquecer facilmente o sucedido", realça Anders Borg, ministro das Finanças sueco.

Não obstante, os líderes da UE conseguiram - ainda que no derradeiro momento - ganhar algum tempo para repor a ordem na zona euro.

segunda-feira, outubro 11, 2010

Nobel da Economia dividido entre três professores universitários

(Notícia do SAPO)
O Prémio Nobel de Economia deste ano foi atribuído a três professores de economia que desenvolveram um teoria em torno das oscilações no mercado e do desemprego.


Peter A. Diamond, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, nos EUA, Dale T. Mortensen, professor na Universidade de Northwestern e Christopher A. Pissarides, da London School de Economia e Ciência Política, no Reino Unido, são os vencedores deste ano do Prémio Nobel da Economia atribuído pela Academia Sueca.

O trabalho dos três professores foi distinguido pela "análise dos mercados com oscilações na procura", avançou a Academia.

Peter Diamond analisou os fundamentos de procura nos mercados, enquanto que Dale Mortensen e Christopher Pissarides desenvolveram a teoria e aplicaram-na ao mercado de trabalho.

O modelo desenvolvido pelos agora laureados com o Prémio Nobel de Economia ajuda a compreender, explica em comunicado a Academia Sueca, a forma como o desemprego, as ofertas de trabalho e os salários são afectados pela regulação e políticas económicas.

Uma das conclusões da investigação aponta para o facto de que quanto mais generosos forem os apoios ao desemprego maior será a taxa de desemprego. Também o tempo de procura por um novo emprego, dizem os investigadores, tenderá a ser mais alargado.

Confirma-se assim a atribuição do Prémio Nobel de Economia deste ano como tendo uma forte relação com a crise económica que o mundo atravessa.

Em conferência de imprensa, Christopher A. Pissarides afirmou que recebeu a notícia da atribuição do prémio com "felicidade e surpresa" , confessando-se honrado.


Lista de Vencedores - 1969/2010

2010 Peter A. Diamond, Dale T. Mortensen e Christopher A. Pissarides
2009 Elinor Ostrom e Oliver E. Williamson
2008 Paul Krugman
2007 Leonid Hurwicz, Eric S. Maskin e Roger B. Myerson
2006 Edmund S. Phelps
2005 Robert J. Aumann e Thomas C. Schelling
2004 Finn E. Kydland e Edward C. Prescott
2003 Robert F. Engle III e Clive W.J. Granger
2002 Daniel Kahneman e Vernon L. Smith
2001 George A. Akerlof, A. Michael Spence e Joseph E. Stiglitz
2000 James J. Heckman, Daniel L. McFadden
1999 Robert A. Mundell
1998 Amartya Sen
1997 Robert C. Merton e Myron S. Scholes
1996 James A. Mirrlees e William Vickrey
1995 Robert E. Lucas Jr.
1994 John C. Harsanyi, John F. Nash Jr. e Reinhard Selten
1993 Robert W. Fogel e Douglass C. North
1992 Gary S. Becker
1991 Ronald H. Coase
1990 Harry M. Markowitz, Merton H. Miller e William F. Sharpe
1989 Trygve Haavelmo
1988 Maurice Allais
1987 Robert M. Solow
1986 James M. Buchanan Jr.
1985 Franco Modigliani
1984 Richard Stone
1983 Gerard Debreu
1982 George J. Stigler
1981 James Tobin
1980 Lawrence R. Klein
1979 Theodore W. Schultz e Sir Arthur Lewis
1978 Herbert A. Simon
1977 Bertil Ohlin, James E. Meade
1976 Milton Friedman
1975 Leonid Vitaliyevich Kantorovich e Tjalling C. Koopmans
1974 Gunnar Myrdal e Friedrich August von Hayek
1973 Wassily Leontief
1972 John R. Hicks e Kenneth J. Arrow
1971 Simon Kuznets
1970 Paul A. Samuelson
1969 Ragnar Frisch e Jan Tinbergen

domingo, outubro 10, 2010

Inevitavelmente FMI

Durante os anos oitenta do século passado, já lá vão mais de vinte cinco anos, recordo bem o clima social que se vivia em Portugal, durante a última vez em que Portugal esteve à beira da bancarrota. Foi um tempo extremamente duro e difícil para demasiadas famílias portuguesas. A península de Setúbal, tal como o Vale do Ave e outras regiões, conheceu fome e desespero e o bispo de Setúbal, D. Manuel Martins, assumiu protagonismo público em defesa de políticas sociais activas. Passaram-se anos de aperto colectivo até as contas públicas e externas se reequilibrarem e no final de 1985 já se anunciavam tempos de fartura com a próxima entrada para a Comunidade Económica Europeia. O tempo continuou a correr, vieram os fundos comunitários, colectivamente desperdiçados, a Autoeuropa ajudou a transformar a península de Setúbal num pólo de desenvolvimento tecnológico e produtivo, o país cresceu (e as importações também…) e o consumo interno habituou-se a níveis de vida mais exigentes. Atravessámos anos de prosperidade e houve mesmo momentos, como em 1998 com a EXPO a catapultar o orgulho num país moderno, em que acreditámos que Portugal iria ser um país rico.


O novo milénio trouxe-nos o final do Acordo Multifibras, o ajustamento estrutural da economia nacional e a necessidade de adequar a competitividade das empresas à competição cada vez mais feroz dos mercados globalizados. Com trabalhadores não qualificados que passaram a ser muito caros quando comparados com os seus congéneres da China, Índia, Turquia, Marrocos e muitos outros países em desenvolvimento. A transição para uma economia baseada em valor acrescentado afigurava-se longa e penosa. Por outro lado, o Estado ia alargando o seu peso no PIB, comprometendo a competitividade do sector privado. Os funcionários públicos a quem foram oferecidas regalias (hoje os chamados “Direitos Adquiridos”, tantas vezes relembrados em manifestações e greves), acreditaram naturalmente que, aquilo que os governantes da época lhes davam em aumentos e promoções automatizadas era resultado do avanço do país e fruto do seu próprio esforço. Evidentemente, nada disso era sustentado na economia real e os anos comprovaram-no. O peso do Estado na economia Portuguesa continuou a aumentar e a sufocar cada vez mais o sector privado. Enquanto o sector privado tinha de se adaptar a todos os choques com a realidade, o sector estatal conseguia resistir e perdia apenas algumas das suas regalias. A diferença de remunerações entre os trabalhadores não qualificados do sector público e do sector privado atingiu um tal ponto de discriminação social, que seria impossível a qualquer governo evitar o tipo de medidas anunciadas há dias de cortes salariais no aparelho do Estado. Todo o país tem de fazer sacrifícios, não podendo existir um grupo de cidadãos que está praticamente a salvo deste esforço. A luta dos professores contra a anterior Ministra da Educação e a sua vitória de Pirro foram um dos últimos estertores do poderio sindical ligado a partidos (de Esquerda?) que afirmam defender os mais fracos contra os poderosos, mas que acabam por ajudar a eternizar os jovens desempregados e com mau emprego, os trabalhadores precários e a exclusão social de cada vez mais “pobres com emprego”. Os sindicatos tornaram-se defensores apenas dos seus associados e das classes que ainda têm algum “direito adquirido” a defender. Curiosamente, alguns políticos de Direita, ansiosos por mostrarem serviço, correram a cavalgar a onda da insatisfação. A ineficiência económica desta situação e a imparável marcha da economia acabam por se conjugar para nos fazer a todos chocar contra a realidade e acordar abruptamente da ilusão em que Portugal viveu e alguns portugueses ainda vivem.

Não tenho dúvidas que a greve geral anunciada e que juntará as duas grandes centrais sindicais será um sucesso de participação.

A revolta e a crispação social irão aumentar nos próximos tempos e acredito que, os actuais governantes não quererão o exclusivo do odioso necessário para endireitar o país (até porque governantes como Mário Soares e Ernâni Lopes dispostos a arcar com as decisões difíceis não aparecem sempre). Acredito também que, os políticos portugueses actuais, em especial os ligados aos maiores partidos e com ambições de governação, não se irão entender para tomar as medidas duríssimas que a conjuntura impõe. Afinal de contas, é mais fácil deixar que venham técnicos do FMI tomar conta da situação do que acarretar com responsabilidades. A negociação do próximo Orçamento de Estado já deixa antever isso mesmo. Lembro-me de Mota Pinto e não estou a ver Passos Coelho seguir-lhe o exemplo…

Por tudo o que ficou atrás, acredito que o FMI inevitavelmente voltará a Portugal. Para tomar medidas que, nós próprios não temos coragem de tomar, com a conhecida insensibilidade que o FMI costuma ter às necessidades sociais dos mais desfavorecidos. Esta é a perda maior que a entrada do FMI acarreta do ponto de vista da aplicação das políticas.

Mas há outra perda que convém realçar e que é a perda de postura de um país que não consegue ser verdadeiramente soberano e que como tal tem de ser “invadido” por técnicos estrangeiros que venham governar-nos. No mínimo é uma desilusão.

Confesso que, depois de tantos anos de União Europeia, nunca pensei voltar a ver o FMI no nosso país, mas conseguimos ser tão mal governados que chegámos a isto. No entanto, não quero deixar ficar a ideia que, possa estar a atirar as culpas para cima do actual governo. Bem pelo contrário, este governo, tal como todos os governos deste início do século XXI chefiados por Durão Barroso, Santana Lopes e José Sócrates, herdaram uma situação inquinada e um país a afundar-se, deslizando irreversivelmente num plano negativamente inclinado.

Então impõe-se perguntar quem fez todo este mal a Portugal?

Entendo que, foram os governos que tiveram ventos favoráveis, com boas condições económicas, petróleo geralmente barato, crescimento económico mundial e em especial dos nossos principais parceiros comerciais e fundos comunitários de muitos milhões à disposição e que apenas conseguiram criar um “monstro”, que são os verdadeiros culpados. Os quinze anos entre 1987 e 2002 criaram as condições económicas ideais para a falência do país. Relembro os nomes dos primeiros-ministros desses anos extraordinários: Professor Cavaco Silva e Eng. António Guterres. Para memória futura…

José Paulo Oliveira